domingo, 29 de agosto de 2010

No Angelus o Papa invoca Maria Rainha de paz para reter a lógica absurda da violência

Um mundo de irmãos 
para construir a civilização do amor


"Todos os homens se convençam que neste mundo nos devemos ajudar uns aos outros para construir a civilização do amor". Desejou Bento XVI durante o Angelus de domingo, 22 de Agosto, em Castel Gandolfo, invocando a paz "sobretudo onde mais enfurece a lógica absurda da guerra".
Amados irmãos e irmãs! 
Oito dias depois da solenidade da sua Assunção ao Céu, a liturgia convida-nos a venerar a Bem-Aventurada Virgem Maria com o título de "Rainha". A Mãe de Cristo é contemplada coroada pelo seu Filho, isto é, associada à sua Realeza universal, tal como a representam numerosos mosaicos e quadros. Também esta memória se celebra este ano no domingo, adquirindo uma maior luz da Palavra de Deus e da celebração da Páscoa semanal. Em particular, o ícone da Virgem Maria Rainha encontra um significativo confronto no Evangelho de hoje, onde Jesus afirma:  "E há últimos que serão dos primeiros e primeiros que serão dos últimos"
 (Lc 13, 30). Esta é uma expressão típica de Cristo, narrada várias vezes pelos Evangelistas também com fórmulas semelhantes porque evidentemente reflecte um tema querido à sua pregação profética. Nossa Senhora é o exemplo perfeito desta verdade evangélica, isto é, que Deus abaixa os soberbos e os poderosos deste mundo e eleva os humildes (cf. Lc 1, 52). 
A pequena e simples jovem de Nazaré tornou-se a Rainha do mundo! Esta é uma das maravilhas que revelam o coração de Deus. Naturalmente a realeza de Maria é totalmente relativa à de Cristo:  Ele é o Senhor, que, depois da humilhação da morte de cruz, o Pai exaltou acima de qualquer criatura no céu, na terra e debaixo da terra (cf.
 Fl 2, 9-11). Por um desígnio de graça, a Mãe Imaculada foi plenamente associada ao mistério do Filho:  à sua Encarnação; à sua vida terrena, primeiro escondida em Nazaré e depois manifestada no mistério messiânico; à sua Paixão e Morte; e por fim, à glória da Ressurreição e Ascensão ao Céu. A Mãe partilhou com o Filho não só os aspectos humanos deste mistério, mas, por obra do Espírito Santo nela, também a intenção profunda, a vontade divina, de modo que toda a sua existência, pobre e humilde, foi elevada, transformada e glorificada passando através da "porta estreita" que é o próprio Jesus (cf. Lc 13, 24). Sim, Maria foi a primeira que passou através do "caminho" aberto por Cristo para entrar no Reino de Deus, um caminho acessível aos humildes, a quantos confiam na Palavra de Deus e se comprometem a pô-la em prática. 
Na história das cidades e dos povos evangelizados pela mensagem cristã são numerosos os testemunhos de veneração pública, em certos casos até institucional à realeza da Virgem Maria. Mas hoje queremos sobretudo renovar, como filhos da Igreja, a nossa devoção Àquela que Jesus nos deixou como Mãe e Rainha. Confiemos à sua intercessão a oração quotidiana pela paz, sobretudo onde mais enfurece a lógica absurda da violência; para que todos os homens se convençam  de  que  neste  mundo  devemos ajudar-nos  uns  aos  outros  como irmãos  para  construir  a  civilização do  amor.
 Maria,  Regina  pacis, ora pro nobis! 
No final da prece mariana o Santo Padre saudou em várias línguas os fiéis presentes, dizendo aos de expressão portuguesa:  

Saúdo também o grupo brasileiro da paróquia de São Joaquim, diocese de Franca, e demais peregrinos de língua portuguesa, desejando que esta peregrinação vos ajude a fortalecer a confiança
em Jesus Cristo e a encarnar na vida a sua mensagem de salvação. De coração vos agradeço e abençoo. Ide com Deus! 

quarta-feira, 25 de agosto de 2010

O sinal de São Pio X na história da Igreja

Catequese de Bento XVI na audiência geral de quarta-feira 18 de Agosto em Castel Gandolfo 


O "sinal indelével" deixado por São Pio X na história da Igreja foi frisado pelo Sumo Pontífice na catequese durante a audiência geral de quarta-feira 18 de Agosto, no Palácio Pontifício de Castel Gandolfo. 
Prezados irmãos e irmãs 
Hoje, gostaria de meditar acerca da figura do meu Predecessor São Pio X, cuja memória litúrgica será celebrada no próximo sábado, salientando algumas das suas características que podem ser úteis também para os Pastores e os fiéis da nossa época.
 
