quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

Luís e Zélia, os pais de Santa Teresinha



Luís e Zélia Martin - pais de Santa Teresinha de Lisieux
Luís e Zélia Martin - pais de Santa Teresinha de Lisieux
Luís Martin (1823-1894) e Zélia Guérin (1831-1877) foram declarados bem-aventurados em 19 de outubro de 2008. Não foram beatificados por serem os pais de Santa Teresinha, mas porque se empenharam totalmente em fazer a vontade de Deus em qualquer situação de suas vidas. Luís e Zélia, com suas vidas, nos ensinam que a santidade é caminho para a esposa, o marido, os filhos, os colegas de trabalho e para a sexualidade. O santo não é um super-homem, mas um homem verdadeiro.
Se tanto amamos Teresinha de Lisieux, se tanto nos encanta sua santidade, devemos dizer que ela é fruto de seus pais, um casal que vivia o amor de Deus tanto na alegria como nas tristezas. As muitas cartas deixadas por Zélia dão testemunho deste colocar-se inteiramente nas mãos de Deus.
«Eu amo loucamente as crianças e nasci para ter filhos», dizia Zélia. Mas, contraditoriamente, esse lar não era para existir. Aos 20 anos Luís esteve na Suíça para aprender o ofício de relojoeiro. Dirigiu-se ao Eremitério de São Bernardo, dos Cônegos Regulares de Santo Agostinho, querendo ser monge. O Prior foi direto: «Não conhece latim, nada de postulantado no Mosteiro». Luís retorna a Alençon e se dedica à oficina de conserto de relógios.
Já Zélia Guérin desejava ser admitida entre as Irmãs de São Vicente de Paulo, em Alençon. A Superiora não vê nela sinal se vocação. Decide-se então a aprender artes domésticas de bordados e confecções, abrindo pequeno negócio em Alençon e indo de casa em casa à procura de fregueses.
Luís vive ardente espiritualidade alimentada no seio das Conferências de São Vicente de Paulo, onde pôde se inserir no trabalho social e cristão. Sua mãe, preocupada com sua condição de celibatário, lhe comenta a respeito da jovem Zélia Guérin, jovem de face diáfana e de sorriso doce e misterioso. Os dois se encontram e meses depois se casam, em 13 de julho de 1858. Zélia está com 27 anos e inicia com Luís um amor sólido e durável, apesar da doença e da morte. O vigário de Alençon estranhou que o casal não tivesse filhos e eles explicaram que viviam um matrimônio como Maria e José, como dois irmãos. O padre repreendeu-os, dizendo que deveriam viver como casal e terem filhos. Fiéis ao conselho, entre 1860 e 1873 nascem nove filhos, dos quais quatro morrem pouco depois do nascimento: Helena, José, João Batista e Melânia Teresa.

Um lar feliz e santo

Constituíam um casal típico da pequena burguesia francesa do século XIX. Levam uma vida ordinária, é verdade, mas Deus ocupa um lugar especial em sua vida pessoal e comunitária. Diariamente freqüentam a Missa das 5:30h: Deus antes de tudo. A filha Celina escreveu, mais tarde: “Quando papai comungava ele permanecia em silêncio na volta para casa”. “Continuo a conversar com Nosso Senhor”, dizia. No meio das tristezas pela perda dos filhos, “tudo aceitamos na serenidade e no abandono à vontade de Deus”. Oração em família duas vezes ao dia, ao toque do Ângelus ao meio-dia e às 18h. Natal, Quaresma, Páscoa, os meses marianos de maio e outubro, o 15 de agosto ocupam um lugar central em sua vida, tocando profundamente suas filhas. Essa espiritualidade conjugal e familiar não os isolou dos outros, pelo contrário, reforçou sua atenção a todos, domésticas, conhecidos, vizinhos.
Sobreviveram cinco filhas, que ingressaram no convento: Maria, Paulina, Leônia, Celina e Teresa. Talvez o casal não seria lembrado se não fosse a caçulinha, a grande Santa Teresinha, morta aos 24 anos no Carmelo de Lisieux.
Foram apenas 19 anos de vida em comum cujos frutos ultrapassaram a existência terrena. Uma palavra-chave expressa esse amor: a unidade, unidade que edificou sua vida espiritual, familiar e social. Num tempo em que nós fragmentamos a vida, vivemos divididos, eles cimentaram sua existência numa unidade invencível e contagiante.
A casa dos Martin era casa de caridade. Luís recolhe um epiléptico na rua e cuida de assisti-lo. Não hesita em convidar à mesa os mendigos encontrados na rua. Visita os anciãos. Ensina às filhas a honrar o pobre e a tratá-lo como um igual. Teresa será a mais sensibilizada por esse exemplo. Podemos afirmar que a doutrina da “pequena via” que fez de Teresinha Doutora da Igreja nasce da santidade e do exemplo da vida de Luís e Zélia. Em seus escritos Santa Teresinha mais vezes dirá: “O bom Deus deu-me um pai e uma mãe mais dignos do Céu que da terra”.
Não era uma família triste. O “pequeno convento” não era uma prisão austera, mas um lar feliz. Um lar cristão com o amor entre os esposos, deles pelas filhas, entre as irmãs, uma unidade sensível. Ambiente sadio, brincadeiras, jogos, festas, passeios em família. O amor era verdadeiro. Um amor, como definiu Teresinha “onde se dá tudo e se dá a si mesmo”.
 Luís e Zélia não desejavam que suas filhas fossem religiosas, mas santas. O desejo de santidade que ali se vivia impregnava toda a vida familiar. A santidade se manifesta nas etapas vividas pelo casal, etapas tão semelhantes às de um casal atual: casamento tardio, trabalho, dupla jornada de Zélia entre a casa e a loja, ambos assumem a educação das filhas. Foram consumidos por doenças contemporâneas: o câncer de Zélia e a doença neuropsiquiátrica de Luís. Atravessam a guerra de 1870 entre França e Alemanha, as crises econômicas, o drama da morte de Zélia em 1877: sozinho, Luís deve criar e educar suas cinco filhinhas Maria, Paulina, Leônia, Celina e Teresa.

