sábado, 26 de junho de 2010

Santo Afonso Maria de Ligório (1696-1787)




Santo Afonso Maria de Ligório, bispo, escritor, poeta, musicista, Doutor da Igreja, foi fundador de uma das mais ativas e numerosas congregações religiosas: os Padres Redentoristas. Nasceu perto de Nápoles, Itália, em 1696, filho de uma das mais antigas e nobres famílias de Nápoles. Do pai herdara uma vontade férrea, inteligência viva e perspicaz, enquanto que a mãe plasmou seu coração para a fé a bondade. Ainda pequeno, recebeu do Santo São Francisco de Jerônimo da Companhia de Jesus, a seguinte profecia: "Esta criança, não morrerá antes dos 90 anos; será bispo e realizará maravilhas na Igreja de Deus". Seu pai destinou-o aos estudos das artes liberais, das ciências exatas, das disciplinas jurídicas, conseguindo Afonso rápidos e surpreendentes progressos. Aos dezesseis anos anos doutorou-se em direito civil e eclesiástico e começou a colher louros e triunfos no foro. Seu pai sentia-se orgulhoso do brilhante futuro que se abria ao filho e já tinha preparado uma noiva, rica e nobre, mas no coração de Afonso, já havia a graça divina aberto profundos sulcos, e inspirado outras rotas de grandeza. Como advogado, já de renome, recebeu uma causa de grande importância do Duque Orsini contra outro príncipe, o grão-duque de Toscana. Meticulosamente nosso advogado estudou o processo, reviu os autos, conferiu documentos. Fez uma brilhante defesa no foro. A vitória parecia mais que garantida quando o contra-atacante lhe chamou a atenção para uma pequena falha que lhe passara despercebida. Afonso reconheceu que se enganara e exclamou: "Ó mundo falaz, agora eu te conheço! Adeus tribunais!". Este acontecimento determinou a reviravolta mais profunda de sua vida. O jovem e brilhante advogado abandonou definitivamente a advocacia para dedicar-se às causas mais nobres na seara evangélica. Completou os estudos de teologia e foi ordenado sacerdote aos trinta anos. Esta mudança custou-lhe renhidas lutas com o pai, que não podia conformar-se com a escolha feita pelo filho, renunciando aos títulos de nobreza e à rica herança da família. Mais tarde, ainda com pavor Afonso recordava dessas horas de combate. Desde então Afonso colocou suas altas qualidades de ciência e de oratória a serviço de Cristo, dedicou-se sobretudo à pregação, com o lema: "Deus me enviou a evangelizar os pobres". Procurava de preferência os pobres Lazaroni e a meninada abandonada pelas ruas de Nápoles. Muito se mortificava Dom José, vendo seu filho metido no meio do povinho, desprezível a seus olhos de fidalgo. Nosso santo não se deixava esmorecer. Passou a morar no Hospício dos Padres Chineses e pensou seriamente em ir para as missões pagãs. Entretanto, os planos de Deus terminaram por conduzi-lo a um convento de irmãs em Scala, perto de Amalfi, para onde foi por Ter adoecido, e necessitar de repouso. Nesse convento havia a Irmã Maria Celeste Crostarosa que se destacava por sua virtude. A 3 de outubro de 1731 revelou-lhe a Irmã a visão que tivera: Afonso estava designado por Deus para fundar uma Congregação. Começou então o duelo entre Deus e a humildade do Santo. A luta foi um verdadeiro martírio para Afonso. A santa Irmã chegou mesmo a intimá-lo: "D. Afonso, Deus não o quer em Nápoles; chama-o para fundar um novo Instituto". Resolvido a isso, depois de ter sido orientado pelo seu confessor Facoia, mais tarde bispo, teve o Santo de enfrentar tremenda oposição do pai. Este recriminava ao filho dureza de coração por querer abandoná-lo para meter-se na aventura de fundar um novo Instituto. Mas a graça