sexta-feira, 13 de abril de 2012

Um amor feito de atos - A Relevância Social do Evangelho



1. O exercício da caridade

Na última meditação, aprendemos de Paulo que o amor cristão deve ser sincero; agora, aprendamos de João que ele deve ser também efetivo: "Se alguém possui bens deste mundo e vê seu irmão em necessidade, mas não tem piedade dele, como poderia o amor de Deus estar nele? Filhinhos, não amemos de palavra nem de língua, mas com obras e de verdade" (1Jo 3, 16-18). Encontramos o mesmo ensinamento, mais plástico, na Carta de Tiago: "Se um irmão ou irmã não têm roupa nem comida, e um de vós lhes dizeis ‘Ide em paz, aquecei-vos e saciai-vos’, mas não lhes dais o necessário ao corpo, de que adianta?" (Tg 2, 16).

Na comunidade primitiva de Jerusalém, esta exigência se traduz na partilha. Dizem que os primeiros cristãos "vendiam suas propriedades e bens e os dividiam com todos, conforme a necessidade de cada um" (At 2,45). Mas o que os movia não era um ideal de pobreza, e sim de caridade. O fim não era serem todos pobres, mas que não houvesse entre eles nenhum necessitado (At 4,34). A necessidade de traduzir o amor em gestos concretos de caridade também não é estranha ao apóstolo Paulo, que, como vimos, insiste tanto no amor do coração. Prova disso é a importância que ele dá às coletas em favor dos pobres, a que dedica dois capítulos inteiros da Segunda Carta aos Coríntios (cf. 2Cor 8-9).

A Igreja apostólica não faz mais do que imitar o ensinamento e o exemplo do Mestre, cuja compaixão pelos pobres, doentes e famintos nunca ficava no sentimento oco, mas se traduzia sempre em ajuda concreta. Aliás, ele fez desses atos concretos de caridade a matéria do juízo final (cf. Mt 25).

Os historiadores da Igreja vêem neste espírito de solidariedade fraterna um dos fatores principais da "missão e propagação do cristianismo nos primeiros três séculos" [1]. Isto se traduziu em iniciativas – e mais tarde em instituições – para o cuidado de doentes, apoio a viúvas e órfãos, ajuda aos presos, alimento para os pobres, assistência para os forasteiros... Este aspecto da caridade cristã, na história e hoje, é tratado na segunda parte da encíclica de Bento XVI "Deus caritas est" e, de modo permanente, pelo Pontifício Conselho "Cor Unum".


2. O emergir do problema social

A época moderna, em especial o século XIX, sofreu uma reviravolta na abordagem do problema social. Não basta responder caso por caso à necessidade dos pobres e dos oprimidos; é preciso agir sobre as estruturas que criam os pobres e os oprimidos. Que esse terreno é novo, pelo menos na tematização, fica claro pelo próprio título e pelas primeiras palavras da encíclica de Leão XIII "Rerum novarum", de 15 de maio de 1891: é com ela que a Igreja entra no debate como protagonista. Vale a pena reler o princípio da encíclica:

"A sede de inovações, que há muito tempo se apoderou das sociedades e as tem numa agitação febril, devia, tarde ou cedo, passar das regiões da política para a esfera vizinha da economia social. Efetivamente, os progressos incessantes da indústria, os novos caminhos em que entraram as artes, a alteração das relações entre os operários e os patrões, a influência da riqueza nas mãos dum pequeno número ao lado da indigência da multidão, a opinião enfim mais avantajada que os operários formam de si mesmos e a sua união mais compacta, tudo isto, sem falar da corrupção dos costumes, deu em resultado final um temível conflito".

É nesta perspectiva que se posiciona a segunda encíclica do Santo Padre Bento XVI sobre a caridade: "Caritas in veritate". Eu não tenho nenhuma competência nesta matéria e, portanto, me abstenho de entrar no mérito dos conteúdos dela e das outras encíclicas sociais. O que eu gostaria de fazer aqui é ilustrar o substrato histórico e teológico, o "Sitz im Leben" desta nova forma do magistério eclesiástico: como e por que começaram as encíclicas sociais e como e por que novas encíclicas sociais são escritas periodicamente. Isto pode nos ajudar a descobrir coisas novas sobre o evangelho e sobre o amor cristão. São Gregório Magno diz que "a Escritura cresce com aqueles que a lêem" (cum legentibus crescit) [2], ou seja, ela sempre mostra novos significados conforme as perguntas que lhe fazemos, e isto se mostra particularmente verdadeiro neste âmbito do social.

A minha reconstituição será feita com breves pinceladas, como não poderia deixar de ser nestes poucos minutos, mas as sínteses e os resumos também têm a sua utilidade, ainda mais quando não temos a possibilidade de aprofundar pessoalmente em certos problemas, por causa da diversidade dos nossos compromissos.

Na época em que Leão XIII escreveu a sua encíclica social, havia três orientações dominantes quanto ao significado social do evangelho. A mais em voga era a interpretação socialista e marxista. Marx não tinha se ocupado com o cristianismo desse ponto de vista, mas alguns seguidores imediatos dele (Engels de um ponto de vista ainda ideológico e Karl Kautsky de um ponto de vista histórico) abordaram o problema, no âmbito da sua pesquisa sobre os "precursores do socialismo moderno".

As conclusões deles são as seguintes. O evangelho foi um grande anúncio social aos pobres; todo o resto, o seu revestimento religioso, é secundário, é uma "superestrutura". Jesus foi um grande reformador social, que quis remir as classes inferiores da miséria. O seu programa prevê a igualdade de todos os homens, o suprimento da necessidade econômica. A primitiva comunidade cristã viveu um comunismo ante litteram, de caráter ainda ingênuo e não científico: um comunismo mais no consumo do que na produção dos bens.

Depois, a historiografia soviética do regime rejeitaria essa interpretação, que, segundo eles, concedia papel demais ao cristianismo. Nos anos 60 do século passado, a interpretação revolucionária reapareceu, desta vez na política, com a tese de um Jesus chefe de um movimento "zelote" de libertação, mas teve vida curta nos nossos campos (o Santo Padre recorda esta interpretação no seu último livro sobre Jesus, falando da purificação do templo).

Quem chega a uma conclusão análoga à marxista, mas dentro de uma proposta muito diferente, é Nietzsche. Ele concorda com os marxistas quanto ao cristianismo ter nascido como um movimento das classes inferiores, mas o parecer dele é todo negativo: o evangelho encarna o "ressentimento" dos fracos contra as naturezas vigorosas; é a "inversão de todos os valores", um cortar as asas do decolar humano rumo à grandeza. Tudo o que Jesus se propusera seria difundir no mundo, em oposição à miséria terrena, um "reino dos céus".

Estas duas escolas – concordantes no modo de ver, mas opostas na conclusão –  se vêem acompanhadas por uma terceira, que podemos chamar de conservadora. Jesus não teria se interessado pelos problemas sociais e econômicos; atribuir-lhe tais interesses seria diminuí-lo, mundanizá-lo. Ele citou o mundo do trabalho e se compadeceu de pobres e miseráveis, mas nunca visou a melhoria das condições da vida terrena.


3. A reflexão teológica: teologia liberal e dialética

Estas são as ideias dominantes na cultura daquele tempo, quando começa uma reflexão teológica por parte das igrejas cristãs. Ela também se desenvolve em três fases e apresenta três orientações: a da teologia liberal, a da teologia dialética e a do magistério católico.

A primeira resposta é a da teologia liberal do fim do século XIX e começo do XX, representada principalmente por Ernst Troeltsch e Adolph von Harnack. Vale a pena parar um pouco para olhar as ideias desta escola, porque muitas das suas conclusões, pelo menos neste campo específico, são as mesmas do magistério social da Igreja, embora por outros caminhos. Elas são ainda hoje atuais e compartilháveis.