Giuseppe Sarto, este é o seu nome, nasceu em Riese (Treviso) em 1835 de uma família de camponeses e depois dos estudos no Seminário de Pádua foi ordenado sacerdote com 23 anos de idade. Primeiro foi vice-pároco em Tombolo, depois pároco em Salzano, em seguida cónego da catedral de Treviso, com o encargo de chanceler episcopal e director espiritual do Seminário diocesano. Nestes anos de rica e generosa experiência pastoral, o futuro Pontífice demonstrou aquele profundo amor a Cristo e à Igreja, a humildade e simplicidade e a grande caridade para com os mais necessitados, que constituíram características de toda a sua vida. Em 1884 foi nomeado Bispo de Mântua e em 1893 Patriarca de Veneza. No dia 4 de Agosto de 1903 foi eleito Papa, ministério que aceitou com hesitação, porque não se considerava à altura de uma tarefa tão importante.
 
O Pontificado de São Pio X deixou um sinal indelével na história da Igreja e caracterizou-se por uma notável esforço de reforma, resumida no mote
Instaurare omnia in Christo, "Renovar tudo em Cristo". Com efeito as suas intervenções envolveram os vários âmbitos eclesiais. Desde o começo, dedicou-se à reorganização da Cúria romana; depois, deu início aos trabalhos para a redacção do Código de Direito Canónico, promulgado pelo seu Sucessor Bento xv. Sucessivamente, promoveu a revisão dos estudos e do percurso de formação dos futuros sacerdotes, fundando também vários seminários regionais, dotados de boas bibliotecas e professores preparados. Outro ramo importante foi o da formação doutrinal do Povo de Deus. Desde os anos em que era pároco, tinha redigido pessoalmente um catecismo e, durante o Episcopado em Mântua, trabalhara a fim de que se chegasse a um catecismo único, se não universal, pelo menos italiano. Como autêntico Pastor, compreendera que a situação nessa época, também devido ao fenómeno da emigração, tornava necessário um catecismo ao qual cada fiel pudesse fazer referência, independentemente do lugar e das circunstâncias de vida. Como pontífice, preparou um texto de doutrina cristã para a Diocese de Roma, depois se difundiu em toda a Itália e no mundo. Este Catecismo, chamado "de Pio X" foi para muitas pessoas uma guia segura na aprendizagem das verdades relativas à fé pela sua linguagem simples, clara e específica, e pela eficácia da sua exposição. 
Ele dedicou uma atenção notável à reforma da Liturgia, de modo particular da música sacra, para levar os fiéis a uma vida de oração mais profunda e a uma participação mais completa nos Sacramentos. No Motu Proprio
 Tra le sollecitudini, de 1903, primeiro ano do seu Pontificado, ele afirma que o verdadeiro espírito cristão tem a sua fonte primária e indispensável na participação concreta nos mistérios sacrossantos e na oração pública e solene da Igreja (cf. aas 36 [1903], 531). Por isso, recomendava a aproximação frequente dos Sacramentos, favorecendo a recepção diária da Sagrada Comunhão, bem preparados, e antecipando oportunamente a Primeira Comunhão das crianças mais ou menos aos sete anos de idade, "quando a criança começa a raciocinar" (cf. S. Congr. de Sacramentis, Decretum Quam singulari:  aas 2 [1910], 582). 
Fiel à tarefa de confirmar os irmãos na fé, São Pio X, diante de algumas tendências que se manifestaram no âmbito teológico, no final do século xix e no início do século xx, interveio com determinação, condenando o "Modernismo", para defender os fiéis de concepções erróneas e promover um aprofundamento científico da Revelação, em harmonia com a Tradição da Igreja. Em 7 de Maio de 1909, com a Carta Apostólica
 Vinea electa,fundou o Pontifício Instituto Bíblico. Os últimos meses da sua vida foram funestados pelos indícios da guerra. O apelo aos católicos do mundo, lançado a 2 de Agosto de 1914, para manifestar "a dor acerba" da hora presente, era o clamor de sofrimento do pai que vê os filhos pôr-se uns contra os outros. Faleceu pouco tempo depois, no dia 20 de Agosto, e a sua fama de santidade começou a difundir-se imediatamente no meio do povo cristão. 
Caros irmãos e irmãs, São Pio X ensina-nos a todos que na base da nossa obra apostólica, nos vários campos em que trabalhamos, deve haver sempre uma íntima união pessoal com Cristo, que se há-de cultivar e aumentar dia após dia. Eis o cerne de todo o seu ensinamento, de todo o seu compromisso apostólico. Somente se formos apaixonados pelo Senhor, seremos capazes de conduzir os homens a Deus, de os abrir ao seu Amor misericordioso e, deste modo, de abrir o mundo à misericórdia de Deus.
 
