quinta-feira, 10 de março de 2011

Bento XVI: a esmola, a oração e o jejum, como meios no caminho de conversão a Deus .


HOMILIA DE BENTO XVI PARA A QUARTA-FEIRA DE CINZAS
Cidade do Vaticano, 09 mar (RV) – Na íntegra, a homilia do Papa para a Celebração da Santa Missa da Quarta-Feira de Cinzas:
Caros irmãos e irmãs,
Iniciamos hoje o tempo litúrgico da Quaresma com o sugestivo rito da imposição das cinzas, mediante o qual queremos assumir o compromisso de converter o nosso coração aos horizontes da Graça. Geralmente, na opinião comum, este tempo corre o risco de ser caracterizado pela tristeza, pela insipidez da vida. Ao invés, ele é dom precioso de Deus, é tempo forte e denso de significados no caminho da Igreja, é o itinerário em direção à Páscoa do Senhor. As leituras bíblicas da celebração de hoje nos oferecem indicações para viver plenamente essa experiência espiritual.
“Retornai a mim de todo vosso coração” (Jl 2, 12). Na primeira Leitura, extraída do livro do profeta Joel, ouvimos essas palavras com as quais Deus convida o povo judeu a um arrependimento sincero e não aparente. Não se trata de uma conversão superficial e transitória, mas de um itinerário espiritual que concerne em profundidade às atitudes da consciência e supõe um sincero propósito de revisão. O profeta parte da chaga da invasão de gafanhotos que se abatera sobre o povo destruindo a colheita, para convidar a uma penitência interior, a lacerar o coração e não as vestes (cfr 2, 13). Ou seja, trata-se de assumir uma atitude de conversão autêntica a Deus – retornar a Ele – reconhecendo a sua santidade, a sua potência, a sua magestade. E essa conversão é possível porque Deus é rico de misericórdia e grande no amor. A sua misericórdia é uma misericórdia regeneradora, que cria em nós um coração puro, renova no íntimo um espírito firme, restituindo-nos a alegria da salvação (cfr Sal 50, 14). De fato, Deus não quer a morte do pecador, mas que se converta e viva (cfr Ez 33, 11). Assim o profeta Joel ordena, em nome do Senhor, que se crie um ambiente penitencial propício: é preciso tocar a trombeta, convocar a reunião, despertar as consciências. O período quaresmal propõe-nos esse âmbito litúrgico e penitencial: um caminho de quarenta dias no qual experimentar de modo eficaz o amor misericordioso de Deus. Hoje ressoa para nós o apelo “retornai a mim de todo vosso coração”; hoje somos nós a sermos chamados a converter o nosso coração a Deus, conscientes sempre de não podermos realizar a nossa conversão sozinhos, somente com as nossas forças, porque é Deus que nos converte. Ele nos oferece mais uma vez o seu perdão, convidando-nos a nos voltarmos a Ele para dar-nos um coração novo, purificado do mal que o oprime, para fazer-nos partícipe de sua alegria. O nosso mundo precisa ser convertido por Deus, precisa de seu perdão, de seu amor, precisa de um coração novo.
“Deixai-vos reconciliar com Deus” (2 Cor 5,20). Na segunda Leitura São Paulo oferece-nos outro elemento no caminho da conversão. O Apóstolo convida a deixar de fixar o olhar nele e, ao invés, a voltar a atenção para quem o enviou e para o conteúdo da mensagem que traz: “Portanto, em nome de Cristo somos embaixadores: por nosso meio é Deus mesmo que exorta. Suplicamo-vos em nome de Cristo: deixai-vos reconciliar com Deus (ibid). Um embaixador repete aquilo que ouviu pronunciar o seu Senhor e fala com a autoridade e nos limites em que a recebeu. Quem desempenha o ofício de embaixador não deve atrair o interesse sobre si mesmo, mas deve colocar-se a serviço da mensagem a ser transmitida e de quem a mandou. Assim age São Paulo na realização de seu ministério de pregador da Palavra de Deus e de Apóstolo de Jesus Cristo. Ele não se subtrai à tarefa recebida, mas a assume com dedicação total, convidando a abrir-se à Graça, a deixar