Troeltsch contesta o ponto de partida da interpretação marxista, segundo a qual o fator religioso é sempre secundário em comparação com o fator econômico, uma simples superestrutura. Estudando a ética protestante e o início do capitalismo, ele demonstra que, se o fator econômico influi no religioso, também é verdade o contrário. São dois âmbitos diferentes, não subordinados um ao outro.

Harnack, por sua vez, observa que o evangelho não nos dá um programa social voltado a combater e abolir a necessidade e a pobreza, não dá pareceres sobre a organização do trabalho e sobre outros aspectos importantes hoje, como a arte e a ciência. Mas acrescenta que é muito melhor assim. Teria sido péssimo se o evangelho tivesse ditado regras sobre as relações entre as classes, as condições de trabalho, e assim por diante. Para serem concretas, essas regras teriam nascido fatalmente ligadas às condições do mundo da época (como é o caso de muitas instituições e preceitos sociais do Antigo Testamento), e, portanto, ficariam logo anacrônicas e inúteis para o evangelho. A história, também a do cristianismo, mostra como é perigoso ligar-se a contextos sociais e instituições políticas de uma certa época e como é difícil desamarrar-se deles depois.

"Mas", prossegue Harnack, "não há outro exemplo de religião surgida com verbo social tão poderoso como a religião do evangelho. E por quê? Porque as palavras ‘ama o próximo como a ti mesmo’ são aqui realmente levadas a sério, porque com estas palavras Jesus iluminou toda a realidade da vida, todo o mundo da fome e da miséria... Substitui um socialismo fundado em interesses antagônicos por um socialismo que se fundamenta na consciência de uma unidade espiritual... A máxima do ‘livre jogo das forças’, do ‘viver e deixar viver’ – seria melhor dizer ‘viver e deixar morrer’ – é abertamente oposta ao evangelho" [3].

A posição da mensagem evangélica se opõe, então, tanto à redução do evangelho a proclamação social e luta de classes quanto à posição do liberalismo econômico do livre jogo das forças. O teólogo evangélico se deixa conduzir por um certo entusiasmo: "Um espetáculo novo", escreve ele, "se apresentava ao mundo: até então, a religião se adaptava facilmente ao statu quo do mundo, ou se acampava nas nuvens, em direta oposição a tudo. Mas agora ela tinha um novo dever a cumprir: combater a necessidade e a miséria desta terra, e, similarmente, a terrena prosperidade, reduzindo misérias e necessidades de todo tipo; elevar a vista ao céu na coragem que vem da fé, e trabalhar com o coração, com as mãos e com a voz pelos irmãos desta terra" [4].

O que a teologia dialética, sucessora da liberal após a primeira guerra mundial, reprova nesta visão liberal? Antes de tudo, o seu ponto de partida, a sua ideia do reino dos céus. Para os liberais, isso é de natureza essencialmente ética; um sublime ideal moral, que tem como fundamentos a paternidade de Deus e o valor infinito de toda alma; para os teólogos dialéticos (K. Barth, R. Bultmann, M. Dibelius), isso é de natureza escatológica; é uma intervenção soberana e gratuita de Deus, que não se propõe mudar o mundo, mas denunciar a sua situação atual ("crítica radical"), anunciar o seu fim iminente ("escatologia consequente") e lançar o apelo à conversão ("imperativo radical").

O caráter de atualidade do evangelho consiste no fato de que "tudo o que é exigido não é exigido em geral, por todos e para todos os tempos, mas por este homem e talvez só por ele, neste momento e talvez só para este momento; e é exigido não com base num princípio ético, mas por causa da situação de decisões em que Deus colocou esse homem, e talvez somente a ele, no aqui e agora" [5]. A influência do evangelho no social se dá no singular, no indivíduo, não através da comunidade ou da instituição eclesial.

A situação enfrentada hoje por quem acredita em Cristo é a mesma que foi criada pela revolução industrial, com as mudanças que ela trouxe ao ritmo da vida e do trabalho, com o consequente desprezo pela pessoa humana. Diante dela, não há "soluções cristãs"; cada crente é chamado a responder com a própria responsabilidade, em obediência ao apelo que Deus lhe faz na situação concreta em que ele vive, mesmo se o critério de fundo é o preceito do amor ao próximo. O cristão não deve se resignar com pessimismo às situações, mas também não deve se iludir com a mudança do mundo.

Pode-se falar ainda, nesta perspectiva, de uma relevância social do evangelho? Sim, mas só de método, não de conteúdo. Explico: esta visão reduz o significado social do evangelho a um significado "formal", excluindo todo significado "real" ou de conteúdo. Em outras palavras, o evangelho apresenta o método, o impulso, para um correto posicionamento e um reto agir cristão no social.

Este é o ponto fraco desta visão. Por que atribuir aos relatos e às parábolas evangélicas um significado somente formal e não também um significado real e exemplar? É lícito, por exemplo, na parábola do rico epulão, ignorarmos as indicações concretas e claras sobre o uso e abuso da riqueza, o luxo, o desprezo pelo pobre, para nos atermos apenas ao "imperativo do agora" que ressoa na parábola? Não é estranho que Jesus pretendesse apenas dizer que ali, diante dele, era preciso decidir-se por Deus e, para dizer isso, ele tivesse construído um relato tão complexo e detalhado que, em vez de concentrar, só desviaria a atenção do centro de interesse?

Uma solução assim, que dissolve a mensagem de Cristo, parte da premissa errada de que não existem exigências comuns na palavra de Deus, que se impõem ao rico de hoje como se impunham ao rico – e ao pobre – do tempo de Jesus. Como se a decisão pedida por Deus fosse algo vazio e abstrato, um mero decidir-se, e não um decidir-se a respeito de algo. Todas as parábolas de fundo social são definidas como "parábolas do reino" e assim o seu conteúdo é achatado num único significado, o escatológico.


4. A doutrina social da Igreja

A doutrina social da Igreja católica, como sempre, procura mais a síntese do que a contraposição, o método do et-et em vez do aut-aut. Ela mantém a "dupla iluminação" do evangelho: a escatológica e a moral. Em outras palavras: concorda com a teologia dialética no fato de o reino de Deus pregado por Cristo não ser de natureza essencialmente ética, isto é, um ideal inspirado na validade universal e na perfeição dos seus princípios, mas sim uma iniciativa nova e gratuita de Deus, que, com Cristo, irrompe do alto.

Ela se afasta, porém, da visão dialética no modo de conceber a relação entre esse reino de Deus e o mundo. Entre eles não existe só oposição e inconciliabilidade, como não existe oposição entre a obra da criação e a da redenção, nem entre ágape e eros. Jesus comparou o reino de Deus com o fermento na massa, com a semente lançada à terra, com o sal que dá sabor; ele diz que não veio julgar o mundo, mas salvá-lo. Isto nos mostra o influxo do evangelho no social a partir de uma perspectiva diferente e muito mais positiva.

Apesar de todas as diferenças de posicionamento, há conclusões comuns que emergem de toda a reflexão teológica sobre a relação entre o evangelho e o social. Podemos resumi-las assim: o evangelho não aponta soluções diretamente voltadas aos problemas sociais (vimos que seria péssimo se tivesse apontado); mas ele contém princípios que se prestam a elaborar respostas concretas para diversas situações históricas. Já que as situações e problemas sociais mudam de época em época, o cristão é chamado cada vez a encarnar os princípios do evangelho na situação do momento.

A contribuição das encíclicas sociais dos papas é precisamente esta. Por isso elas se subseguem, cada uma retomando o discurso do ponto até o qual chegaram as precedentes (no caso da encíclica de Bento XVI, o ponto é retomado da "Populorum progressio", de Paulo VI), e o atualizam com base nas novas instâncias da sociedade (neste caso, o fenômeno da globalização) e também com base numa interrogação sempre nova da palavra de Deus.