Após a catequese, aos diversos grupos de fiéis congregados no pátio interno do Palácio Pontifício de Castel Gandolfo, o Sumo Pontífice dirigiu expressões de saudação em diversas línguas, proferindo em português estas palavras. 

A minha saudação a todos os peregrinos vindos do Brasil, de Portugal e demais países lusófonos, com uma bênção particular para os alunos do Seminário do Verbo Divino, de Tortosendo:  na vossa formação, empenhai-vos em seguir o exemplo dos grandes pastores, como São Pio X, sendo sempre humildes e fiéis servidores da Verdade. Que Deus vos abençoe!

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Correção feita pela CNBB diante de manchete tendenciosa e confusa em Jornal.




O jornal O Estado de S. Paulo, em sua edição de sexta-feira, 20, na página A7, trouxe uma nota afirmando que o secretário geral da CNBB, dom Dimas Lara Barbosa, “admitiu que os católicos votem em candidatos que são favoráveis ao aborto”. A citação, fora de seu contexto, leva o leitor a interpretações que não correspondem em absoluto à posição do secretário geral em relação a este tema.
Diante disso, o secretário solicitou uma retificação por parte do jornal que foi publicada na edição deste sábado, 21, na página 2, coluna Fórum dos Leitores.
Publicamos abaixo a íntegra do texto
Prezado Senhor Diretor de Redação,
Foi com desagradável surpresa que vi estampada minha fotografia no topo da página A7 da Edição de hoje, sexta-feira, 20 de agosto, com a nota de que eu teria admitido que os católicos votem em candidatos que são favoráveis ao aborto.
Gostaria de expressar, mais uma vez, a posição inegociável da CNBB, que é a mesma do Magistério da Igreja Católica, de defesa intransigente da dignidade da vida humana, desde a sua concepção até a morte natural. O aborto é um crime que clama aos céus, um crime de lesa humanidade. Isso, evidentemente, não significa que o peso da culpa deva recair sobre a gestante. Também ela é, na maioria das vezes, uma grande vítima dessa violência, e precisa de acompanhamento médico, psicológico e espiritual. Aliás, esses
cuidados deveriam vir antes de uma decisão tão dramática.

Os católicos jamais poderão concordar com quaisquer programas de governo, acordos internacionais, leis ou decisões judiciais que venham a sacrificar a vida de um inocente, ainda que em nome de um suposto estado de direito. Aqui, vale plenamente o direito à objeção de consciência e, até, se for o caso, de desobediência civil.
O contexto que deu origem à manchete em questão é uma reflexão que eu fazia em torno da diferença entre eleições majoritárias e proporcionais. No caso da eleição de vereadores e deputados  (eleições proporcionais), o eleitor tem uma gama muito ampla para escolher. São centenas de candidatos, e seria impensável votar em alguém que defenda a matança de inocentes, ainda mais com dinheiro público. No caso de eleições majoritárias (prefeitos, senadores, governadores, presidente), a escolha recai sobre alguns poucos candidatos. Às vezes, sobretudo quando há segundo turno, a escolha se dá entre apenas dois candidatos. O que fazer se os dois são favoráveis ao aborto? Uma solução é anular o próprio voto. Quais as conseqüências disso? O voto nulo não beneficiaria justamente aquele que não se quer eleger?É uma escolha grave, que precisa ser bem estudada, e decidida com base numa visão mais ampla do programa proposto pelo candidato ou por seu Partido, considerando que a vida humana não se resume a seu estágio embrionário.
Na luta em defesa da vida, o problema nunca é pontual. As agressões chegam de vários setores do executivo, do legislativo, do judiciário e, até, de acordos internacionais. E chegam em vários níveis: fome, violência, drogas, miséria… São as limitações da democracia representativa. Meu candidato sempre me representa? Definitivamente, não! Às vezes, o candidato é bom, mas seu Partido tem um programa que limita sua ação. Por isso, o exercício da cidadania não pode se restringir ao momento do voto. É preciso acompanhar, passo a passo, os candidatos que forem eleitos. A iniciativa da Ficha Limpa mostrou claramente que, mesmo num Congresso com tantas vozes contrárias, a força da união do povo muda o rumo das votações.
Que o Senhor da Vida inspire nossos eleitores, para que, da decisão das urnas nas próximas eleições, nasçam governos dignos do cargo que deverão assumir. E que o cerne de toda política pública seja a pessoa humana, sagrada, intocável, desde o momento em que passa a existir, no ventre de sua própria mãe.
Dom Dimas Lara Barbosa
Bispo Auxiliar do Rio de Janeiro
Secretário Geral da CNBB

