domingo, 31 de outubro de 2010

São João da Cruz , o poeta do amor!




Foi no ano de 1542 que em Fontiberos, pequena localidade de Castela, nasceu João da Cruz, hoje venerado como grande Santo na Igreja. Depois da morte prematura do pai, a mãe com seus quatro filhos se mudou para Medina del Campo, onde João iniciou os estudos e entrou na Ordem de Nossa Senhora do Carmo. Desde a infância o distinguiu sempre uma terna devoção a Maria Santíssima, que mais uma vez lhe salvou a vida, milagrosamente. O que raramente se observa em meninos: O desejo da mortificação, em João era bem pronunciado, quando contava apenas 9 anos. Escolhendo para si um leito duro, poucas horas de sono dava ao corpo, castigando-o ainda com jejuns assaz rigorosos. Estudante , ainda tinha por ocupação predileta visitar doentes nos hospitais e prestar-lhes serviços de enfermeiro.
Uma vez feito religioso, não se satisfazia com as praxes disciplinares usuais: Tinha o intento de moldar a vida religiosa pelo rigor antigo da Ordem . Tendo chegado o dia da celebração da primeira Missa, examinou a consciência com o maior escrúpulo; não achando falta com que tivesse gravemente ofendido a Deus, deu muitas graças, pedindo a Nosso Senhor, que o preservasse sempre do pecado mortal. Esta oração foi ouvida, concedendo-lhe Deus a graça da inocência até a morte. Alcançou na perfeição um grau tão elevado, que na sua vida não há exemplo de pecado venial deliberado. Santa Teresa de Jesus, que foi sua contemporânea, considerava-o santo, e afirma que nunca lhe observou a mínima falta. A mesma Santa conheceu São João da Cruz, por ocasião da fundação dum convento em Medina del Campo. João, levado pela inclinação à vida austera, tencionava entrar na Ordem dos Trapistas, mas antes de tomar qualquer resolução definitiva neste sentido, pediu o conselho de Santa Teresa. Esta lhe disse, que mais acertado, andaria por ser mais do agrado de Deus, se permanecesse na Ordem Carmelita, e se incumbisse também da reforma da disciplina regular; era esta a vontade de Deus. João apresentou este plano a Deus nas orações e ao confessor, e decidiu seguir a opinião de Santa Teresa. Em pouco tempo, conseguiu a graça de Deus a reforma de alguns conventos da Ordem. A opiniões contrárias fechava os ouvidos, dizendo que o caminho estreito para o Céu, não exigia causa de menos valor.
Só Deus conhece os sofrimentos, perseguições e injúrias de que o reformador foi alvo no cumprimento da nobre missão. João não procurava a honra própria. O amor de Deus era a única força motriz que o impelia a trabalhar e sofrer. Jesus Cristo, em uma aparição com que se dignou de distinguir a seu servo, perguntou-lhe pela recompensa que esperava pelos trabalhos e sofrimentos. João respondeu: “Não outra coisa, Senhor, do que sofrer por vosso amor e ser desprezado pelos homens.”
Eram três coisas que pedia a Deus, lhe concedesse: Primeiro, dar-lhe força para trabalhar e sofrer muito; segundo, não o fazer sair deste mundo como superior de uma comunidade e terceiro, deixá-lo morrer desprezado e escarnecido pelos homens. Este desejo de ser desprezado, era fruto da meditação constante sobre a Sagrada Paixão e Morte de Jesus Cristo. Falando neste grande mistério da nossa Religião, o semblante ardia-lhe, e durante a celebração da santa Missa, era freqüente o estado extático, e dos olhos lhe corriam abundantes lágrimas. Nosso Senhor |Jesus Cristo, mostrou-se-lhe uma vez na figura que tinha, quando morreu na cruz. Esta imagem ficou tão profundamente gravada na memória do santo, que não podia recordá-la sem chorar.
A todos que com ele se relacionavam, João da Cruz recomendava com muito empenho e devoções ao Salvador crucificado, à Santíssima Trindade, ao Santíssimo Sacramento. Os pecadores mais empedernidos não resistiam à eloqüência e ao zelo do fervoroso carmelita e muitos lhe deveram a conversão. É inegável que a graça divina muito o auxiliou, na grande influência que exercia sobre os corações. A muitos pecadores desvendou os pecados mais ocultos, em muitos casos predisse o futuro, doentes desenganados recuperaram a saúde em virtude de sua palavra. Muitas vezes lhe apareciam Maria Santíssima, São José, São João e o próprio Salvador. Memoráveis são as aparições, com que foi consolado durante a prisão de nove meses, a que injustamente fora condenado.