O título da encíclica social de Bento XVI, "Caritas in veritate", indica quais são, aqui, os fundamentos bíblicos sobre os quais se pretende amparar o discurso sobre o significado social do evangelho: a caridade e a verdade. "A verdade", escreve, "preserva e exprime a força de libertação da caridade nas vicissitudes sempre novas da história […]. Sem a verdade, sem confiança e amor à verdade, não há consciência nem responsabilidade social, e o agir social se deturpa em favor de interesses privados e lógicas de poder, com efeitos desagregadores na sociedade, ainda mais numa sociedade em vias de globalização, em momentos difíceis como os atuais" [6].

A diversidade não está só nas coisas ditas e nas soluções propostas, mas também no modelo adotado e na autoridade da proposta. Consiste, em outras palavras, na passagem da livre discussão teológica para o magistério, e de uma intervenção social de natureza exclusivamente "individual" (coma a proposta pela teologia dialética) para uma intervenção comunitária, como Igreja e não só como indivíduos.


5. A nossa parte

Encerremos com um ponto prático que interpela todos nós, inclusive os que são chamados a agir diretamente no âmbito social. Vimos a ideia que Nietzsche tinha da relevância social do evangelho. O evangelho, para Nietzsche, era o fruto de uma revolução, mas uma revolução negativa, uma involução em comparação com o legado grego; era a revanche dos fracos contra os fortes. Um dos pontos que Nietzsche mais ressaltava era a preferência dada ao servir no lugar do dominar, ao tornar-se pequenos em vez de querer emergir e aspirar a coisas grandes.

Ele acusava o cristianismo por um dos mais belos dons que ele deu ao mundo. Um dos princípios com que o evangelho mais beneficamente influi no social é justamente o do serviço. Não é à toa que ele ocupa um lugar importante na doutrina social da Igreja. Jesus fez do serviço um dos pontos cardeais do seu ensinamento (Lc 22,25); ele mesmo diz que veio para servir e não para ser servido (Mc 10,45).

O serviço é um princípio universal; ele se aplica a todos os aspectos da vida: o estado deveria estar a serviço dos cidadãos, o político a serviço do estado, o médico a serviço dos doentes, o professor a serviço dos alunos… Mas ele se aplica de modo todo especial aos servidores da Igreja. O serviço não é, em si, uma virtude (em nenhum catálogo das virtudes ou dos frutos do Espírito se menciona a diakonia), mas brota de diversas virtudes, em particular da humildade e da caridade. É um modo de manifestação daquele amor que "não procura só o próprio interesse, mas também o dos outros" (Fil 2,4); que doa sem procurar contrapartida.

O serviço evangélico, oposto ao do mundo, não é prestado pelo inferior, pelo necessitado, mas pelo superior, aquele que ocupa os postos mais altos. Jesus diz que, na sua Igreja, é principalmente "quem governa" que deve ser "como aquele que serve" (Lc 22, 26); o primeiro deve ser "o servo de todos" (Mc 10,44). Estamos nos preparando para a beatificação de João Paulo II. No seu livro Dom e mistério, ele expressa com uma imagem forte este significado da autoridade na Igreja. Trata-se de versos que ele compôs em Roma no tempo do concílio:

"És tu, Pedro. Queres ser aqui o Pavimento
Sobre o qual os outros caminham...
Para chegar lá onde lhes guias os passos;
como a rocha sustenta o casco de um rebanho".
Para encerrar, escutemos as palavras que Jesus disse aos discípulos logo após lhes lavar os pés como dirigidas a nós, aqui e agora: "Entendeis o que eu vos fiz? Vós me chamais Mestre e Senhor, e dizeis bem, pois eu sou. Se eu, que sou o Senhor e o Mestre, lavei os vossos pés, deveis também vós lavar-vos os pés uns aos outros. Eu vos dei o exemplo, para fazerdes como eu fiz"  (Jo 13 12-15).

quinta-feira, 1 de março de 2012

Rumo a uma nova aurora


Para o povo de Deus começa o caminho que o conduzirá rumo à "nova aurora criada pelo próprio Deus", afirmou o Papa na manhã de 22 de Fevereiro, quarta-feira de Cinzas, dirigindo-se aos fiéis presentes na sala Paulo VI para a audiência geral.
Prezados irmãos e irmãs