venceu, e a 9 de novembro de 1732 fundou Afonso, em Scala, a Congregação dos Padres Redentoristas, que no começo tinha o nome de Instituto do SS. Salvador. Os primeiros companheiros de Afonso eram todos sacerdotes, e logo começaram a dedicar-se à pregação. Não tardou aparecer desunião nas idéias. Queriam uns que o Instituto, além da pregação, se dedicasse também ao ensino. Afonso insistiu na exclusividade da pregação aos pobres, às regiões de gente abandonada, na forma de missões e retiros. Venceu seu ponto de vista. Em 1749 o Papa Bento XIV aprovou as Regras do Instituto, que tinha por fim a imitação de Jesus Cristo e a pregação de missões e retiros de preferência à classe mais abandonada. À frente de seus súditos percorreu cidades e vilas do Sul da Itália, convertendo pecadores, reformando costumes, santificando as famílias. Era um facho ardente que deixava em chamas de amor divino os lugares por onde passava. Mais do que sua palavra, pregava o seu exemplo de virtude, de penitência, de caridade e de santa inocência. As cidades disputavam Afonso como pregador. Um dia chegou ao seu conhecimento, que o queriam nomear arcebispo de Palermo. Pediu orações para que se evitasse "o grande escândalo" desta nomeação. Mas em 1762 o Papa Clemente XIII impunha-lhe a mitra de Santa Águeda dos Godos. "Vontade do Papa é a vontade de Deus", disse o santo, e curvou a fronte. Durante 13 anos pastoreou sua diocese, reformou-lhe o clero, os costumes, as Igrejas. Outra tornou-se a vida religiosa nos mosteiros e conventos. Os diocesanos passaram mas viram que tinham um santo por bispo, quando vendeu até as alfaias, os móveis de seu pobre palácio, seu anel de bispo, para acudir aos necessitados. Em 1775, a seu pedido, livrou-o do bispado. Papa Pio VI. O santo patriarca voltou pobre para o seu convento, e ali mão de Deus o experimentou e lhe burilou lindas facetas de virtude. Afonso, acabrunhado por sofrimentos físicos, teve o desgosto de ver a cisão no seu Instituto e, por mal-entendidos, foi até excluído na Congregação que fundara. Os últimos anos do Santo são síntese, tudo adversidades inimagináveis. Das profundezas da sua alma dorida clamava a Deus misericórdia e auxílio. Em tudo reconhecia a adorável vontade de Deus. Após longo martírio no corpo e na alma morreu calmamente no Senhor a 1º de agosto de 1787 na idade de 91 anos. Em 1816 foi declarado beato. Foi canonizado em 1839 por Gregório XVI. Santo Afonso foi um prodigioso escritor. Nos seus últimos doze anos de vida, para não faltar ao programa que se propusera quando jovem, de não perder mais tempos tempo jamais, dedicou-se à redação de livros, enriquecendo a coleção de obras ascéticas e teológicas. Deixou para os sacerdotes a sua célebre Teologia Moral; para os religiosos a Verdadeira Esposa de Cristo; para o povo cristão, livros cheios de verdadeira e ungida piedade, tais como as Meditações sbre a Paixão do Salvador, Glórias de Maria, Visitas ao SS. Sacramento, Tratado sobre a oração. Foi historiador, apologeta, pregador, poeta e exímio musicista. A devoção popular muito deve às suas canções por ele escritas e musicadas. Até hoje no tempo de Natal, é comum escutar o seu "Tu Scendi dalle Stelle" - Tu desces das estrelas. A Igreja deu-lhe o título de Doutor zelosíssimo. As obras de Santo Afonso têm a perenidade das fontes seculares. Reflexões Imitemos Santo Afonso, empregando o nosso tempo em trabalhos e orações fugindo assim do pecado e do mal emprego do nosso tempo. Só com a oração e num trabalho com o Cristo encontraremos a força e a graça para salvar nossa alma e nos santificarmos.