Homilia da missa do Papa na solenidade da Assunção da Bem-Aventurada Virgem Maria

O céu é o amor de Deus
onde há lugar também para o homem



O amor de Deus é tão grande, a ponto de reservar um lugar também para o homem, recordou o Santo Padre durante a homilia da missa celebrada na paróquia de S. Tomás de Vilanova em Castel Gandolfo, na manhã de domingo 15 de Agosto, solenidade da Assunção de Maria ao céu. 
Eminência Excelência 
Autoridades
 
Caros irmãos e irmãs
 
Hoje, a Igreja celebra uma das mais importantes festas do ano litúrgico, dedicadas a Maria Santíssima:  a Assunção. No final da sua vida terrena, Maria foi levada de corpo e alma ao Céu, ou seja, à glória da vida terrena, à comunhão completa e perfeita com Deus.
 
No corrente ano celebra-se o sexagésimo aniversário da data em que o Venerável Papa Pio XII, no dia 1 de Novembro de 1950, definiu solenemente este dogma, e gostaria de ler embora seja um pouco complicado a forma da dogmatização. O Papa afirma:  "De tal modo, a augusta Mãe de Deus, arcanamente unida a Jesus Cristo desde toda a eternidade com um único decreto de predestinação, Imaculada na sua Conceição, Virgem pura na sua maternidade divina, Sócia generosa do Redentor divino que alcançou o triunfo total sobre o pecado e sobre as suas consequências, no final, como coroação suprema dos seus privilégios, obteve a graça de ser preservada da corrupção do sepulcro e, vencendo a morte, como já o seu Filho, de ser elevada de corpo e alma à glória do Céu, onde resplandece como Rainha à direita do seu Filho, Rei
 imortal dos séculos" (Constituição apostólicaMunificentissimus Deus, em aas 42 [1959], 768-769). 
Por conseguinte, este é o núcleo da nossa fé na Assunção:  nós acreditamos que Maria, como Cristo seu Filho, já venceu a morte e já triunfa na glória celeste, na totalidade do seu ser, "de corpo e alma".
 