Nesta Catequese, gostaria de meditar brevemente sobre o tempo da Quaresma, que começa hoje com a Liturgia de Quarta-Feira de Cinzas. Trata-se de um itinerário de quarenta dias que nos levará ao Tríduo pascal, memória da paixão, morte e ressurreição do Senhor, o coração do mistério da nossa salvação. Nos primeiros séculos de vida da Igreja, este era o tempo em que quantos tinham ouvido e acolhido o anúncio de Cristo começavam, passo a passo, o seu caminho de fé e de conversão para receber o sacramento do Baptismo. Tratava-se de uma aproximação ao Deus vivo e de uma iniciação na fé a realizar gradualmente, mediante uma mudança interior da parte dos catecúmenos, ou seja, de quantos desejavam tornar-se cristãos e ser incorporados a Cristo e à Igreja. Sucessivamente, também os penitentes e depois todos os fiéis foram convidados a viver este itinerário de renovação espiritual, para conformar cada vez mais a própria existência com Cristo. A participação de toda a comunidade nas várias fases do percurso quaresmal ressalta uma dimensão importante da espiritualidade cristã: é a redenção não de alguns, mas de todos, a estar disponível graças à morte e ressurreição de Cristo. Portanto, quer os que percorriam um caminho de fé como catecúmenos para receber o Baptismo, quer os que se tinham afastado de Deus e da comunidade da fé e procuravam a reconciliação, quer os que viviam a fé em plena comunhão com a Igreja, todos juntos sabiam que o tempo que precede a Páscoa é um tempo de metanoia, ou seja de mudança interior, de arrependimento; o tempo que identifica a nossa vida humana e toda a nossa história como um processo de conversão que agora se põe em movimento para encontrar o Senhor no fim dos tempos. Com uma expressão que se tornou típica na Liturgia, a Igreja denomina o período que hoje começamos "Quadragesima", ou seja o tempo de quarenta dias e, com uma referência clara à Sagrada Escritura, introduz-nos assim num contexto espiritual específico. Com efeito, quarenta é o número simbólico com que o Antigo e o Novo Testamento representam os momentos salientes da experiência da fé do Povo de Deus. Trata-se de um número que exprime o tempo da expectativa, da purificação, do regresso ao Senhor e da consciência de que Deus é fiel às suas promessas. Este número não representa um tempo cronológico exacto, cadenciado pela soma dos dias. Aliás, indica uma perseverança paciente, uma prova longa, um período suficiente para ver as obras de Deus, um tempo dentro do qual se decide assumir as próprias responsabilidades sem ulteriores demoras. É o tempo das decisões maduras.
O número quarenta aparece antes de tudo na história de Noé.
Por causa do dilúvio, este homem justo transcorre quarenta dias e quarenta noites na arca, juntamente com a sua família e com os animais que Deus lhe tinha dito que levasse consigo. E espera outros quarenta dias, depois do dilúvio, antes de tocar a terra firme, salva da destruição (cf. Gn 7, 4.12; 8, 6). Depois, a próxima etapa: Moisés permanece no monte Sinai, na presença do Senhor, quarenta dias e quarenta noites, para receber a Lei. Durante todo este tempo, jejua (cf. Êx 24, 18). Quarenta são os anos de viagem do povo judeu do Egipto para a Terra prometida, tempo propício para experimentar a fidelidade de Deus. "Recorda-te de toda essa travessia de quarenta anos que o Senhor, teu Deus, te fez sofrer no deserto... As tuas vestes não envelheceram sobre ti, e os teus pés não se magoaram durante estes quarenta anos", diz Moisés no Deuteronómio, no final destes quarenta anos de migração (Dt 8, 2.4). Os anos de paz de que Israel goza sob os Juízes são quarenta (cf. Jz 3, 11.30) mas, transcorrido este tempo, começa o esquecimento dos dons de Deus e o retorno ao pecado. O profeta Elias emprega quarenta dias para chegar ao Horeb, o monte onde se encontra com Deus (cf. 1 Rs 19, 8). Quarenta são os dias durante os quais os cidadãos de Nínive fazem penitência para obter o perdão de Deus (cf. Gn 3, 4). Quarenta são também os anos dos reinos de Saul (cf. Act 13, 21), de David (cf. 2 Sm 5, 4-5) e de Salomão (cf. 1 Rs 11, 41), os três primeiros reis de Israel. Também os Salmos apresentam o significado bíblico dos quarenta anos, como por exemplo o Salmo 95, do qual ouvimos um trecho: "Se ouvísseis hoje a sua voz: "Não endureçais os vossos corações como em Meribá, como no dia de Massá no deserto, quando os vossos pais me provocaram e me puseram à prova, apesar de terem visto as minhas obras. Durante quarenta anos essa geração desgostou-me, e Eu disse: é um povo de coração obstinado, que não compreendeu os meus caminhos!"" (vv. 7c-10). No Novo Testamento Jesus, antes de começar a vida pública, retira-se no deserto por quarenta dias, sem comer nem beber (cf. Mt 4, 2): alimenta-se da Palavra de Deus, que utiliza como arma para derrotar o diabo. As tentações de Jesus evocam as que o povo judeu enfrentou no deserto, mas que não soube vencer. Quarenta são os dias durante os quais Jesus ressuscitado instrui os seus, antes de subir ao Céu e enviar o Espírito Santo (cf. Act 1, 3).
Com este recorrente número quarenta é descrito um contexto espiritual que permanece actual e válido, e a Igreja, precisamente mediante os dias do período quaresmal, tenciona conservar o seu valor perdurável e fazer com que a sua eficácia esteja presente. A liturgia cristã da Quaresma tem a finalidade de favorecer um caminho de renovação espiritual, à luz desta longa experiência bíblica e sobretudo para aprender a imitar Jesus, que nos quarenta dias transcorridos no deserto ensinou a vencer a tentação com a Palavra de Deus. Os quarenta anos da peregrinação de Israel no deserto apresentam atitudes e situações ambivalentes. Por um lado, eles são a estação do primeiro amor com Deus e entre Deus e o seu povo, quando Ele falava ao seu coração, indicando-lhe continuamente o caminho a percorrer. Deus tinha, por assim dizer, feito morada no meio de Israel, precedia-o dentro de uma nuvem ou de uma coluna de fogo, providenciava cada dia à sua alimentação, fazendo descer o maná e brotar a água da rocha. Portanto, os anos que Israel passou no deserto podem ser vistos como o tempo da eleição especial de Deus e da adesão a Ele por parte do povo: o tempo do primeiro amor. Por outro lado, a Bíblia mostra também mais uma imagem da peregrinação de Israel no deserto: é inclusive o tempo das tentações e dos maiores perigos, quando Israel murmura contra o seu Deus e gostaria de voltar ao paganismo e constrói para si os próprios ídolos, porque sente a exigência de venerar um Deus mais próximo e tangível. É também o tempo da revolta contra o Deus grande e invisível.
Esta ambivalência, tempo da proximidade especial de Deus - tempo do primeiro amor - e tempo da tentação - tentação da volta ao paganismo - encontramo-la de modo surpreendente no caminho terreno de Jesus, naturalmente sem qualquer compromisso com o pecado. Depois do baptismo de penitência no Jordão, no qual assume sobre Si o destino do Servo de Deus que renuncia a Si mesmo e vive pelos outros e insere-se entre os pecadores para assumir sobre si o pecado do mundo, Jesus vai ao deserto para aí permanecer por quarenta dias em profunda união com o Pai, repetindo assim a história de Israel, todos aqueles ritmos de quarenta dias ou anos aos quais me referi. Esta dinâmica é uma constante na vida terrena de Jesus, que procura sempre momentos de solidão para rezar ao seu Pai e permanecer em íntima comunhão, em íntima solidão com Ele, em comunhão exclusiva com Ele, e depois voltar para o meio do povo. Mas neste tempo de "deserto" e de encontro especial com o Pai, Jesus encontra-se exposto ao perigo e é acometido pela tentação e pela sedução do Maligno, que lhe propõe um caminho messiânico diferente, distante do desígnio de Deus, porque passa através do poder, do sucesso e do domínio, e não através do dom total na Cruz. Eis a alternativa: um messianismo de poder, de sucesso, ou um messianismo de amor, de doação de si.
Esta situação de ambivalência descreve inclusive a condição da Igreja a caminho no "deserto" do mundo e da história. Neste "deserto" nós, crentes, temos certamente a oportunidade de fazer uma profunda experiência de Deus, que fortalece o espírito, confirma a fé, alimenta a esperança e anima a caridade; uma experiência que nos torna partícipes da vitória de Cristo sobre o pecado e sobre a morte mediante o Sacrifício de amor na Cruz. Mas o "deserto" é também o aspecto negativo da realidade que nos circunda: a aridez, a pobreza de palavras de vida e de valores, o secularismo e a cultura materialista, que fecham a pessoa no horizonte mundano da existência, subtraindo-o a qualquer referência à transcendência. Este é também o ambiente em que o céu acima de nós está obscuro, porque coberto com as nuvens do egoísmo, da incompreensão e do engano. Não obstante isto, também para a Igreja contemporânea o tempo do deserto pode transformar-se em tempo de graça, porque temos a certeza de que até da rocha mais dura Deus pode fazer brotar a água viva que sacia e revigora. Caros irmãos e irmãs, nestes quarenta dias que nos conduzirão à Páscoa de Ressurreição podemos encontrar nova coragem para aceitar com paciência e com fé todas as situações de dificuldade, de aflição e de prova, na consciência de que das trevas o Senhor fará nascer o novo dia. E se formos fiéis a Jesus, seguindo-O no caminho da Cruz, o mundo luminoso de Deus, o mundo da luz, da verdade e da alegria ser-nos-á como que restituído: será a nova aurora criada pelo próprio Deus. Bom caminho de Quaresma para todos vós! No final da audiência geral, o Sumo Pontífice dirigiu-se aos fiéis presentes, pronunciando em português as seguintes palavras.
A minha saudação amiga para o grupo escolar da Lourinhã e todos os peregrinos presentes de língua portuguesa. A Virgem Maria tome cada um pela mão e vos acompanhe durante os próximos quarenta dias que servem para vos conformar ao Senhor ressuscitado. A todos desejo uma boa e frutuosa Quaresma! 

sábado, 25 de fevereiro de 2012

Sempre nas mãos de Deus

A oração de Jesus na iminência da morte foi o tema de reflexão proposta pelo Papa na manhã de quarta-feira 15 de Fevereiro, aos fiéis presentes na audiência geral.
Queridos irmãos e irmãs