Nessas trevas exteriores acendeu-se-lhe a chama de sua poesia espiritual. “Padecer e depois morrer” era o lema do autor da “Noite Escura da alma“, da “Subida do monte Carmelo“, do “Cântico Espiritual” e da “Chama de amor viva“.
A doutrina de João da Cruz é plenamente fiel à antiga tradição: o objetivo do homem na terra é alcançar “Perfeição da Caridade e elevar-se à dignidade de filho de Deus pelo amor”; a contemplação não é um fim em si mesma, mas deve conduzir ao amor e à união com Deus pelo amor e, por último, deve levar à experiência dessa união à qual tudo se ordena”. “Não há trabalho melhor nem mais necessário que o amor”, disse o Santo. “Fomos feitos para o amor”. “O único instrumento do qual Deus se serve é o amor”. “Assim como o Pai e o Filho estão unidos pelo amor, assim o amor é o laço da união da alma com Deus”.

Noite escura da alma

por: São João da Cruz

Em uma noite escura,
De amor em vivas ânsias inflamada,
Oh, ditosa ventura!
Saí sem ser notada,
Já minha casa estando sossegada.
Na escuridão, segura,
Pela secreta escada, disfarçada,
Oh, ditosa ventura!
Na escuridão, velada,
Já minha casa estando sossegada.
Em noite tão ditosa,
E num segredo em que ninguém me via,
Nem eu olhava coisa,
Sem outra luz nem guia
Além da que no coração me ardia.
Essa luz me guiava,
Com mais clareza que a do meio-dia,
Aonde me esperava
Quem eu bem conhecia,
Em sítio onde ninguém aparecia.
Oh, noite que me guiaste!
Oh, noite mais amável que a alvorada!
Oh, noite que juntaste
Amado com amada,
Amada já no Amado transformada!
Em meu peito florido
Que, inteiro para ele só guardava,
Quedou-se adormecido,
E eu, terna, o regalava,
E dos cedros o leque o refrescava.
Da ameia a brisa amena,
Quando eu os seus cabelos afagava,
Com sua mão serena
Em meu colo soprava,
E meus sentidos todos transportava.
Esquecida, quedei-me,
O rosto reclinado sobre o Amado;
Tudo cessou. Deixei-me,
Largando meu cuidado
Por entre as açucenas olvidado.
O amor leva às alturas da contemplação, mas como o amor é produto da fé, que é a única ponte que pode salvar o abismo que separa a nossa inteligência do infinito de Deus, a fé ardente e vívida é o princípio da experiência mística. João da Cruz costuma pedir a Deus três coisas: que não deixasse passar um só dia de sua vida sem enviar-lhe sofrimentos, que não o deixasse morrer ocupando o cargo de superior e que lhe permitisse morrer humilhado e desprezado.
Em 1591, foi o fiel servo de Deus chamado à recompensa. Uma longa e dolorosa doença precedera-lhe a morte. Quando os médicos lhe comunicaram a incurabilidade da moléstia, disse João as palavras do salmista: “Muito me alegrei em ouvir isto; hei de entrar na casa do Senhor”. Meia hora antes da morte, mandou reunir os confrades, exortou-os à perseverança e disse: “São horas de eu partir”. Quando ouviu o sino bater meia-noite, hora em que a comunidade costumava cantar as matinas, exclamou: “Eu as cantarei no céu!”. Depois, tomou o crucifixo nas mãos, beijou-o ternamente, dizendo: “Em vossas mãos, eu encomendo o meu espírito”.
São João da Cruz, figura entre os mestres da teologia mística. Escreveu as seguintes obras: “A Subida ao Carmelo” – “A Noite Escura da Alma” – “Cântico Espiritual Entre a Alma e o Cristo” – “A Viva Chama de Amor” e “Os Espinhos do Espírito”. São obras clássicas que lhe merecem o título de Doutor da Igreja, com que Pio XI o distinguiu em 24 de agosto de 1926.