   
    "SUA ESPIRITUALIDADE"





Introdução

Todos os anos, no dia 1º de agosto, a Igreja festeja o dia de Santo Afonso de Ligório. Foi bastante oportuno, então, que os padres e irmãos redentoristas quisessem comemorar o aniversário do segundo centenário de sua morte (Ligório morreu em 1787, aos noventa e um anos). Assim como os filhos marcam a data de falecimento de seus queridos pais, os filhos espirituais de Santo Afonso carinhosamente lembram sua vida e seu espírito. Este texto irá rever as principais fases de sua vida e os pontos principais de seus ensinamentos espirituais. De modo breve, porém básico, serão respondidas as seguintes questões: Que tipo de pessoa era Santo Afonso? Quais eram alguns de seus dons? Qual o legado espiritual que nos deixou?

O homem Afonso  

De todos os modos, Santo Afonso era uma personalidade extraordinária. O historiador Louis Vereeke, C.Ss. R., descreve-o para nós: "Ardente e ricamente dotado por natureza de uma delicada sensibilidade, uma vontade tenaz e inteligência profunda, Afonso era mais dado ao pensamento prático do que à pura especulação. Tinha, num grau raro, uma consciência do concreto, um senso prático. Em seu relacionamento com os outros, possuía nobreza de modos e era afável e benevolente com todos, especialmente com os pobres, e possuía um bom humor sorridente..." No decorrer de sua longa e enérgica vida, estas características tiveram bom uso. Depois de crescer em uma família abastada e praticar advocacia durante alguns anos, aos trinta anos foi ordenado padre. Ocupou o resto de sua vida com suas numerosas realizações. Apenas cinqüenta e dois anos após sua morte, em 1839, Afonso foi canonizado depois de um estudo completo de sua vida e seus escritos. Devido aos seus inúmeros talentos, a Igreja conferiu-lhe honras especiais. Em 1871 foi nomeado Doutor da Igreja, honra concedida a um pequeno número de teólogos durante a longa história da Igreja. Em 1950, a fim de reconhecer seus notáveis escritos de teologia moral, a Igreja o nomeou "o santo patrono dos teólogos e confessores".

Suas realizações

Foram várias as realizações deste grande santo. Aqui estão algumas: Ele foi um pregador incansável da Palavra de Deus. Embora impossibilitado de dedicar tempo integral à pregação missionária, pregou, durante sua vida, em pelo menos 150 missões paroquiais. (Estas missões paroquiais duravam de duas a quatro semanas). Sempre que possível, dava preferência às comunidades e pessoas privadas de ajuda espiritual. Foi brilhante erudito e escritor popular. Publicou pelo menos 110 trabalhos sobre teologia e sobre a vida espiritual. Seus trabalhos estão traduzidos para 61 idiomas no mínimo, possuindo várias edições. Além disso, Ligório era poeta e músico consumado. Vários hinos que compôs ainda são extremamente populares na Itália e em outros lugares. Em 1732 fundou a Congregação do Santíssimo Redentor (popularmente conhecida como Redentoristas). O propósito fundamental de sua comunidade religiosa era "trazer a boa nova aos pobres". (Existem cerca de 5.600 missionários Redentoristas trabalhando por todo o mundo.) Aos 66 anos, mesmo sofrendo gravemente de artrite, acatou o desejo do Papa para que fosse consagrado bispo e servisse a diocese de Santa Ágata. Ele não apenas administrou habilmente esta diocese por treze anos, como também efetuou reformas necessárias. Morreu entre seus companheiros redentoristas em primeiro de agosto de 1787.