Na nossa escola de oração, na quarta-feira passada falei sobre a oração de Jesus na Cruz, tirada do Salmo 22: "Meu Deus, meu Deus, por que me abandonaste?". Agora, gostaria de continuar a meditação sobre a oração de Jesus na Cruz, na iminência da morte, hoje pretendo reflectir sobre a narração que encontramos no Evangelho de são Lucas. O evangelista transmitiu-nos três palavras de Jesus na Cruz, duas das quais - e primeira e a terceira - são preces dirigidas explicitamente ao Pai. A segunda, ao contrário, é constituída pela promessa feita ao chamado bom ladrão, crucificado com Ele; de facto, respondendo ao pedido do ladrão, Jesus tranquiliza-o: "Em verdade te digo, hoje estarás comigo no Paraíso" (Lc 23, 43). Assim, na narração de Lucas estão entrelaçadas sugestivamente as duas orações que Jesus em agonia dirige ao Pai e o acolhimento da súplica que lhe é dirigida pelo pecador arrependido. Jesus invoca o Pai e ao mesmo tempo ouve o pedido deste homem que muitas vezes é chamado latro poenitens, "o ladrão arrependido".
Meditemos sobre estas três preces de Jesus. Ele pronuncia a primeira imediatamente depois de ter sido pregado na Cruz, enquanto os soldados dividem entre si as suas vestes, como triste recompensa do seu serviço. Num certo sentido, é com este gesto que se encerra o processo da crucifixão. São Lucas escreve: "Quando chegaram ao lugar chamado Calvário crucificaram-no, a Ele e aos malfeitores, um à direita e outro à esquerda. Jesus dizia: "Perdoa-lhes, Pai, porque não sabem o que fazem!". Depois, lançaram a sorte para dividirem as suas vestes" (23, 33-34). A primeira oração que Jesus dirige ao Pai é de intercessão: pede o perdão para os seus algozes. Com isto, Jesus cumpre pessoalmente quanto tinha ensinado no sermão da montanha, quando disse: "Digo-vos, porém, a vós que me escutais: amai os vossos inimigos, fazei o bem a quantos vos odeiam" (Lc 6, 27), e também tinha prometido àqueles que sabem perdoar: "A vossa recompensa será grande e sereis filhos do Altíssimo" (v. 35). Agora, da Cruz, Ele não só perdoa os seus algozes, mas dirige-se directamente ao Pai, intercedendo a favor deles.
Esta atitude de Jesus encontra um "imitador" comovedor na narração da lapidação de santo Estêvão, primeiro mártir. Com efeito Estêvão, já próximo do fim, "de joelhos, bradou com voz forte: "Senhor, não lhes atribuas este pecado". Dito isto, adormeceu" (Act 7, 60): esta foi a sua última palavra. É significativo o confronto entre a prece de perdão de Jesus e a do protomártir. Santo Estêvão dirige-se ao Senhor ressuscitado e pede que a sua morte - um gesto definido claramente com a expressão "este pecado" - não seja atribuída aos seus lapidadores. Na Cruz, Jesus dirige-se ao Pai e não pede só o perdão para os seus crucificadores, mas oferece também uma leitura de quanto está a acontecer. Com efeito, segundo as suas palavras, os homens que O crucificam "não sabem o que fazem" (Lc 23, 34). Ou seja, Ele põe a ignorância, o "não saber", como motivo do pedido de perdão ao Pai, porque esta ignorância deixa aberto o caminho para a conversão, como de resto acontece nas palavras que pronunciará o centurião quando Jesus morre: "Verdadeiramente, este homem era justo" (v. 47), era o Filho de Deus. "Permanece uma consolação para todos os tempos e para todos os homens o facto de que o Senhor, quer a respeito daqueles que realmente não sabiam - os algozes - quer de quantos sabiam e O condenaram, põe a ignorância como motivo do pedido de perdão - vê-o como porta que pode abrir-nos à conversão" (Jesus de Nazaré, II, 233).
A segunda palavra de Jesus na Cruz, citada por são Lucas, é de esperança, é a resposta ao pedido de um dos dois homens crucificados com Ele. Diante de Jesus, o bom ladrão toma consciência de si mesmo e arrepende-se, compreende que está diante do Filho de Deus, que torna visível a Face do próprio Deus, e pede-lhe: "Jesus, lembra-te de mim quando estiveres no teu reino" (v. 42). A resposta do Senhor a este pedido vai muito além da súplica; com efeito, Ele diz: "Em verdade te digo, hoje estarás comigo no Paraíso" (v. 43). Jesus está consciente de entrar directamente em comunhão com o Pai e de reabrir ao homem o caminho para o Paraíso de Deus. Assim mediante esta resposta dá a esperança firme de que a bondade de Deus pode tocar-nos até no último instante da vida, e a prece sincera, mesmo após uma vida errada, encontra os braços abertos do Pai bom, que espera a vinda do filho.
Mas meditemos sobre as últimas palavras de Jesus moribundo. O evangelista narra: "Por volta do meio-dia, as trevas cobriram toda a terra, até às três horas da tarde. O sol eclipsou-se e o véu do templo rasgou-se ao meio. Dando um forte grito, Jesus exclamou: "Pai, nas tuas mãos entrego o meu espírito!". Dito isto, expirou" (vv. 44-46). Alguns aspectos desta narração são diferentes em relação ao contexto oferecido em Marcos e Mateus. As três horas de escuridão em Marcos não são descritas, enquanto em Mateus são ligadas a uma série de vários acontecimentos apocalípticos, como o tremor de terra, a abertura dos sepulcros e os mortos que ressuscitam (cf. Mt 27, 51-53). Em Lucas, as horas de escuridão têm a sua causa no eclipsar-se do sol, mas nesse momento verifica-se inclusive a laceração do véu do templo. Deste modo, a narração lucana apresenta dois sinais, de certo modo paralelos, no céu e no templo. O céu perde a sua luz, a terra desaba, enquanto no templo, lugar da presença de Deus, se rasga o véu que protege o santuário. A morte de Jesus caracteriza-se explicitamente como evento cósmico e litúrgico; em especial, marca o início de um novo culto, num templo não construído por homens, porque é o Corpo do próprio Jesus, morto e ressuscitado, que congrega os povos, unindo-os no Sacramento do seu Corpo e Sangue.
A prece de Jesus neste momento de sofrimento - "Pai, nas tuas mãos entrego o meu espírito" - é um brado forte de confiança extrema e total em Deus. Tal oração expressa a plena consciência de não estar abandonado. A invocação inicial - "Pai" - recorda a sua primeira declaração, quando tinha doze anos. Então, permaneceu por três dias no templo de Jerusalém, cujo véu agora se rasgou. E quando os pais lhe manifestaram a sua preocupação, respondeu: "Por que me procuráveis? Não sabíeis que devia estar em casa de meu Pai?" (Lc 2, 49). Do início ao fim, o que determina completamente o sentir de Jesus, a sua palavra, o seu gesto, é a relação singular com o Pai. Na Cruz, Ele vive plenamente no amor esta sua relação filial com Deus, que anima a sua oração.
As palavras proferidas por Jesus, após a invocação: "Pai", retomam uma expressão do Salmo 31: "Nas tuas mãos entrego o meu espírito" (Sl 31, 6). Estas palavras não são uma simples citação, mas manifestam ao contrário uma decisão firme: Jesus "entrega-se" ao Pai num gesto de abandono total. Estas palavras são uma prece de "entrega", cheia de confiança no amor de Deus. A oração de Jesus diante da morte é dramática, como o é para cada homem, mas ao mesmo tempo está imbuída da calma profunda que nasce da confiança no Pai e da vontade de se entregar totalmente a Ele. No Getsémani, quando começou a luta final e a oração mais intensa e estava para ser "entre nas mãos dos homens" (Lc 9, 44), o seu suor tornou-se "como gotas de sangue que caíam na terra" (Lc 22, 44). Mas o seu Coração obedecia totalmente à vontade do Pai, e por isso "um anjo do céu" veio confortá-lo (cf. Lc 22, 42-43). Ora, nos últimos instantes, Jesus dirige-se ao Pai, dizendo quais são realmente as mãos às quais Ele entrega toda a sua existência. Antes de partir em viagem rumo a Jerusalém, Jesus tinha insistido com os seus discípulos: "Prestai bem atenção ao que vou dizer-vos: o Filho do Homem vai ser entregue nas mãos dos homens" (Lc 9, 44). Agora que a vida está para O deixar, Ele sela na prece a última decisão: Jesus deixou-se entregar "nas mãos dos homens", mas é nas mãos do Pai que entrega o seu espírito; assim - como diz o evangelista João - tudo se cumpre, o supremo gesto de amor é levado até ao fim, ao limite e mais além.
Caros irmãos e irmãs, as palavras de Jesus na Cruz nos últimos instantes da sua vida terrena oferecem indicações exigentes para a nossa oração, mas abrem-na inclusive a uma confiança segura e a uma esperança firme. Jesus, que pede ao Pai para perdoar quantos O crucificam, convida-nos ao difícil gesto de rezar também por aqueles que são injustos para connosco, que nos prejudicaram, sabendo perdoar sempre, a fim de que a luz de Deus possa iluminar o seu coração; e convida-nos a viver, na nossa oração, a mesma atitude de misericórdia e de amor que Deus tem por nós: "Perdoai-nos as nossas ofensas, assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido", recitamos diariamente no "Pai-Nosso". Ao mesmo tempo Jesus, que na hora extrema da morte se confia totalmente nas mãos de Deus Pai, comunica-nos a certeza de que, por mais duras que sejam as provas, difíceis os problemas, pesado o sofrimento, nunca estaremos fora das mãos de Deus, das mãos que nos criaram, que nos sustêm e que nos acompanham no caminho da existência, porque guiadas por um amor infinito e fiel. Obrigado!