Talvez a mais bela e completa descrição física e espiritual do Santo Fundador tenha sido feita por Frei Eliseu dos Mártires que com ele conviveu em Baeza: “Homem de estatura mediana, de rosto sério e venerável. Um pouco moreno e de boa fisionomia. Seu trato era muito agradável e sua conversa bastante espiritual era muito proveitosa para os que o ouviam. Todos os que o procuravam saíam espiritualizados e atraídos à virtude. Foi amigo do recolhimento e falava pouco. Quando repreendia como superior, que o foi muitas vezes, agia com doce severidade, exortando com amor paternal..” Santa Teresa de Jesus o considerava “uma das almas mais puras que Deus tem em sua Igreja. Nosso Senhor lhe infundiu grandes riquezas da sabedoria celestial. Mesmo pequeno ele é grande aos olhos de Deus. Não há frade que não fale bem dele, porque tem sido sua vida uma grande penitência”. Poucos homens falaram dos sublimes mistérios de Deus na alma e da alma em Deus como São João da Cruz.
São João da Cruz Rogai por nós!!!

São Pedro Julião Eymard.


"É preciso fazer Jesus Eucarístico sair de Seu retiro para pôr-Se de novo à testa da sociedade cristã que há de dirigir e salvar. É preciso construir-Lhe um palácio, um trono, rodeá-Lo de uma corte de fiéis servidores, de uma família de amigos, de um povo de adoradores". Eis a grande missão de São Pedro Julião Eymard.

Na igreja da pequena cidade francesa de La Mure d'Isère, próxima de Grenoble, estava um menino de cinco anos, sentado numa pequena escada atrás do altar, com o corpo inclinado e a fronte quase encostada no sacrário. Foi ali que o encontrou sua irmã, depois de tê-lo procurado aflita por todo o povoado.
- O que faz você aqui? - perguntou ao vê-lo.
- Ora - respondeu ele com candura -, apenas converso com Jesus.
- Mas, por que desse modo tão singular?!
- Porque assim O escuto melhor!
Ainda não sabia este prematuro devoto do Santíssimo Sacramento a grande missão que a Providência lhe tinha reservado e quão cheia de lutas, mas também de glórias, seria a vida que o aguardava. Sua precoce atração por Cristo Hóstia não era senão uma incipiente preparação para ela.1
"Peço-Vos a graça de ser sacerdote"
Filho de Julião Eymard e Maria Madalena Pelorse, Pedro veio ao mundo em 4 de fevereiro de 1811. Sua família estava reduzida aos pais e a uma meia-irmã, Mariana - filha das primeiras núpcias de seu pai -, doze anos mais velha; os outros filhos do casal haviam falecido em tenra idade e um pereceu nos exércitos de Napoleão.
Na igreja paroquial da cidade havia o piedoso costume da bênção com o Santíssimo Sacramento, depois da Missa diária. Sua mãe não faltava a esta um dia sequer e oferecia devotamente o filho a Jesus nessa hora. Assim, a presença de Cristo no ostensório e no sacrário lhe foi familiar desde muito cedo.
Seu pai se estabelecera em La Mure d'Isère com uma pequena indústria de azeite de nozes. O jovem Pedro o ajudava, entregando aos clientes o produto. Mas sentia-se tão atraído por Jesus no tabernáculo que, passando pela igreja, sempre ia fazer-Lhe uma visita. E quando a irmã voltava do Sagrado Banquete, procurava ficar bem junto dela, para sentir a presença eucarística em sua alma.
Aos doze anos de idade, finalmente deu-se o momento tão esperado de sua Primeira Comunhão. Quantas graças recebeu naquele dia! Uma delas foi a de sentir na alma o chamado ao sacerdócio. Mas quando falou ao pai do seu firme desejo de seguir essa vocação, recebeu como resposta uma categórica negativa. A mãe, do seu lado, calava e rezava, sem perder as esperanças de ver o filho junto ao altar.
Inteligente e de caráter resoluto, o jovem Pedro continuou a ajudar o pai nas lides da indústria caseira, mas pôs-se a estudar latim, às escondidas. Aos dezesseis anos, obteve dele licença para prosseguir esses estudos, primeiramente em La Mure e depois em Grenoble. Foi nessa cidade que recebeu a notícia do repentino falecimento da mãe. Entre lágrimas, pôs-se aos pés de uma imagem de Nossa Senhora, rogando-Lhe: "Por favor, a partir de agora sede minha única Mãe! Mas antes de tudo, peço-Vos a graça de chegar um dia a ser sacerdote".2 Esse amor à Santíssima Virgem não fez senão aumentar até o fim de sua vida.