Na segunda Leitura de hoje, São Paulo ajuda-nos a lançar um pouco de luz sobre este mistério, partindo do acontecimento central da história humana e da nossa fé:  ou seja, o acontecimento da ressurreição de Cristo, que é "primícias daqueles que já morreram". Mergulhados no seu Mistério pascal, nós tornamo-nos partícipes da sua vitória sobre o pecado e sobre a morte. Eis o segredo surpreendente e a realidade-chave de toda a vicissitude humana. São Paulo diz-nos que todos nós estamos "incorporados" em Adão, o primeiro e antigo homem, todos nós temos a mesma herança humana, à qual pertence:  o sofrimento, a morte e o pecado. Mas a esta realidade, que todos nós podemos ver e viver todos os dias, acrescenta algo de novo:  nós encontramo-nos não apenas nesta herança do único ser humano, encetado com Adão, mas somos "incorporados" também no novo homem, em Cristo ressuscitado, e assim a vida da Ressurreição já está presente
em nós. Portanto, esta primeira "incorporação" biológica e incorporação na morte, incorporação que gera a morte. A segunda, nova, que nos é conferida mediante o Baptismo, é a "incorporação" que dá a vida. Volto a citar a segunda Leitura hodierna; São Paulo diz:  "Porque, assim como por meio de um homem veio a morte, também a ressurreição dos mortos veio por através de um homem. Porque, assim como todos morrem em Adão, também em Cristo todos serão vivificados. Cada qual, porém, na sua ordem:  Cristo, como primícias; depois, os que são de Cristo, por ocasião da sua vinda" (1 Cor 15, 21-23). 
Pois bem, aquilo que São Paulo afirma a respeito de todos os homens, a Igreja, no seu Magistério infalível, é dito por Maria, de um modo e num sentido específicos:  a Mãe de Deus é inserida em tal medida no Mistério de Cristo, a ponto de ser partícipe da Ressurreição do seu Filho com todo o seu ser, já no final da vida terrena; vive aquilo que nós esperamos no final dos tempos, quando for aniquilado "o último inimigo", a morte (cf.
 1 Cor 15, 26); já vive aquilo que proclamamos no Credo:  "Espero a ressurreição dos mortos e a vida do mundo que há-de vir". 
Então, podemos perguntar-nos:  quais são as raízes desta vitória sobre a morte, prodigiosamente antecipada em Maria? As raízes estão na fé da Virgem de Nazaré, como testemunha o trecho do Evangelho que há pouco ouvimos (cf.
 Lc 1, 39-56):  uma fé que é obediência à Palavra de Deus e abandono total à iniciativa e à obra divina, segundo quanto lhe é anunciado pelo Arcanjo. Por conseguinte, a fé é a grandeza de Maria, como proclama alegremente Isabel:  Maria é "bendita entre as mulheres", "bendito é o fruto do seu ventre", porque é "a Mãe do Senhor", porque acredita e vive de maneira singular a "primeira" das bem-aventuranças, a bem-aventurança da fé. Isabel confessa-o na alegria, sua e do menino que salta de alegria no seu seio:  "Feliz aquela que acreditou que teriam cumprimento as coisas que lhe foram ditas da parte do Senhor" (Lc 1, 45). Queridos amigos, não nos limitemos a admirar Maria no seu destino de glória, como uma pessoa muito distante de nós:  não! Somos chamados a contemplar aquilo que o Senhor, no seu amor, desejou também para nós, para o nosso destino final:  viver através da fé na comunhão perfeita de amor com Ele e, deste modo, viver verdadeiramente. 
A este propósito, gostaria de meditar sobre um aspecto da afirmação dogmática, onde se fala de assunção à glória celestial. Hoje, todos nós estamos perfeitamente conscientes de que, com o termo "céu" não nos referimos a um lugar qualquer do universo, a uma estrela ou a algo de semelhante:  não. Referimo-nos a algo de muito grande e difícil de ser definido com os nossos limitados conceitos humanos. Com este termo, "céu", queremos afirmar que Deus, o Deus que se fez próximo de nós, não nos abandona nem sequer na morte e além da morte, mas tem um lugar para nós e nos concede a eternidade; queremos afirmar que em Deus existe um lugar para nós. Para compreender um pouco mais desta realidade, olhemos para a nossa própria vida:  todos nós experimentamos que, quando uma pessoa morre, continua a subsistir de alguma maneira na memória e no coração daqueles que a conheceram e amaram. Poderíamos dizer que neles continua a viver uma parte de tal pessoa, mas é como uma "sombra", porque também esta sobrevivência no coração dos próprios entes queridos está destinada a terminar. Deus, no entanto, nunca passa e todos nós existimos em virtude do seu amor. Existimos porque Ele nos ama, porque Ele nos pensou e nos chamou à vida. Existimos nos pensamentos e no amor de Deus. Existimos em toda a nossa realidade, não apenas na nossa "sombra". A nossa tranquilidade, a nossa esperança e a nossa paz fundamentam-se precisamente nisto:  em Deus, no seu pensamento e no seu amor, e não sobrevive unicamente uma "sombra" de nós mesmos, mas nele, no seu amor criador, nós somos conservados e introduzidos com toda a nossa vida, com todo o nosso ser na eternidade.
 