Por fim, o Papa ao saudar os fiéis em várias línguas disse em português.

Saúdo todos os peregrinos de língua portuguesa, nomeadamente os fiéis brasileiros vindos de Curitiba, a quem exorto a aprender do exemplo da oração de Jesus, uma oração cheia de serena confiança e firme esperança no Pai do Céu, que nunca nos abandona. Que as Suas Bênçãos sempre vos acompanhem! Ide em paz! 

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

MENSAGEM DE SUA SANTIDADE PAPA BENTO XVI PARA A QUARESMA DE 2012





MENSAGEM DE SUA SANTIDADE
PAPA BENTO XVI
PARA A QUARESMA DE 2012

A Quaresma oferece-nos a oportunidade de reflectir mais uma vez sobre o cerne da vida cristã: o amor. Com efeito este é um tempo propício para renovarmos, com a ajuda da Palavra de Deus e dos Sacramentos, o nosso caminho pessoal e comunitário de fé. Trata-se de um percurso marcado pela oração e a partilha, pelo silêncio e o jejum, com a esperança de viver a alegria pascal.
Desejo, este ano, propor alguns pensamentos inspirados num breve texto bíblico tirado daCarta aos Hebreus: «Prestemos atenção uns aos outros, para nos estimularmos ao amor e às boas obras» (10, 24). Esta frase aparece inserida numa passagem onde o escritor sagrado exorta a ter confiança em Jesus Cristo como Sumo Sacerdote, que nos obteve o perdão e o acesso a Deus. O fruto do acolhimento de Cristo é uma vida edificada segundo as três virtudes teologais: trata-se de nos aproximarmos do Senhor «com um coração sincero, com a plena segurança da fé» (v. 22), de conservarmos firmemente «a profissão da nossaesperança» (v. 23), numa solicitude constante por praticar, juntamente com os irmãos, «oamor e as boas obras» (v. 24). Na passagem em questão afirma-se também que é importante, para apoiar esta conduta evangélica, participar nos encontros litúrgicos e na oração da comunidade, com os olhos fixos na meta escatológica: a plena comunhão em Deus (v. 25). Detenho-me no versículo 24, que, em poucas palavras, oferece um ensinamento precioso e sempre actual sobre três aspectos da vida cristã: prestar atenção ao outro, a reciprocidade e a santidade pessoal.
1. «Prestemos atenção»: a responsabilidade pelo irmão.
O primeiro elemento é o convite a «prestar atenção»: o verbo grego usado é katanoein, que significa observar bem, estar atento, olhar conscienciosamente, dar-se conta de uma realidade. Encontramo-lo no Evangelho, quando Jesus convida os discípulos a «observar» as aves do céu, que não se preocupam com o alimento e todavia são objecto de solícita e cuidadosa Providência divina (cf. Lc 12, 24), e a «dar-se conta» da trave que têm na própria vista antes de reparar no argueiro que está na vista do irmão (cf. Lc 6, 41). Encontramos o referido verbo também noutro trecho da mesma Carta aos Hebreus, quando convida a «considerar Jesus» (3, 1) como o Apóstolo e o Sumo Sacerdote da nossa fé. Por conseguinte o verbo, que aparece na abertura da nossa exortação, convida a fixar o olhar no outro, a começar por Jesus, e a estar atentos uns aos outros, a não se mostrar alheio e indiferente ao destino dos irmãos. Mas, com frequência, prevalece a atitude contrária: a indiferença, o desinteresse, que nascem do egoísmo, mascarado por uma aparência de respeito pela «esfera privada». Também hoje ressoa, com vigor, a voz do Senhor que chama cada um de nós a cuidar do outro. Também hoje Deus nos pede para sermos o «guarda» dos nossos irmãos (cf. Gn 4, 9), para estabelecermos relações caracterizadas por recíproca solicitude, pela atenção ao bem do outro e a todo o seu bem. O grande mandamento do amor ao próximo exige e incita a consciência a sentir-se responsável por quem, como eu, é criatura e filho de Deus: o facto de sermos irmãos em humanidade e, em muitos casos, também na fé deve levar-nos a ver no outro um verdadeiro alter ego, infinitamente amado pelo Senhor. Se cultivarmos este olhar de fraternidade, brotarão naturalmente do nosso coração a solidariedade, a justiça, bem como a misericórdia e a compaixão. O Servo de Deus Paulo VI afirmava que o mundo actual sofre sobretudo de falta de fraternidade: «O mundo está doente. O seu mal reside mais na crise de fraternidade entre os homens e entre os povos, do que na esterilização ou no monopólio, que alguns fazem, dos recursos do universo» (Carta enc. Populorum progressio, 66).
A atenção ao outro inclui que se deseje, para ele ou para ela, o bem sob todos os seus aspectos: físico, moral e espiritual. Parece que a cultura contemporânea perdeu o sentido do bem e do mal, sendo necessário reafirmar com vigor que o bem existe e vence, porque Deus é «bom e faz o bem» (Sal 119/118, 68). O bem é aquilo que suscita, protege e promove a vida, a fraternidade e a comunhão. Assim a responsabilidade pelo próximo significa querer e favorecer o bem do outro, desejando que também ele se abra à lógica do bem; interessar-se pelo irmão quer dizer abrir os olhos às suas necessidades. A Sagrada Escritura adverte contra o perigo de ter o coração endurecido por uma espécie de «anestesia espiritual», que nos torna cegos aos sofrimentos alheios. O evangelista Lucas narra duas parábolas de Jesus, nas quais são indicados dois exemplos desta situação que se pode criar no coração do homem. Na parábola do bom Samaritano, o sacerdote e o levita, com indiferença, «passam ao largo» do homem assaltado e espancado pelos salteadores (cf. Lc 10, 30-32), e, na do rico avarento, um homem saciado de bens não se dá conta da condição do pobre Lázaro que morre de fome à sua porta (cf. Lc 16, 19). Em ambos os casos, deparamo-nos com o contrário de «prestar atenção», de olhar com amor e compaixão. O que é que impede este olhar feito de humanidade e de carinho pelo irmão? Com frequência, é a riqueza material e a saciedade, mas pode ser também o antepor a tudo os nossos interesses e preocupações próprias. Sempre devemos ser capazes de «ter misericórdia» por quem sofre; o nosso coração nunca deve estar tão absorvido pelas nossas coisas e problemas que fique surdo ao brado do pobre. Diversamente, a humildade de coração e a experiência pessoal do sofrimento podem, precisamente, revelar-se fonte de um despertar interior para a compaixão e a empatia: «O justo conhece a causa dos pobres, porém o ímpio não o compreende» (Prov29, 7). Deste modo entende-se a bem-aventurança «dos que choram» (Mt 5, 4), isto é, de quantos são capazes de sair de si mesmos porque se comoveram com o sofrimento alheio. O encontro com o outro e a abertura do coração às suas necessidades são ocasião de salvação e de bem-aventurança.