Foi apenas depois de completar dezoito anos, não sem muitas dificuldades, mesmo contando com ajuda do padre José Guibert - nessa época jovem sacerdote dos Missionários Oblatos de Maria Imaculada e mais tarde Cardeal e Arcebispo de Paris -, que conseguiu convencer o pai de permitir seu ingresso no noviciado dessa Congregação, em Marselha. Pela primeira vez, dava passos firmes rumo ao cumprimento de sua vocação.
Pároco e religioso
Entretanto, quando tudo parecia conduzi-lo à realização da grande aspiração de sua vida, uma grave enfermidade o obrigou a voltar para casa, deixando-o à beira da morte. Ao ser-lhe levado o Viático, pediu a Jesus Sacramentado que lhe concedesse a graça de recuperar a saúde para poder ser sacerdote e celebrar pelo menos uma Missa.
Sua prece foi atendida. Curou-se e ingressou no Seminário Maior de Grenoble, sendo apresentado ao reitor pelo próprio
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A devoção à Sagrada Eucaristia era o 
meio de solucionar os intrigados
problemas nos quais imergia 
o mundo e renovar a vida 
cristã
fundador dos Oblatos de Maria, Santo Eugênio de Mazenod, na época Bispo de Marselha. Em 20 de julho de 1834, festa de Santo Elias, recebia a ordenação sacerdotal, aos 23 anos de idade.
Durante os primeiros cinco anos de ministério, foi coadjutor em Chatte e depois pároco em Monteynard. Como autêntico pastor, tinha por meta santificar-se e santificar "suas ovelhas", seguindo os métodos de outro santo pároco, o Cura d'Ars, do qual era grande amigo: diariamente rezava o Ofício Divino na igreja e depois saía para o átrio a fim de conversar com os fiéis. Dotado de um forte carisma para atrair, instruía e animava a todos, obtendo notáveis conversões.
Contudo, a vida de pároco não o satisfazia inteiramente: desejava ser religioso. Apesar dos protestos de sua grei e das lágrimas de sua irmã Mariana, obteve autorização do ordinário para deixar o cargo e entrou em 1839 no noviciado dos Padres Maristas, em Lyon.3
Os membros desse Instituto, fundado três anos antes pelo padre Jean Claude Colin, receberam por
missão evangelizar os povos do Pacífico e, em consequência, padre Pedro Julião preparava-se para ser enviado como apóstolo à longínqua Oceania. Outros, porém, eram os desígnios para ele reservados: foi nomeado diretor espiritual do Colégio Marista de Belley, superior provincial, visitador apostólico e, mais tarde, diretor da Ordem Terceira de Maria, em Lyon.
Nessa cidade, exerceu um intenso apostolado, sobretudo com encarcerados, enfermos e operários. Enfrentou com destemor os ventos do século XIX, impregnado de utilitarismo, bafejado por um anticlericalismo obstinado que procurava relegar ao segundo plano, ou mesmo ao desprezo, a Religião e os valores sobrenaturais. Aquele jovem sacerdote cheio de zelo pela causa de Deus notava o quanto a sociedade de sua época se afastava de Cristo e de Sua Igreja, e ardia em desejo de fazer algo para reverter essa situação.
A grande missão de sua vida
Com tudo isso, a Providência ia aos poucos preparando-o para a realização da grande missão de sua vida. Duas insignes graças o levaram definitivamente a entregar-se a ela.
Portando a custódia com o Santíssimo Sacramento durante uma procissão em 1845, sentiu-se pervadido por uma grande força e pediu a Deus que lhe desse o zelo apostólico de São Paulo, para difundir como ele o nome de Jesus Cristo.
Mais decisiva, porém, foi a graça recebida em 1851, quando rezava diante da imagem da Virgem Santíssima, no santuário mariano de Fourvière. Em certo momento, ouviu com clareza no fundo da alma a voz de Nossa Senhora, que lhe expunha a necessidade de haver uma congregação religiosa destinada a honrar de modo especial a Sagrada Eucaristia, e apontava esta devoção como meio de solucionar os intricados problemas nos quais imergia o mundo, renovar a vida cristã e promover a autêntica formação de sacerdotes e leigos.