Seu Legado Espiritual

Considerando todos os diferentes tipos de trabalhos que Santo Afonso fez para o reino de Deus, pode parecer precipitado tentar estabelecer sua maior realização. Entretanto, talvez a maior delas tenha sido sua habilidade em pregar o Evangelho e explicar a espiritualidade Católica de maneira que as pessoas simples pudessem prontamente entender. A popularidade mundial de seus escritos espirituais pode ser atribuída à sua intuição compreensiva da condição humana e ao seu estilo prático. Embora seja impossível resumir num pequeno livrete todos os ensinamentos espirituais de Santo Afonso, o panorama apresentado aqui pode nos suprir de luz e inspiração. As questões seguintes são essenciais ao entendimento do que é freqüentemente chamado de "espiritualidade afonsiana". Elas abrangem o que designamos como seu legado espiritual.

1 - Nosso chamado à Santidade

Diferente dos severos professores de seu tempo, Santo Afonso afirmava que Deus chama todos os homens e mulheres à santidade. Não era necessário, insistia ele, correr para o deserto ou entrar para um monastério a fim de alcançar a santidade Cristã; não era obrigatório que alguém desistisse do "mundo", do casamento ou da família. Uma citação explica sua opinião: "É um grande erro dizer: Deus não quer que todos sejam santos. São Paulo disse: 'A vontade de Deus é esta: a vossa santificação' (1Ts 4,3). Deus quer que todos se tornem santos, cada um em sua ocupação; o religioso exatamente como um religioso, o secular com um secular, o padre como um padre, o casado como uma pessoa casada, o comerciante como um comerciante, e as outras pessoas de acordo como caminham na vida".

2 - O Amor de Deus por nós 

Para Santo Afonso, santidade significa o amor de Deus. Tudo mais é secundário. O Amor vem primeiro. A frase "o amor de Deus" tem duas dimensões: o amor de Deus por nós e nosso amor por Deus, em retribuição. Santo Afonso tentou de diversas maneiras fazer com que as pessoas compreendessem o quanto Deus as ama. Um tema sempre presente em seus escritos: Lembre-se o quanto Deus tem amado você! Uma típica frase sua: "Se o amor de todas as pessoas, todos os anjos, todos os santos fossem colocados juntos, eles não se igualariam à menor parte do amor de Deus por você". Esse amor de Deus por seu povo é manifestado de forma visível na pessoa de Jesus - a dádiva de amor do Pai. Para Santo Afonso, Jesus Cristo é tudo! Dificilmente encontra-se uma página em seus escritos onde o nome de Jesus não aparece. Com ênfase particular ele escreveu sobre "os grandes sinais" do amor de Jesus por nós: sua Encarnação, Paixão e Morte, e a Eucaristia. Ele insiste para que todos meditem com freqüência sobre "a manjedoura, a cruz e o tabernáculo". É digno notar que Santo Afonso escreveu um livro inteiro para cada um destes grandes mistérios cristãos. Além disso, dois de seus livretes, O Caminho da Cruz e Visitas ao Sagrado Sacramento ainda são best sellers pelo mundo.

3 - Nossa Redenção

De todos os mistérios cristãos, a Paixão e morte de Jesus Cristo foi o que tocou Santo Afonso mais profundamente. Ele freqüentemente pregava e escrevia sobre esse fato; recomendava a todos que meditassem diariamente sobre esse tópico. Para Santo Afonso, o fato do Pai ter enviado Jesus, seu Filho amado, para sofrer e morrer pelos nossos pecados, era um sinal de "amor inacreditável". O mistério da Redenção era um ato de amor tão grande da parte de Deus, que Santo Afonso escreveu: "Deus está com problemas, louco de amor, perdeu a cabeça de tanto amor". A imaginação vívida e a ternura italiana de Santo Afonso estão presentes nos seus escritos sobre o sofrimento e a morte de Jesus. Entretanto, como mostra Joseph Oppitz, C. Ss. R., "sua preocupação com a Paixão não era um interesse mórbido em sofrimento, sangue e morte..., mas sim uma realização vívida do significado existencial da Cruz, passado, presente e futuro, na parcimônia da vontade de salvação de Deus". Para Afonso, o sofrimento de Jesus era, acima de tudo, os sinais visíveis de seu imenso amor por nós. Por isso deu este conselho: "Pensando na Paixão de Jesus, não devemos refletir tanto sobre os sofrimentos pelos quais passou em conseqüência do amor com o qual perturbou as pessoas".