O facto de «prestar atenção» ao irmão inclui, igualmente, a solicitude pelo seu bem espiritual. E aqui desejo recordar um aspecto da vida cristã que me parece esquecido: a correcção fraterna, tendo em vista a salvação eterna. De forma geral, hoje é-se muito sensível ao tema do cuidado e do amor que visa o bem físico e material dos outros, mas quase não se fala da responsabilidade espiritual pelos irmãos. Na Igreja dos primeiros tempos não era assim, como não o é nas comunidades verdadeiramente maduras na fé, nas quais se tem a peito não só a saúde corporal do irmão, mas também a da sua alma tendo em vista o seu destino derradeiro. Lemos na Sagrada Escritura: «Repreende o sábio e ele te amará. Dá conselhos ao sábio e ele tornar-se-á ainda mais sábio, ensina o justo e ele aumentará o seu saber» (Prov 9, 8-9). O próprio Cristo manda repreender o irmão que cometeu um pecado (cf. Mt 18, 15). O verbo usado para exprimir a correcção fraterna –elenchein – é o mesmo que indica a missão profética, própria dos cristãos, de denunciar uma geração que se faz condescendente com o mal (cf. Ef 5, 11). A tradição da Igreja enumera entre as obras espirituais de misericórdia a de «corrigir os que erram». É importante recuperar esta dimensão do amor cristão. Não devemos ficar calados diante do mal. Penso aqui na atitude daqueles cristãos que preferem, por respeito humano ou mera comodidade, adequar-se à mentalidade comum em vez de alertar os próprios irmãos contra modos de pensar e agir que contradizem a verdade e não seguem o caminho do bem. Entretanto a advertência cristã nunca há-de ser animada por espírito de condenação ou censura; é sempre movida pelo amor e a misericórdia e brota duma verdadeira solicitude pelo bem do irmão. Diz o apóstolo Paulo: «Se porventura um homem for surpreendido nalguma falta, vós, que sois espirituais, corrigi essa pessoa com espírito de mansidão, e tu olha para ti próprio, não estejas também tu a ser tentado» (Gl 6, 1). Neste nosso mundo impregnado de individualismo, é necessário redescobrir a importância da correcção fraterna, para caminharmos juntos para a santidade. É que «sete vezes cai o justo» (Prov 24, 16) – diz a Escritura –, e todos nós somos frágeis e imperfeitos (cf. 1 Jo 1, 8). Por isso, é um grande serviço ajudar, e deixar-se ajudar, a ler com verdade dentro de si mesmo, para melhorar a própria vida e seguir mais rectamente o caminho do Senhor. Há sempre necessidade de um olhar que ama e corrige, que conhece e reconhece, que discerne e perdoa (cf. Lc 22, 61), como fez, e faz, Deus com cada um de nós.
2. «Uns aos outros»: o dom da reciprocidade.
O facto de sermos o «guarda» dos outros contrasta com uma mentalidade que, reduzindo a vida unicamente à dimensão terrena, deixa de a considerar na sua perspectiva escatológica e aceita qualquer opção moral em nome da liberdade individual. Uma sociedade como a actual pode tornar-se surda quer aos sofrimentos físicos, quer às exigências espirituais e morais da vida. Não deve ser assim na comunidade cristã! O apóstolo Paulo convida a procurar o que «leva à paz e à edificação mútua» (Rm 14, 19), favorecendo o «próximo no bem, em ordem à construção da comunidade» (Rm 15, 2), sem buscar «o próprio interesse, mas o do maior número, a fim de que eles sejam salvos» (1 Cor 10, 33). Esta recíproca correcção e exortação, em espírito de humildade e de amor, deve fazer parte da vida da comunidade cristã.
Os discípulos do Senhor, unidos a Cristo através da Eucaristia, vivem numa comunhão que os liga uns aos outros como membros de um só corpo. Isto significa que o outro me pertence: a sua vida, a sua salvação têm a ver com a minha vida e a minha salvação. Tocamos aqui um elemento muito profundo da comunhão: a nossa existência está ligada com a dos outros, quer no bem quer no mal; tanto o pecado como as obras de amor possuem também uma dimensão social. Na Igreja, corpo místico de Cristo, verifica-se esta reciprocidade: a comunidade não cessa de fazer penitência e implorar perdão para os pecados dos seus filhos, mas alegra-se contínua e jubilosamente também com os testemunhos de virtude e de amor que nela se manifestam. Que «os membros tenham a mesma solicitude uns para com os outros» (1 Cor 12, 25) – afirma São Paulo –, porque somos um e o mesmo corpo. O amor pelos irmãos, do qual é expressão a esmola – típica prática quaresmal, juntamente com a oração e o jejum – radica-se nesta pertença comum. Também com a preocupação concreta pelos mais pobres, pode cada cristão expressar a sua participação no único corpo que é a Igreja. E é também atenção aos outros na reciprocidade saber reconhecer o bem que o Senhor faz neles e agradecer com eles pelos prodígios da graça que Deus, bom e omnipotente, continua a realizar nos seus filhos. Quando um cristão vislumbra no outro a acção do Espírito Santo, não pode deixar de se alegrar e dar glória ao Pai celeste (cf. Mt 5, 16).
3. «Para nos estimularmos ao amor e às boas obras»: caminhar juntos na santidade.
Esta afirmação da Carta aos Hebreus (10, 24) impele-nos a considerar a vocação universal à santidade como o caminho constante na vida espiritual, a aspirar aos carismas mais elevados e a um amor cada vez mais alto e fecundo (cf. 1 Cor 12, 31 – 13, 13). A atenção recíproca tem como finalidade estimular-se, mutuamente, a um amor efectivo sempre maior, «como a luz da aurora, que cresce até ao romper do dia» (Prov 4, 18), à espera de viver o dia sem ocaso em Deus. O tempo, que nos é concedido na nossa vida, é precioso para descobrir e realizar as boas obras, no amor de Deus. Assim a própria Igreja cresce e se desenvolve para chegar à plena maturidade de Cristo (cf. Ef 4, 13). É nesta perspectiva dinâmica de crescimento que se situa a nossa exortação a estimular-nos reciprocamente para chegar à plenitude do amor e das boas obras.
Infelizmente, está sempre presente a tentação da tibieza, de sufocar o Espírito, da recusa de «pôr a render os talentos» que nos foram dados para bem nosso e dos outros (cf. Mt 25, 24-28). Todos recebemos riquezas espirituais ou materiais úteis para a realização do plano divino, para o bem da Igreja e para a nossa salvação pessoal (cf. Lc 12, 21; 1 Tm 6, 18). Os mestres espirituais lembram que, na vida de fé, quem não avança, recua. Queridos irmãos e irmãs, acolhamos o convite, sempre actual, para tendermos à «medida alta da vida cristã» (João Paulo II, Carta ap. Novo millennio ineunte, 31). A Igreja, na sua sabedoria, ao reconhecer e proclamar a bem-aventurança e a santidade de alguns cristãos exemplares, tem como finalidade também suscitar o desejo de imitar as suas virtudes. São Paulo exorta: «Adiantai-vos uns aos outros na mútua estima» (Rm 12, 10).
Que todos, à vista de um mundo que exige dos cristãos um renovado testemunho de amor e fidelidade ao Senhor, sintam a urgência de esforçar-se por adiantar no amor, no serviço e nas obras boas (cf. Heb 6, 10). Este apelo ressoa particularmente forte neste tempo santo de preparação para a Páscoa. Com votos de uma Quaresma santa e fecunda, confio-vos à intercessão da Bem-aventurada Virgem Maria e, de coração, concedo a todos a Bênção Apostólica.
Vaticano, 3 de Novembro de 2011




quinta-feira, 19 de janeiro de 2012


VATICANO, 19 Jan. 12 / 08:11 am (ACI/EWTN Noticias)

Em sua catequese da manhã de ontem o Papa Bento XVI explicou que a oração e a conversão são o caminho para obter a unidade dos cristãos, no marco da celebração até o 25 de janeiro da Semana de Oração por esta intenção.