Assim, quem o impeliu nas sendas de sua missão eucarística foi Aquela que, mais tarde, ele passou a venerar sob o título de Nossa Senhora do Santíssimo Sacramento, modelo dos adoradores. Padre Pedro Julião deixou registradas algumas das cogitações que nessa época enchiam sua alma de apóstolo: "Tenho refletido amiúde sobre os remédios para esta indiferença universal, que se apodera de tantos católicos de maneira assombrosa, e só encontro um: a Eucaristia, o amor a Jesus Eucarístico. A perda da fé provém da perda do amor".4
Algum tempo depois, acrescentou: "É preciso pôr-se imediatamente à obra, salvar as almas com a Eucaristia, despertar a França e a Europa, submersas no sono da indiferença, porque não conhecem o dom de Deus, Jesus, o Emanuel da Eucaristia. É preciso espalhar esta centelha do amor nas almas tíbias que se julgam piedosas e não o são, porque não fixaram o centro de suas vidas em Jesus no tabernáculo".5
"Nós não pregamos senão a Jesus Cristo, e Jesus Cristo Sacramentado", dizia ele, parafraseando a célebre afirmação de São Paulo (cf. I Cor 1, 23).
Nasce a Congregação dos Sacramentinos
Disposto a "pôr-se imediatamente à obra", expôs ao Superior Geral dos Padres Maristas seu desejo de fundar uma nova congregação. Este examinou com vagar o projeto e o dispensou dos seus votos de religioso, dando-lhe assim plena liberdade para agir. Logo depois, porém, julgou melhor submeter o caso ao Arcebispo de Paris, Dom Marie-Dominique-Auguste Sibour.
Apresentou-se, pois, no Palácio Arquiepiscopal o padre Pedro Julião, acompanhado de seu primeiro discípulo, o Conde Raimundo de Cuers, excapitão de fragata, que receberia mais tarde a ordenação sacerdotal na nova Congregação. Explicou a Dom Sibour seu plano de fundar uma instituição religiosa contemplativa de adoradores do Santíssimo Sacramento e ao mesmo tempo de vida ativa, com uma frente de apostolado voltada, sobretudo, para a classe operária, ocupando-se em incrementar a devoção à Sagrada Eucaristia, preparar adultos para a Primeira Comunhão e outras atividades correlatas. O Arcebispo se entusiasmou com a ideia, declarando ser essa a obra que faltava na Arquidiocese de Paris. Nasceu assim a Congregação do Santíssimo Sacramento, em 13 de maio de 1856.
Em seu primeiro encontro com o Beato Pio IX, a 20 de dezembro de 1858, este foi ainda mais caloroso e categórico que o Arcebispo de Paris: "Estou convencido de que sua obra vem de Deus e a Igreja dela necessita" 6 - afirmou. Cinco anos mais tarde, em 1863, o mesmo Pontífice enviou-lhe um Breve Laudatório, aprovando oficialmente o novo Instituto.
Os sofrimentos consolidam a obra
A comunidade inicial - formada por apenas três membros: padre Pedro Julião, padre Cuers e padre Champion - instalou-se numa casa posta à sua disposição pelo próprio Dom Sibour. Na festa dos Reis Magos de 1857, expôs-se pela primeira vez o Santíssimo Sacramento na Capela. Um ano depois, foi conseguida a segunda casa no subúrbio de Saint-Jacques, a qual ficou conhecida pelo nome de Capela dos Milagres, por causa de todas as graças ali derramadas ao longo de nove anos.
A obra desenvolvia-se com lentidão,enfrentando dificuldades de toda ordem. O Santíssimo Sacramento devia permanecer exposto perpetuamente, mas os adoradores inscritos logo davam sinais de cansaço, sobretudo diante da dificuldade da
NSenhora do Santissimo Sacramento.JPG
Por meio de uma clara voz
interior, Nossa Senhora lhe
expôs a necessidade de 
haver uma congregação
religiosa destinada a honrar 
de modo especial a Sagrada
Eucaristia

"Nossa Senhora do Santíssimo
Sacramento", Igreja de Santi
Andrea e Claudio dei 
Borgognoni, Roma
vigília noturna, e houve algumas deserções. O próprio padre Cuers pediu a Roma a supressão dos votos para fundar outro instituto. Também não lhe faltaram as provações decorrentes das calúnias e incompreensões.