A Paixão de Luís e Zélia

Luís e Zélia vivem a Paixão, cada um a seu modo. Em dezembro de 1864 Zélia descobre um câncer impossível de ser operado, que não lhe oferece nenhuma chance de cura. Zélia aceita a morte com coragem heróica, trabalhando até véspera, a cada manhã participando da Missa. Sua força era a existência das cinco filhas. Em agosto de 1877 seus seios são amputados. Preocupa-se sobretudo por Leônia, meio doentinha. Carrega a cruz por 12 anos, até a morte aos 46 anos, em 28 de agosto de 1877. Luís sente-se anulado, o pânico toma conta da família.
A Paixão de Luís é de outra ordem. A partir de novembro de 1877 passa a residir em Lisieux e sucessivamente entrega todas as filhas a Deus: Paulina (1882), Maria (1886), Leônia (1899) e, enfim, sua “pequena rainha” Teresa (1888) e depois Celina (1894).
Sua saúde decai cada vez mais e necessita de hospitalização em Caen. Hoje diríamos num Hospital Psiquiátrico, mas em 1889 se dizia “asilo de loucos”. O venerável pai está agora misturado a 500 doentes. O homem estimado e respeitado é apenas um ser decadente. “Ele bebeu a mais humilhante de todas as taças”, escreveu Teresinha. Os médicos diagnosticaram arteriosclerose cerebral, com insuficiência renal. O lar dos Martin está disperso: três filhas são carmelitas. Não curado, Luís é devolvido ao lar e assistido noite e dia pela filha Celina. É como uma criança, continuamente necessitado de assistência.
Em 1888 Luís tinha oferecido um altar à catedral de São Pedro, sua paróquia. Teresinha comenta: “Papai ofereceu a Deus um Altar. Ele foi a vítima escolhida para ali ser imolado com o Cordeiro sem mácula”. Deus o chamou à eternidade em 29 de julho de 1894.
Relendo sua vida familiar à luz do Amor Misericordioso, em 1896, Teresinha relembra a entrada no Carmelo nos braços de “seu Rei” e nunca imaginaria que poucos dias após a tomada do hábito seu querido pai “deveria beber a mais amarga, a mais humilhante de todas as taças”. “Os três anos de martírio de Papai me parecem os mais amáveis, os mais frutuosos de toda a nossa vida. Eu não os trocaria por nada, por nenhum êxtase ou revelação este tesouro que deve provocar uma santa inveja nos Anjos de Corte Celeste”.
Pouco antes da doença, Luís escreveu às três filhas carmelitas: “Devo dizer-vos, minhas queridas filhas, que sou obrigado a agradecer e fazer-vos agradecer ao bom Deus, porque eu sinto que nossa família, apesar de tão humilde, tem a honra de ser privilegiada por nosso adorável Criador”.
É verdade que Deus cumulou de bênçãos e graças o lar de Luís e Zélia. É mais verdade, porém, que ambos abriram suas vidas ao dom de Deus, dele fazendo participar intensamente suas filhas

Um comentário:

  1. Eis um reflexo da Sagrada Familia de Nazaré. Precisamos de familias alicerçadas na fé que busquem viver essa santidade entregando se nas mãos de Deus e deixando que Ele seja o tudo em nossa vida.

    Cris

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Michel Maria