Diante de milhares de fiéis presentes no Sala Paulo VI no Vaticano, o Santo Padre recordou que esta celebração é uma iniciativa que se realiza há mais de um século, e na qual participam cristãos de todo o mundo para invocar "o dom extraordinário pelo qual o próprio Senhor Jesus rezou durante o Última Ceia: 'Para que todos sejam um".

A Semana de Oração foi introduzida em 1908 pelo Padre Paul Wattson, fundador de uma comunidade religiosa anglicana que entrou depois na Igreja Católica. O Papa afirmou que, nesta Semana, "o impulso dado pelo Concílio Vaticano II à busca da plena comunhão entre todos os discípulos de Cristo encontra uma de suas expressões mais eficazes".

"Este encontro espiritual, que une cristãos de todas as tradições, aumenta nossa consciência sobre o fato que a unidade que buscamos não poderá acontecer somente por meio de nossos esforços, mas será sim um dom recebido do Alto, algo a se invocar sempre.".

Este ano, os textos para a Semana de Oração foram propostos por um grupo de representantes da Igreja Católica e do Conselho Ecumênico Polonês. Este último sugeriu o tema: "Todos seremos transformados pela vitória de nosso Senhor Jesus Cristo".

A história da Polônia está marcada por invasões e derrotas, pela luta constante contra a opressão e a favor da liberdade; isso induziu ao grupo ecumênico polonês a refletir sobre o verdadeiro significado das palavras "vitória" e "derrota".

“A respeito da “vitória, que em alguns termos significa triunfar, Cristo nos sugere uma estrada bem diferente, que não passa pelo poder e pela força. Ele, de fato, afirma: “Se alguém quer ser o primeiro, seja o último de todos e servo de todos” (Mc 9,35). Cristo fala de uma vitória por meio do amor sofredor, por meio do serviço recíproco, da ajuda, da nova esperança e da concreta doação aos últimos, aos esquecidos, aos excluídos”, afirmou.

“Para todos os cristãos, a mais alta expressão de tal humilde serviço é Jesus Cristo próprio, a doação total que fez de Si mesmo, a vitória do Seu amor sobre a morte, na cruz, que esplende na luz da manhã de Páscoa", disse também o Papa Bento.

O Santo Padre assinalou que "nós podemos fazer parte desta “vitória” nos transformado e nos deixando transformar por Deus, somente se operamos uma conversão de nossa vida e a transformação de si só se realiza por meio da conversão".

Do mesmo modo, "a unidade pela qual rezamos requer uma conversão interior, comum e pessoal. Não se trata simplesmente de cordialidade ou cooperação, é necessário, sobretudo, reforçar a nossa fé em Deus".

É necessário, explicou o Papa, "entrar na nova vida em Cristo, que é a nossa verdadeira e definitiva vitória; é necessário abrir-se uns aos outros, acolhendo todos os elementos de unidade que Deus conservou por nós e sempre de novo nos doa; é necessário sentir a urgência de testemunhar, ao homem do nosso tempo, o Deus vivente, que se fez conhecer em Cristo".

A tarefa ecumênica, tal como sublinham o Concílio Vaticano II e o beato João Paulo II, "é uma responsabilidade de toda Igreja e de todos os batizados, que devem fazer crescer a comunhão parcial já existente entre os cristãos até a plena comunhão na verdade e na caridade.".

Por essa razão, indicou Bento XVI, rezar pela unidade "deve se tornar parte integrante de nossas orações, da vida de oração de todos os cristãos, em todos os lugares e em todos os tempos, sobretudo, quando pessoas de diversas tradições se encontram e louvam juntas pela vitória, em Cristo, sobre tudo aquilo que é pecado, mal, injustiça e violação à dignidade do homem".

O Papa destacou também que "a falta de unidade entre os cristãos impede o anúncio mais eficaz do Evangelho, porque coloca em perigo a nossa credibilidade”.
“Como podemos dar um testemunho convincente se estamos divididos?", questionou.

"Certamente, naquilo que resguarda as verdades fundamentais da fé, nos unimos muito mais que nos dividimos. Mas as divisões restantes, e que resguardam também várias questões particulares e éticas, suscitam confusões e diferenças, enfraquecendo nossa capacidade de transmitira a Palavra salvadora de Cristo.".

“O caminho da Igreja, como aquele dos povos, está nas mãos de Cristo ressuscitado, vitorioso sobre a morte e sobre a injustiça que Ele carregou e sofreu em nome de todos. Ele nos faz participantes de sua vitória. Somente Ele é capaz de nos transformar de fracos e indecisos para fortes e corajosos ao operar o bem. Somente Ele pode nos salvar das conseqüências negativas das nossas decisões”, concluiu o Papa.

Ao final da catequese Bento XVI saudou um grupo de peregrinos lusófonos presentes no Vaticano: “Amados peregrinos de língua portuguesa, nomeadamente os brasileiros vindos de São Paulo, Recife, Belo Horizonte e Rio de Janeiro, sede bem-vindos! A todos saúdo com grande afeto e alegria, exortando-vos a perseverar na oração, nesta Semana pela Unidade, para que possa crescer entre os cristãos o testemunho comum, a solidariedade e a colaboração! E que Deus vos abençoe!”

segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

Solenidade de Santa Maria Mãe de Deus



 

Solenidade de Santa Maria Mãe de Deus
Oitavas de Natal de Nosso Senhor Jesus Cristo. Que graça para nós começarmos o primeiro dia do ano contemplando este mistério da encarnação que fez da Virgem Maria a Mãe de Deus!
Este título traz em si um dogma que dependeu de dois Concílios, em 325 o Concílio de Nicéia, e em 381 o de Constantinopla. Estes dois concílios trataram de responder a respeito desse mistério da consubstancialidade de Deus uno e trino, Jesus Cristo verdadeiro Deus e verdadeiro homem.
No mesmo século, século IV, já ensinava o bispo Santo Atanásio: “A natureza que Jesus Cristo recebeu de Maria era uma natureza humana. Segundo a divina escritura, o corpo do Senhor era um corpo verdadeiro, porque era um corpo idêntico ao nosso”. Maria é, portanto, nossa irmã, pois todos somos descendentes de Adão. Fazendo a relação deste mistério da encarnação, no qual o Verbo assumiu a condição da nossa humanidade com a realidade de que nada mudou na Trindade Santa, mesmo tendo o Verbo tomado um corpo no seio de Maria, a Trindade continua sendo a mesma; sem aumento, sem diminuição; é sempre perfeita. Nela, reconhecemos uma só divindade. Assim, a Igreja proclama um único Deus no Pai e no Verbo, por isso, a Santíssima Virgem é a Mãe de Deus.
No terceiro Concílio Ecumênico em 431, foi declarado Santa Maria a Mãe de Deus. Muitos não compreendiam, até pessoas de igreja como Nestório, patriarca de Constantinopla, ensinava de maneira errada que no mistério de Cristo existiam duas pessoas: uma divina e uma humana; mas não é isso que testemunha a Sagrada Escritura. porque Jesus Cristo é verdadeiro Deus em duas naturezas e não duas pessoas, uma natureza humana e outra divina; e a Santíssima Virgem é Mãe de Deus.