Diante de tudo isso, dizia ele com grande espírito sobrenatural: "Tenho medo de que cessem as provações". 7 Assim, não foi apenas a dor física - das penitências voluntárias e das enfermidades - que purificou sua alma e a sua fundação, mas também o sofrimento moral.
Fecundidade da Adoração
Apesar disso, as vocações continuavam chegando, graças, sobretudo, aos sermões cheios de entusiasmo eucarístico do fundador, que os preparava diante do tabernáculo. Não em vão, afirmava o padre Eymard, uma hora aos pés de Jesus Sacramentado vale mais do que uma manhã inteira de estudos em livros.
Como São Paulo, era o amor de Cristo que o impelia a pregar. Ardia em seu coração o enorme desejo de incendiar o mundo com o fogo d'Aquele que está presente em cada sacrário. Era preciso tirá-Lo dali, expô-Lo, prestar-Lhe adoração, reconhecendo ser Ele o único capaz de sanar todos os problemas, tanto dos indivíduos quanto da sociedade.
Em seu desejo de levar as almas à Sagrada Eucaristia, fundou também a Congregação das Servas do Santíssimo Sacramento, contemplativas dedicadas à Adoração Perpétua, e uma espécie de Ordem Terceira, à qual deu o nome de Agregação do Santíssimo Sacramento.
Inspirador dos Congressos Eucarísticos
"É preciso fazer Jesus Eucarístico sair de seu retiro para pôr-Se de novo à testa da sociedade cristã que há de dirigir e salvar. É preciso construir- Lhe um palácio, um trono, rodeá-Lo de uma corte de fiéis servidores, de uma família de amigos, de um povo de adoradores".8 Eis a grande missão de São Pedro Julião.
Os Congressos Eucarísticos surgiram como fruto deste poderoso anelo. Foram eles uma iniciativa pioneira da Srta. Emilia Tamisier, uma jovem que ingressara na Congregação das Servas do Santíssimo Sacramento e lá permanecera quatro anos, sob o nome de Irmã Emiliana. Depois, com a bênção do santo fundador, saiu do convento para ser no mundo uma missionária itinerante da Eucaristia.
Assim, em 1881, inspirada por seu mestre e vencendo numerosos obstáculos, organizava ela o primeiro Congresso Eucarístico da História, que se realizou em Lille, sob o tema A Eucaristia salva o mundo e contou com especial bênção do Papa Leão XIII. Para sua efetivação, recebeu ajuda dos Padres Sacramentinos, de diversos Bispos e numerosas personalidades leigas. A partir daí, multiplicaram-se congressos semelhantes, não só regionais, mas também nacionais e internacionais. Uma instituição que tomou vulto e perdura até nossos dias.
Ocaso de uma vida santa
Extenuado por suas intensas atividades, emagrecido e com dificuldades de se alimentar, o padre Eymard recebeu estritas ordens médicas de repouso. Na segunda quinzena de julho de 1868, dirigiu-se a La Mure, onde podia contar com os cuidados da irmã. Em caminho, celebrou sua última Missa em Grenoble, na capela consagrada à Adoração Perpétua.
Poucos dias depois, os médicos diagnosticaram uma hemorragia cerebral. Sua última confissão foi feita por sinais, pois já não conseguia falar. No dia 1º de agosto, recebeu a Unção dos Enfermos, e o padre Chanuet, sacramentino, celebrou a Missa no seu próprio quarto, ministrando-lhe a Sagrada Comunhão. Era a derradeira!
- Morreu um santo! - exclamavam os habitantes da pequena cidade.
Antes de completar-se um ano de seu falecimento, beneficiou com vários milagres os fiéis que rezavam ante sua sepultura.
Quase cem anos depois, no dia seguinte do término da primeira sessão do Concílio Vaticano II, 9 de dezembro de 1962, João XXIII o elevou à honra dos altares em presença de 1.500 padres conciliares. Passados mais trinta e três anos, era inscrito no Calendário Romano e apresentado à Igreja Universal com o título de "Apóstolo da Eucaristia".