que Deus nos converta: “Porque somos seus colaboradores – escreve – exortamo-vos ainda a que não recebais a graça de Deus em vão” (2 Cor 6,1). “O apelo de Cristo à conversão – diz-nos o Catecismo da Igreja Católica – continua ressoando na vida dos cristãos. (…) é um empenho contínuo para toda a Igreja que “abarca em seu seio os pecadores” e que, “santa, ao mesmo tempo, e sempre necessitada de purificação, incessantemente recorre à penitência e à sua renovação”. Esse esforço de conversão não é somente uma obra humana. É o dinamismo do “coração contrito” (Sal 51,19), atraído e movido pela graça a responder ao amor misericordioso de Deus que nos amou por primeiro” (n. 1428). São Paulo fala aos cristãos de Corinto, mas através deles quer dirigir-se a todos os homens. De fato, todos precisam da graça de Deus, que ilumine a mente e o coração. E o Apóstolo profere: “Eis agora o tempo favorável por excelência, eis agora o dia da salvação!” (2 Cor 6,2). Todos podem abrir-se à ação de Deus, a seu amor; com o nosso testemunho evangélico, nós cristãos devemos ser um mensageiro vivo, aliás, em muitos casos somos o único Evangelho que os homens de hoje leem ainda. Eis a nossa responsabilidade nas pegadas de São Paulo, eis um motivo a mais para viver bem a Quaresma: oferecer o testemunho da fé vivida a um mundo em dificuldade que precisa retornar a Deus, que precisa de conversão.
“Guardai-vos de praticar a vossa justiça diante dos homens para serdes vistos por eles” (Mt 6,1). Jesus, no Evangelho de hoje, relê as três obras fundamentais de piedade prescritas pela lei mosaica. A esmola, a oração e o jejum caracterizam o judeu observante da lei. Durante o tempo, essas prescrições foram atingidas pela ferrugem do formalismo exterior, ou até mesmo se transformaram num sinal de superioridade. Jesus evidencia nessas três obras de piedade uma tentação comum. Quando se faz algo de bom, quase instintivamente nasce o desejo de ser estimados e admirados pela boa ação, ou seja, de ter uma satisfação. E isso, de um lado, faz-se fechar-se em si mesmo, de outro, leva para fora de si mesmo, porque se vive projetado àquilo que os outros pensam de nós e admiram em nós. Ao repropor essas prescrições, o Senhor Jesus não pede um respeito formal a uma lei estranha ao homem, imposta por um legislador severo como fardo pesado, mas convida a redescobrir essas três obras de piedade vivendo-as de modo mais profundo, não por amor próprio, mas por amor a Deus, como meios no caminho de conversão a Ele. Esmola, oração e jejum: é o traçado da pedagogia divina que nos acompanha, não somente na Quaresma, em direção ao encontro com o Senhor Ressuscitado; um traçado a ser percorrido sem ostentação, na certeza de que o Pai celeste sabe ler e ver também no segredo do nosso coração.
Caros irmãos e irmãs, iniciemos confiantes e alegres o itinerário quaresmal. Quarenta dias nos separam da Páscoa; esse tempo “forte” do ano litúrgico é um tempo propício que nos é dado para esperar, com maior empenho, a nossa conversão, para intensificar a escuta da Palavra de Deus, a oração e a penitência, abrindo o coração ao dócil acolhimento da vontade divina, para uma prática mais generosa da mortificação, graças à qual voltar-se mais largamente em ajuda ao próximo necessitado: um itinerário espiritual que nos prepara a reviver o Mistério pascal.
Maria, nossa guia no caminho quaresmal, conduza-nos a um conhecimento sempre mais profundo de Cristo, morto e ressuscitado, ajude-nos no combate espiritual contra o pecado, nos auxilie ao invocar com força: Converte nos, Deus salutaris noster – Convertei-nos a Vós, ó Deus, nossa salvação. Amém!

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Obrigado por poder partilhar com você, gratidão por sua vida, reze sempre por minha conversão. Deus lhe bendiga

Michel Maria