É o seu Amor que vence a morte e nos confere a eternidade, e é este amor ao qual chamamos "céu":  Deus é tão grande, a ponto de reservar um lugar também para nós. E o homem Jesus, que é ao mesmo tempo Deus, constitui para nós a garantia de que o ser-homem e o ser-Deus podem existir e viver eternamente um no outro. Isto quer dizer que de cada um de nós não continuará a existir somente uma parte que nos é, por assim dizer, arrebatada, enquanto outras caem em ruína; quer dizer principalmente que Deus conhece e ama o homem todo, o que nós somos. E Deus acolhe na sua eternidade aquilo que
 agora, na nossa vida feita de sofrimento e amor, de esperança, alegria e tristeza, cresce e se realiza. O homem todo, toda a sua vida é tomada por Deus e nele, purificada, recebe a eternidade. Caros amigos, penso que esta é uma verdade que nos deve encher de profunda alegria. O Cristianismo não anuncia somente uma qualquer salvação da alma num além indefinido, no qual tudo o que foi precioso e querido para nós neste mundo seria eliminado, mas promete a vida eterna, "a vida do mundo que há-de vir":  nada daquilo que nos é precioso e querido cairá em ruínas, mas encontrará a plenitude em Deus. Todos os fios de cabelo da nossa cabeça estão contados, disse certo dia Jesus (cf. Mt 10, 30). O mundo definitivo será o cumprimento também desta terra, como afirma São Paulo:  "E também ela [a criação] será libertada da servidão da corrupção para participar, livremente, da glória dos filhos de Deus" (Rm 8, 21). Assim, compreende-se como o Cristianismo incute uma esperança forte num porvir luminoso e abre o caminho para a realização deste futuro. Precisamente como cristãos, nós somos chamados a edificar este mundo novo, a trabalhar a fim de que um dia se torne o "mundo de Deus", um mundo que há-de ultrapassar tudo aquilo que nós mesmos poderíamos construir. Em Maria Assunta ao Céu, plenamente partícipe da Ressurreição do Filho, nós contemplamos a realização da criatura humana segundo o "mundo de Deus". 
Oremos ao Senhor a fim de que nos faça compreender como toda a nossa vida é preciosa aos seus olhos; fortaleça a nossa fé na vida eterna; faça de nós, homens da esperança, que trabalham para construir um mundo aberto a Deus, homens repletos de alegria, que sabem vislumbrar a beleza do mundo futuro no meio dos afãs da vida quotidiana e nesta certeza vivem, acreditam e esperam.
 
Amém!


quarta-feira, 18 de agosto de 2010

O uso dos bens na lógica do amor



O Papa recordou o exemplo dos santos Domingos, Clara, Lourenço, Edith Stein e Kolbe 
"Utilizar as coisas sem egoísmo, mas segundo a lógica de Deus, a lógica da atenção ao próximo, a lógica do amor":  este foi o convite dirigido pelo Papa aos fiéis reunidos no domingo 8 de Agosto em Castel Gandolfo, para a recitação do Angelus. No final da prece mariana, Bento XVI recordou a memória litúrgica dos principais santos comemorados durante a semana. 
Prezados irmãos e irmãs 
No trecho evangélico deste domingo, continua o discurso de Jesus aos discípulos sobre o valor da pessoa aos olhos de Deus e sobre a inutilidade das preocupações terrenas. Não se trata de um elogio ao desinteresse. Pelo contrário, ouvindo o convite tranquilizador de Jesus:  "Não temas, pequenino rebanho, porque aprouve ao vosso Pai dar-vos o Reino" (
Lc 12, 32), o nosso coração abre-se a uma esperança que ilumina e anima a existência concreta:  temos a certeza de que "o Evangelho não é apenas uma comunicação de realidades que se podem saber, mas uma comunicação que gera factos e muda a vida. A porta tenebrosa do tempo, do futuro, foi aberta de par em par. Quem tem esperança, vive diversamente; foi-lhe dada uma vida nova" (Encíclica Spe salvi, 2). Como lemos no trecho da Carta aos Hebreus, na Lituriga de hoje, Abraão entra com um coração confiante na esperança que Deus lhe abre:  a promessa de uma terra e de uma "descendência numerosa", e parte "sem saber aonde ia", confiando unicamente em Deus (cf. 11, 8-12). E no Evangelho hodierno, Jesus através de três parábolas explica como a espera do cumprimento da "bem-aventurada esperança", a sua vinda, deve impelir ainda mais a uma vida intensa, rica de obras boas:  "Vendei os vossos bens e dai-os de esmola. Fazei para vós bolsas que não envelheçam, um tesouro inesgotável nos Céus, do qual o ladrão não se aproxima e a traça não corrói" (Lc 12, 33). Trata-se de um convite a utilizar as coisas sem egoísmo, nem sede de posse ou de domínio, mas segundo a lógica de Deus, a lógica da atenção ao próximo, a lógica do amor:  como escreve sinteticamente Romano Guardini, "na forma de uma relação:  a partir de Deus, em vista de Deus" (Accettare se stessi, Bréscia 1992, pág. 44). 
A este propósito, desejo chamar a atenção para alguns Santos, que celebraremos nesta semana e que delinearam a sua vida precisamente a partir de Deus e em vista de Deus. Hoje, recordamos São Domingos de Gusmão, fundador, no século xiii, da Ordem dominicana, que desempenha a missão de educar a sociedade a respeito das verdades de fé, preparando-se com o estudo e a oração. Nessa mesma época, Santa Clara de Assis cuja memória celebraremos na quarta-feira dando continuidade à obra franciscana, funda a Ordem das
 Clarissas. No dia 10 de Agosto recordaremos o Santo diácono Lourenço, mártir do século iii, cujas relíquias são veneradas em Roma na Basílica de São Lourenço fora dos Muros. Enfim, faremos memória de outros dois mártires do século xx, que compartilharam o mesmo destino em Auschwitz. No dia 9 de Agosto, recordaremos a Santa carmelita Teresa Benedita da Cruz, Edith Stein, e em 14 de Agosto o sacerdote franciscano São Maximiliano Kolbe, fundador da Milícia de Maria Imaculada. Ambos atravessaram a época obscura da segunda guerra mundial, sem jamais perder de vista a esperança, o Deus da vida e do amor. 
Confiemos no auxílio maternal da Virgem Maria, Rainha dos Santos que, amorosamente, compartilha a nossa peregrinação. Dirijamos-lhe agora a nossa oração.


segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Destruição da Família Lá e Cá






Julho 16, 2010 escrito por Dom Lourenço

Quando o Haiti foi destruído pelo terremoto, o mundo se solidarizou, enviou ajuda, donativos, voluntários (a imprensa noticiou que apenas 2% do que foi doado chegou ao Haiti. Onde está o resto? Sempre a mesma história, e os ingênuos continuam sendo enganados).
Quando o Chile sofreu um dos maiores terremotos da história, o susto aqui no Brasil foi mais importante, sendo o vizinho mais próximo, chegando mesmo a ser sentido em alguns lugares do nosso país.
Mas o que fazer quando uma Pátria vizinha, a Argentina, levanta-se com o deprimente  título de ter sido a primeira nação da América do Sul a permitir a união de homossexuais. Corre um arrepio no sangue brasileiro: quando será a nossa vez? O povo argentino mobilizou-se para impedir que seus políticos votassem de modo tão iníquo e contrário a Deus, à Pátria e à Lei Natural. Mas nada conseguiram! E nós, o que faremos?  Leia mais

Tivemos algumas vitórias recentes e precisamos nos preparar para um combate rude que nos dê o alívio de saber: apesar de ser um povo pacato e simples, o brasileiro, de um modo geral, não gosta de quebrar a Lei Natural. Votou contra o desarmamento e conseguiu; votou contra políticos abortistas e estes foram rechaçados nas urnas!
Mais cedo ou mais tarde teremos de votar para impedir a manobra dessa gente sem Deus e sem alma. Nossos políticos não são melhores do que os políticos argentinos, ao contrário. Logo nossos corruptos e esvaziados políticos vão querer igualar o que eles chamam de "avanço". Certamente avançam, mas bordejam perigosamente as margens fumegantes do inferno. Estejamos atentos e prontos para o combate, como nossos vizinhos estiveram. Vejam o video das manifestações em Buenos Aires:
Todas essas nações católicas foram fundadas sob o manto da Cruz de Nosso Senhor e chegaram a conhecer um final de civilização católica. Hoje, já pluralizadas, pulverizadas e globalizadas, nossas Pátrias seguem a passos largos no caminho da decomposição completa: povo que abandonou suas raizes, já não funda sua força na estabilidade do mastro de sua Bandeira; povo que abandonou sua moral, prefere temer os tribunais dos homens do que o Tribunal de Deus; povo que abandonou sua fé, preferindo um carnaval religioso de todas as confissões antes de dobrar seus joelhos diante da Hóstia Consagrada.
Jesus, Maria, José: salvai nossas famílias! 

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

No Angelus de domingo Bento XVI reflectiu sobre o Pai-Nosso e recordou as vítimas de Duisburg 

Quem reza nunca está sozinho


A oração do Pai-Nosso "não é um pedir para satisfazer as próprias vontades, mas antes para manter viva a amizade com Deus". Explicou o Papa durante o Angelus de domingo, 25 de Julho, festa litúrgica de São Tiago o Maior. De Castel Gandolfo Bento XVI dirigiu também uma saudação aos peregrinos que foram em grande número a Santiago de Compostela.