Notas:
1 Recordando este fato, mais tarde, João XXIII diria as seguintes palavras: "Aquele menino de cinco anos, que encontraram no altar com a fronte apoiada no sacrário, é o mesmo que, tempos depois, chegaria a fundar a Sociedade dos Sacerdotes do Santíssimo Sacramento, assim como a das Servas do Santíssimo Sacramento, irradiando em inumeráveis legiões de sacerdotes- adoradores seu amor e sua ternura para com Cristo vivo na Eucaristia" (Homilia de Canonização dos santos: Pedro Julião Eymard, Antonio Maria Pucci, Francisco Maria da Camporrosso, 9/12/1962).
2 BEAUCHEF, OSB, Antoine Marie. Carta espiritual - sobre São Pedro Julião Eymard. In: Abbaye Saint Joseph de Clairval à Flavigny: http:// www.clairval.com/index.
3 Instituto afim e inspirador dos Irmãos Maristas, fundados por São Marcelino Champagnat.
4 Carta de 22 de outubro de 1851, apud PEDRETTI, SSS, Antonio. El fundador. In: Página Europea de los Religiosos Sacramentinos: http://es.ssseu.net. 5 Carta de 11 de fevereiro de 1852, apud PEDRETTI, op. Cit.
6 BEAUCHEF, op. Cit.
7 BAIGORRI, SSS, Luis. San Pedro Julián Eymard. In: ECHEVERRÍA, L., LLORCA, B., BETES, J. (Org.). Año Cristiano. Madrid: BAC, 2005, v.VII, p.55.
8 EYMARD, SSS, São Pedro Julião. Obras Eucarísticas. Madrid: Ediciones Eucaristia, 1963, p.XX.
(Revista Arautos do Evangelho, Agosto/2010, n. 104, p. 36 à 39)

SÃO JOÃO BOSCO


Festa: 31 de janeiroFundador e Pai da Família Salesiana
SÃO JOÃO BOSCOé um dos Santos mais populares da Igreja e do mundo. Foi sua missão específica a educação cristã da juventude, num tempo em que essa porção da sociedade humana começava a ser atacada por novos e perigosos inimigos.
Para o desempenho da sua missão salvadora, jamais o Céu lhe faltou com extraordinários dotes humanos e sobrenaturais.
Traços Biográficos
João Bosco nasceu no Colle dos Becchi, no Piemonte, Itália, uma localidade junto de Castelnuovo de Asti (agora chama-se Castelnuovo Dom Bosco) a 16 de agosto de 1815. Era filho de humilde família de camponeses. Órfão de pai aos dois anos, viveu sua mocidade e fez os primeiros estudos no meio de inumeráveis trabalhos e dificuldades. Desde os mais tenros anos sentiu-se impelido para o apostolado entre os companheiros. Sua mãe, que era analfabeta, mas rica de sabedoria cristã, com a palavra e com o exemplo animava-o no seu desejo de crescer virtuoso aos olhos de Deus e dos homens.
Mesmo diante de todas as dificuldades, João Bosco nunca desistiu. Durante um tempo foi obrigado a mendigar para manter os estudos. Prestou toda a espécie de serviços. Foi costureiro, sapateiro, ferreiro, carpinteiro e, ainda nos tempos livres, estudava música.
Queria vivamente ser sacerdote. Dizia: "Quando crescer quero ser sacerdote para tomar conta dos meninos. Os meninos são bons; se há meninos maus é porque não há quem cuide deles". A Divina Providência atendeu os seus anseios. Em 1835 entrou para o seminário de Chieri.
Ordenado Sacerdote a 5 de junho de 1841, principiou logo a dar provas do seu zelo apostólico, sob a direção de São José Cafasso, seu confessor. No dia 8 de dezembro desse mesmo ano, iniciou o seu apostolado juvenil em Turim, catequizando um humilde rapaz de nome Bartolomeu Garelli. Começava assim a obra dos Oratórios Festivos, destinada, em tempos difíceis, a preservar da ignorância religiosa e da corrupção, especialmente os filhos do povo.
Em 1846 estabeleceu-se definitivamente em Valdocco, bairro de Turim, onde fundou o Oratório de São Francisco de Sales. Ao Oratório juntou uma escola profissional, depois um ginásio, um internato etc. Em 1855 deu o nome de Salesianos aos seus colaboradores. Em 1859 fundou com os seus jovens salesianos a Sociedade ou Congregação Salesiana.