4 - Nosso Amor a Deus 

O grande amor de Deus por nós, manifestado em Jesus, exige nosso amor em retribuição. Em um dos livros mais famosos de Santo Afonso, A Prática do Amor a Jesus Cristo, a frase inicial é esta: "A total santidade e perfeição de uma alma consiste em amar Jesus Cristo, nosso Deus, nosso bom soberano e nosso Redentor".
Porém, como nós humanos podemos responder melhor ao amor de Deus? Para Santo Afonso, é imitando Jesus, que disse de si mesmo: 
"Porque desci do céu não para fazer a minha vontade, mas a vontade de quem me enviou" (Jo 6,38).
Ecoando este princípio evangélico, Santo Afonso desenvolveu um resumo básico a respeito de nossa resposta ao amor divino. Neste resumo, temos o que é mais característico da espiritualidade de Afonso: "Toda santidade consiste no amor de Deus, e este amor consiste em conformidade à vontade divina; assim, toda santidade consiste em conformidade à vontade divina".
Em sua grande intuição, Santo Afonso sabia o quanto seria fácil nos enganarmos na vida espiritual. "Algumas pessoas, escreveu Afonso, desejam tornar-se santos, mas à sua maneira. Elas querem amar Jesus Cristo, mas a seu modo... Elas amam a Deus, mas em seus termos."
O verdadeiro teste de amor é nossa aceitação da vontade divina. Afonso dizia que esta vontade está manifestada nas Escrituras, a Palavra Viva de Deus, e na Igreja, guiada pelo Espírito que ensina questões de fé e moral com a autoridade do próprio Deus. Além disso, a vontade divina nos é mostrada nos deveres e responsabilidades da nossa vocação - e muito concretamente, nas circunstâncias particulares da nossa vida aqui e agora . "O ponto principal está em abraçarmos a vontade de Deus em todas as coisas que nos acontecem, não apenas quando estas são favoráveis ao nossos desejos, mas quando são também contrárias. Quando as coisas vão bem, até mesmo os pecadores não encontram dificuldades em estarem de acordo com a vontade divina; porém, os santos também estão de acordo nas circunstâncias contrárias ao seu amor próprio. É nisto que é mostrada a perfeição do amor de Deus." 5 - Nosso Amor ao Próximo O amor a Deus sempre vem primeiro. "Este é o maior e o primeiro mandamento" (Mt 22,38). Entretanto, o amor ao próximo também é essencial porque é um mandamento "igual ao primeiro". Santo Afonso viu uma estreita relação entre esses dois mandamentos. "Por que devemos amar nosso próximo? Porque ele é amado por Deus! Devemos amar todos aqueles que Deus ama."
Assim como nosso amor por Deus deve ser mostrado de forma prática e concreta, devemos também mostrar nosso amor pelo próximo. Santo Afonso enfatiza que os seguidores de Jesus Cristo devem "viver pacificamente juntos" e praticarem a "tolerância mútua". Esta paz não consegue desabrochar num coração cheio de desconfianças, amarguras ou aversões. "Se desejas praticar a bela virtude da caridade, escreveu Afonso, empenhe-se em rejeitar todo julgamento precipitado, toda desconfiança, toda suspeita infundada em seu próximo."
Além disso, todo verdadeiro seguidor de Cristo possui o sério dever de ajudar os pobres e os necessitados. Santo Afonso dizia que devemos compartilhar com os pobres não apenas o que temos em abundância mas até mesmo, se necessário, aquilo que consideramos essencial para nós.