Queridos irmãos e irmãs!
O Evangelho deste domingo apresenta-nos Jesus recolhido em oração, um pouco retirado dos seus discípulos. Quando terminou, um deles disse-lhe:  "Senhor, ensina-nos a orar" 
(Lc 11, 1). Jesus não fez objecções, não falou de fórmulas estranhas nem esotéricas, mas com muita simplicidade disse:  "Quando orardes, dizei:  Pai", e ensinou-lhes o Pai-Nosso (cf. Lc 11, 2-4), tirando-a da sua própria oração, com a qual se dirigia a Deus, seu Pai. São Lucas transmite-nos o Pai-Nosso numa forma mais breve em relação à do Evangelho de São Mateus, que entrou no uso comum. Estamos diante das primeiras palavras da Sagrada Escritura que aprendemos desde crianças. Elas imprimem-se na memória, plasmando a nossa vida, acompanham-nos até ao último respiro. Elas revelam que "não somos já de modo completo filhos de Deus, que no-lo devemos tornar e sê-lo cada vez mais mediante a nossa comunhão sempre mais profunda com Jesus. Ser filho torna-se o equivalente a seguir Cristo" (Bento XVI, Gesù di Nazaret, Milão 2007, p. 168).
Esta oração acolhe e expressa também as necessidades humanas materiais e espirituais:  "Dai-nos em cada dia o pão da nossa subsistência; perdoai-nos os nossos pecados" 
(Lc 11, 3-4). E precisamente por causa das necessidades e das dificuldades de cada dia, Jesus exorta com vigor:  "Digo-vos, pois:  Pedi e dar-se-vos-á; quem procura encontra e ao que bate, abrir-se-á" (Lc 11, 9-10). Não é um pedir para satisfazer as próprias vontades, quanto ao contrário para manter viva a amizade com Deus, o qual diz sempre o Evangelho "dará o Espírito Santo àqueles que lho pedirem" (Lc 11, 13). Experimentaram-no os antigos "padres do deserto" e os contemplativos de todos os tempos, que se tornaram, pela oração, amigos de Deus, como Abraão, que implorou o Senhor para que poupasse os poucos justos do extermínio da cidade de Sodoma (cf. Gn 18, 23-32). Santa Teresa de Ávila convidava as suas irmãs de hábito, dizendo:  "devemos suplicar a Deus para que nos liberte definitivamente de qualquer perigo e nos preserve de todo o mal. E por mais imperfeito que seja o nosso desejo, esforcemo-nos por insistir com este pedido. O que nos custa pedir muito, visto que nos dirigimos ao Omnipotente?" (Cammino, 60 (34), 4, em Opere complete, Milão 1998, p. 846). Todas as vezes que recitamos o Pai-Nosso, a nossa voz entrelaça-se com a da Igreja, porque quem reza nunca está sozinho. Cada fiel deverá procurar e poderá encontrar na verdade e na riqueza da oração cristã, ensinada pela Igreja, o próprio caminho, o seu modo de oração... portanto deixar-se-á conduzir... pelo Espírito Santo, o qual o guia, através de Cristo, para o Pai" (Congregação para a Doutrina da Fé, Alguns aspectos sobre a meditação cristã, 15 de Outubro de 1989, 29 aas 82 [1990], 378).
Celebra-se hoje a festa do apóstolo São Tiago chamado "o Maior", o primeiro dos Apóstolos, que deixou o pai e o trabalho de pescador para seguir Jesus e por Ele deu a vida. Dirijo de coração um pensamento especial aos peregrinos que foram em grande número a Santiago de Compostela! A Virgem Maria nos ajude a redescobrir a beleza e a profundidade da oração cristã.
No final da prece mariana o Santo Padre saudou em várias línguas os fiéis presentes, recordando de modo especial as jovens vítimas de Duisburg, e dizendo aos de expressão portuguesa: 

Queridos irmãos e irmãs, foi com profunda dor que tomei conhecimento da tragédia ocorrida em Duisburg, na Alemanha, da qual foram vítimas numerosos jovens. Recordo ao Senhor na oração os defuntos, os feridos e os seus familiares.
Saúdo também os peregrinos de língua portuguesa, especialmente o grupo de brasileiros vindos da diocese de Blumenau. Agradecido pela amizade e orações, sobre todos invoco os dons do Espírito Santo para serem verdadeiras testemunhas de Cristo no meio das respectivas famílias e comunidades que de coração abençoo. 

(©L'Osservatore Romano - 31 de Julho de 2010)