Com a ajuda de Santa Maria Domingas Mazzarello, fundou em 1872 o Instituto das Filhas de Maria Auxiliadora para a educação da juventude feminina. Em 1875 enviou a primeira turma de seus missionários para a América do Sul.
Foi ele quem mandou os salesianos para fundar o Colégio Santa Rosa em Niterói, primeira casa salesiana do Brasil, e o Liceu Coração de Jesus em São Paulo. Criou ainda a Associação dos Cooperadores Salesianos. Prodígio da Providência divina, a Obra de Dom Bosco é toda ela um poema de fé e caridade. Consumido pelo trabalho, fechou o ciclo de sua vida terrena aos 72 anos de idade, a 31 de janeiro de 1888, deixando a Congregação Religiosa Salesiana espalhada por diversos países da Europa e da América.
Se em vida foi honrado e admirado, muito mais o foi depois da morte. O seu nome de taumaturgo, de renovador do Sistema Preventivo na educação da juventude, de defensor intrépido da Igreja Católica e de apóstolo da Virgem Auxiliadora se espalhou pelo mundo inteiro e ganhou o coração dos povos. Pio XI, que o conheceu e gozou da sua amizade, canonizou-o na Páscoa de 1934.
Apesar dos anos que separam os dias de hoje do tempo em que viveu Dom Bosco, seu amor pelos jovens, sua dedicação e sua herança pedagógica vêm sendo transmitidos por homens e mulheres no mundo inteiro.
Hoje Dom Bosco se destaca na história como o grande santo Mestre e Pai da Juventude.
Embora tenha feito repercutir pelo mundo o seu carisma e o sistema preventivo de salesiano, que é baseado na Razão, na Religião e na Bondade, Dom Bosco permaneceu durante toda a sua vida em Turim, na Itália. Dedicou-se como ninguém pelo bem-estar de muitos jovens, na maioria órfãos, que vinham do campo para a cidade em busca de emprego e acabavam sendo explorados por empregadores interessados em mão-de-obra barata ou na rua passando fome e convivendo com o crime.
Com atitudes audaciosas, pontuadas por diversas inovações, Dom Bosco revolucionou no seu tempo o modelo de ser padre, sempre contando com o apoio e a proteção de Nossa Senhora Auxiliadora. Aliás, o sacerdote sempre considerou como essencial na educação dos jovens a devoção à Maria.
Dom Bosco ficou muito famoso pelas frases que usava com os meninos do oratório e com os padres e irmãs que o ajudavam. Embora tenham sido criadas no século passado, essas frases, ainda hoje, são atuais e ricas de sabedoria. Elas demonstram o imenso carinho que Dom Bosco tinha pelos jovens.
Entre alguns exemplos, "Basta que sejam jovens para que eu vos ame.""Prometi a Deus que até meu último suspiro seria para os jovens.""O que somos é presente de Deus; no que nos transformamos é o nosso presente a Ele""Ganhai o coração dos jovens por meio do amor""A música dos jovens se escuta com o coração, não com os ouvidos."
O método de apostolado de Dom Bosco era o de partilhar em tudo a vida dos jovens; para isto no concreto abriu escolas de alfabetização, artesanato, casas de hospedagem, campos de diversão para os jovens com catequese e orientação profissional; foi por isso a Igreja reza: "Deus suscitou São João Bosco para dar à juventude um mestre e um pai".
De estatura atlética, memória incomum, inclinado à música e a arte, Dom Bosco tinha uma linguagem fácil, espírito de liderança e ótimo escritor. Este grande apóstolo da juventude foi elevado para o céu em 31 de janeiro de 1888 na cidade de Turim; a causa foi o outros, já que afirmava ter sido colocado neste mundo para os outros.
Oração a São João Bosco- para pedir uma graça -
Necessitando de especial auxílio, com grande confiança recorro a vós, ó São João Bosco.
Preciso não só de graças espirituais, mas também de graças temporais, e principalmente... (pequena pausa para pedir a graça que se deseja)
Vós, que tivestes tanta devoção a Jesus Sacramentado e a Maria Auxiliadora, e que tanto vos compadecestes das desventuras humanas, alcançai-me de Jesus e de sua celeste Mãe a graça que vos peço, e mais: resignação inteira à vontade de Deus.
Pai-Nosso, Ave-Maria e Glória.