6 - Nosso desprendimento

Uma palavra sempre presente nos escritos espirituais de Santo Afonso é a palavra italiana distacco. É difícil traduzir esta palavra para o Português. Normalmente é traduzida como desprendimento. A idéia básica é esta: O amor de Deus deve ser a primeira prioridade para o cristão. Ele deve esforçar-se constantemente para estar de acordo com a vontade divina. Qualquer coisa que pareça vir antes do amor de Deus deve ser corajosamente colocada de lado.
Santo Afonso sabia claramente que o maior inimigo do verdadeiro amor de Deus era o falso amor ao ego. O egocentrismo, a seus olhos, era a raiz de todo mal. "Muitas pessoas fazem da vida espiritual uma profissão, escreve Afonso, mas são adoradores de si mesmos." Este egocentrismo mostra-se na ambição exagerada, no temor ao respeito humano, no orgulho. Distaco é o esforço consciente do cristão para dominar a praga do egocentrismo.

7 - Nossos atos de mortificação

Na espiritualidade de Afonso, é a mortificação que prepara o desprendimento. A mortificação refere-se ao ideal cristão de "morrer para si"; refere-se à luta contra o egocentrismo, a fim de que o amor de Deus fique livre para crescer e desenvolver-se. É uma faceta dos ensinamentos de Jesus: "Quem procurar a sua vida, há de perdê-la; e quem perder a sua vida por amor de mim, há de encontrá-la" (Mt 10,39).
Santo Afonso gostava de fazer uma distinção entre a mortificação externa e interna. A mortificação externa refere-se à disciplina dos sentidos, tais como o jejum, a abstinência, o controle das palavras, a modéstia dos olhos. A mortificação interna refere-se à disciplina do coração, isto é, o controle das paixões e do amor próprio desordenados.
De acordo com Afonso, certamente existe lugar para mortificações externas na vida dos cristãos, especialmente quando é necessário evitar o pecado ou quando a lei da Igreja exige, como é o caso do jejum e da abstinência na Quaresma. No entanto, Afonso acreditava que a mortificação interna era muito mais importante e muito mais rara. Ele escreveu sobre aqueles que se ocupam com jejuns e outras austeridades corporais, mas que ao mesmo tempo "não se esforçam para superar determinadas paixões, por exemplo, certos ressentimentos, aversões, curiosidades e apegos perigosos". Tais cristãos, para Santo Afonso, não serão capazes de progredir na verdadeira santidade.

8 - Uso da Oração

Santo Afonso muitas vezes é descrito como "Doutor da Oração". Por considerar a oração tão essencial para a vida cristã, escreveu vários livros inteiramente dicados a ela. De todos seus livros, considerava seus tratados de oração mais valiosos para as pessoas simples. Em suas orações, encontramos sua melhor compreensão teológica. Afonso opôs-se com vigor aos teólogos rígidos que consideravam a oração domínio apenas de uma elite espiritual. Ele dizia que orar era possível a qualquer pessoa: Deus concedeu a todos os homens e mulheres, até aos mais pecadores, a graça de orar. Devemos pedir a Deus qualquer graça de que necessitemos e ela nos será concedida!

9 - Orações para pedir

Há uma forte ênfase nos ensinamentos de Santo Afonso sobre as orações que pedem alguma coisa. Alguns professores e pregadores daquela época rebaixavam essa oração insinuando que ela não era "pura ou elevada" o suficiente para as pessoas santas. Santo Afonso rejeitava esse ponto de vista. Ele insistia que ouvíssemos, de preferência, os ensinamentos de Jesus: "Pedi e será dado; buscai e acharei; batei e será aberto" (Mt 7,7).
Se somos tentados a pensar que os santos se tornaram santos por meio de alguma fórmula mágica não disponível para o resto da humanidade, estamos errados. Para Santo Afonso, os santos tornaram-se santos porque oravam! "Todas as graças, por meio das quais tornaram-se santos, foram enviadas a eles como respostas às suas preces." Esse mesmo caminho está aberto para cada um de nós. "Precisamos de humildade; deixe-nos pedi-la e seremos humildes. Precisamos de paciência nas tribulações; deixe-nos pedi-la e seremos pacientes. O que desejamos é o amor divino; deixe-nos pedi-lo e ele nos será dado."

