Na Mensagem para a Quaresma 2014 o Papa
sublinha: a miséria material, a miséria moral e a miséria espiritual
“Conheceis a graça de nosso Senhor Jesus Cristo,
que, sendo rico, se fez pobre por vós a fim de enriquecer-vos com a sua
pobreza”. Estas são as palavras do apóstolo São Paulo que o Santo Padre propõe
como referência para a reflexão nesta quaresma.
São palavras que “nos dizem qual é o estilo de
Deus. Deus não se revela mediante o poder e a riqueza do mundo, mas mediante a
fragilidade e a pobreza”. Francisco lembra que Cristo se tornou pobre, se
aproximou de cada um de nós, se despojou, se “esvaziou” para ser semelhante a nós.
E a razão disso é “o amor divino, um amor que é graça, generosidade, desejo de
proximidade, e que não hesita em se doar e sacrificar pelas criaturas que Ele
ama”. Porque “a caridade, o amor, consiste em partilhar em tudo a sorte do
amado” e “o amor nos assemelha, cria igualdade, derruba os muros e as
distâncias”. Deste modo, o papa indica que, “ao se tornar pobre, Jesus não quer
a pobreza em si mesma, e sim nos enriquecer com a sua pobreza”. Por este
motivo, “Deus não fez a salvação cair do alto sobre nós, como a esmola de quem
dá uma parte do que lhe é supérfluo, por aparente piedade filantrópica”. O
pontífice recorda, nesta mensagem, que Jesus foi batizado para ficar no meio
das pessoas e “carregar o peso dos nossos pecados”.
E essa pobreza com que Jesus nos liberta e nos
enriquece, observa o Santo Padre, é o seu “modo de nos amar, de estar perto de
nós, como o bom samaritano”. Mais ainda: “o que nos dá a verdadeira liberdade,
a verdadeira salvação e a verdadeira felicidade é o seu amor cheio de compaixão,
de ternura, que quer dividir tudo conosco”. Neste ponto, Francisco destaca que
“a pobreza de Cristo é a maior riqueza: a riqueza de Jesus é a sua confiança
ilimitada em Deus Pai”.
Depois de refletir sobre a pobreza de Jesus,
Francisco convida a pensar em nosso próprio caminho. “Em toda época e lugar,
Deus continua salvando os homens e o mundo mediante a pobreza de Cristo, que se
faz pobre nos Sacramentos, na Palavra e na Igreja, que é um povo de pobres”,
afirma o pontífice. Ele recorda que “os cristãos são chamados a olhar para as
misérias dos irmãos, tocá-las, cuidar delas e realizar obras concretas para
aliviá-las”. Francisco observa também que “a miséria é a pobreza sem confiança,
sem solidariedade, sem esperança”.
O papa sublinha três tipos de miséria: a miséria
material, a miséria moral e a miséria espiritual.
A miséria material, que costumamos chamar de
pobreza, “atinge os que vivem numa condição que não é digna da pessoa humana”.
Diante dessa miséria, “a Igreja oferece o seu serviço, a sua diaconia, para
responder às necessidades e curar essas feridas que desfiguram o rosto da
humanidade”. Por isso, “os nossos esforços se orientam a encontrar o modo de
acabar com as violações da dignidade humana no mundo, com as discriminações e
com os abusos”.
A miséria moral é aquela que nos “transforma em
escravos do vício e do pecado”. O papa fala das pessoas que “perderam o sentido
da vida, estão privadas de perspectivas para o futuro e perderam a esperança” E
faz referência ainda às “pessoas que se veem obrigadas a viver essa miséria por
causa de condições sociais injustas, por falta de trabalho, o que as priva da
dignidade de levar o pão para casa, por falta de igualdade no direito à
educação e à saúde”. Nesses casos, Francisco afirma que a miséria moral bem poderia
ser chamada de “suicídio incipiente”.
Finalmente, ele fala da miséria espiritual, “que
nos golpeia quando nos afastamos de Deus e rejeitamos o seu amor”. O Santo
Padre avisa que, “se considerarmos que não precisamos de Deus, nos
encaminharemos para a estrada do fracasso”, porque “Deus é o único que salva e
liberta verdadeiramente”.
Recordando que o cristão é chamado a transmitir em
todos os ambientes o anúncio libertador de que existe o perdão do mal cometido,
Francisco afirma que “é bonito experimentar a alegria de estender esta boa
nova, de compartilhar o tesouro que nos foi confiado, para consolar os corações
aflitos e dar esperança a tantos irmãos e irmãs submersos no vazio”.
Para encerrar, o pontífice nos lembra que a
quaresma “é um tempo adequado para se despojar. E nos fará bem perguntar-nos de
que podemos nos privar para ajudar e enriquecer os outros com a nossa pobreza”.
Ele enfatiza, por fim, que a “verdadeira pobreza dói”, avisando: “Desconfio da
esmola que não custa nem dói”.
Da Agência Zenit
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Michel Maria