10 - Oração a Maria

De modo muito especial, Santo Afonso insistia para que rezássemos a Maria, nossa Mãe abençoada. Ele escreveu um tratado completo sobre o papel de Maria no plano de salvação de Deus: As Glórias de Maria. Por ser tão amada por Deus e responder totalmente a este amor, ela deveria ser nosso modelo na vida cristã. Além disso, Maria é capaz de interceder por nós. "Ela é cheia de graça; porém, esta plenitude não foi concedida apenas para si, mas também para que compartilhasse conosco."

11 - A Importância da Meditação

Santo Afonso também enfatizava a meditação freqüente, isto é, a reflexão interior e a resposta à Palavra de Deus. "As verdades de fé são realidades espirituais, não podem ser vistas com olhos físicos, mas apenas com os olhos da alma, por meio da reflexão e meditação." Muitas vezes Afonso comparava a meditação ao fogo. "A meditação afeta a alma como o fogo afeta o ferro. Se o ferro está frio, é muito duro e só pode ser moldado com muita dificuldade. Porém, coloque-o no fogo e logo ele amolece e cede aos esforços do ferreiro... Assim é nosso coração: freqüentemente duro e obstinado. Mas sob a ação das graças que recebemos na meditação, nosso coração torna-se flexível, dócil e pode ser moldado por nosso Mestre e Senhor."
Entretanto, para Santo Afonso, a meditação não deve consistir demais em especulações abstratas sobre as verdades da fé. Muito mais importante, diz ele, é a afeição do coração que acompanha esta reflexão. "Após ter meditado sobre algumas verdades eternas, e Deus ter respondido ao seu coração, você deve também falar a Deus. Faça isto, inicialmente, dando forma às afeições, aos atos de fé, aos agradecimentos, à humildade ou esperança, mas acima de tudo através de atos de amor e contrição.

12 - Devoção à Eucaristia

A grande oração de louvor e agradecimento é a celebração do sacrifício e sacramento da Eucaristia. Santo Afonso encorajou católicos a se juntarem sinceramente na celebração da Eucaristia, fazendo os propósitos básicos pelos quais ela foi instituída, propósitos deles próprios: "Primeiro, honrar e glorificar a Deus. Segundo, agradecê-lo por todas as graças e benefícios. Terceiro, tomar satisfações de nossos pecados e dos pecados dos outros. Quarto, adquirir as graças de que necessitamos".
Mesmo fora da Missa, como nos ensina a Igreja, a Eucaristia deve ser reverenciada com grande devoção. Esta devoção estava no coração de Afonso. Em seu famoso Visitas ao Sagrado Sacramento, ele oferta uma ampla variedade de sentimentos e orações para esta devoção. A verdade básica está contida nesta frase: "Deixe-nos, então, nos aproximarmos de Jesus com grande confiança e afeição; permita nos unirmos a ele e pedir suas graças".

Conclusão

Vários outros temas da espiritualidade de Santo Afonso valem a pena serem considerados, mas estes são suficientes no momento. O que foi feito aqui, em comemoração ao segundo centenário de sua morte, foi para lembrarmo-nos do legado espiritual de Santo Afonso e focalizarmos o coração em seus ensinamentos espirituais:
• Deus ama imensamente cada um de nós. 
• Nossa vocação é amar a Deus em retribuição.
• Amamos
a Deus quando realizamos sua santa vontade.
• O egocentrismo é nosso inimigo.
• Não existe amor sem oração.

"Santo Afonso e sua espiritualidade"

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Michel Maria