sexta-feira, 24 de setembro de 2010

DEFESA DA VIDA: A URGÊNCIA DA SOLIDARIEDADE



Diante do atual debate sobre o aborto, percebemos certa dificuldade em considerar, ao mesmo tempo, todas as dimensões da pessoa em um determinado momento, bem como em todo o processo de sua vida, desde a fecundação até a morte.

Aliás, poder-se-ia dizer que a dificuldade em considerar todas as dimensões da pessoa, biopsicosocial (ou moral) e espiritual, refere-se não só ao nascituro (concebidos, mas ainda não dados à luz) ameaçado de morte, mas de todas as pessoas envolvidas: a mãe, o pai, os demais familiares e amigos, o profissional de saúde consultado, talvez um psicólogo, um assistente social. É preciso considerar também um contexto social, econômico e cultural mais amplo, que envolve e pode condicionar quem deve tomar a decisão de aceitar ou não o próprio filho em situações que poderiam ser definidas como "desfavoráveis" à auto-realização dos pais ou do nascituro.

Até mesmo o modo como se usa a expressão "interrupção da gravidez", fazendo uso de um jogo de palavras, confunde os pais e a sociedade, escondendo consciente ou inconscientemente a verdade do que se está propondo: o aborto provocado, matar e retirar a criança do útero da mãe.

Quando surge esta proposta? Em uma gravidez indesejada, não planejada, por exemplo. Nesse caso, apresenta-se um dilema para o casal, ou para a gestante, que muitas vezes terá de escolher se assumir sozinha o filho. As injustiças e violências contra as mulheres constituem-se em um fato que não pode ser menosprezado. É uma injustiça, por exemplo, considerar que assumir ou não uma gravidez seja de responsabilidade única da mulher, sendo que o homem (pai) é plenamente co-responsável por esta situação. Muitas vezes o que é apresentado na perspectiva de "direitos da mulher" pode se constituir em um recurso semântico para encobrir uma postura machista em que se busca transferir integralmente para as mulheres responsabilidades que verdadeiramente são do casal.

Outra situação seria o diagnóstico de má-formação fetal ou uma gravidez fruto de violência, como o estupro, situações essas de fortíssimo impacto emocional, social e econômico. Não são experiências fáceis de serem enfrentadas, são dramáticas, provocam angústia e incertezas em relação ao futuro, mas é possível resolvê-las sem se apelar para uma "solução" de morte. Como?

Na busca de uma solução para o sofrimento, para a dramaticidade inerente à situação tratada, o aborto provocado não pode se apresentar como uma "solução", porque sendo assim seria uma tragédia. Não se pode tentar resolver o que é dramático com o trágico! No dramático existe a possibilidade de uma positividade, no trágico só a destruição.

Dizer: "não vejo saída", pode significar: "você pode me dar uma outra opção? Você vê algo a mais?" É nosso modo humano de ser, nossa visão limitada a partir de uma perspectiva. O ser limitado não é um obstáculo em si, se visto como ocasião de relação, expressão de nossa sociabilidade.

O que é dramático, em uma perspectiva antropológica, em que se retoma o sentido da vida humana e da própria maternidade/paternidade, provoca, potencialmente, a possibilidade de que o belo e o próprio sentido do sofrimento possam emergir. Muitos são os testemunhos, principalmente entre tantos que conviveram com pacientes desenganados pela medicina ou com filhos com deficiências, de que é possível se viver uma positividade mesmo dentro da situação de sofrimento. Tudo isso, é claro, exige um caminho de vida. Uma companhia de verdadeiros amigos com quem, muitas vezes com muita fadiga, compartilha-se o sofrimento e se alcança um sentido para a realidade, o sentido de positividade de cada acontecimento.

Este caminho requer um movimento de sair de si, de assumir a vida uns dos outros, sentirmo-nos responsáveis uns pelos outros, algo além de um dever ou uma norma, trata-se de uma escolha pessoal: a caridade. É possível transformar uma realidade de solidão fazendo-se próximo, não só as pessoas mais diretamente envolvidas - como os pais, parentes e amigos - mas também todos os que estão entorno dessas pessoas, a comunidade que os cerca, as pessoas engajadas em organismos governamentais e não-governamentais.

Dalton Luiz de Paula Ramos é professor associado de Bioética da Universidade de São Paulo, membro da equipe de assessores de bioética de CNBB e da Comissão Nacional de Ética em Pesquisa/CNS/MS, membro correspondente da Pontifícia Academia para a Vida, do Vaticano, coordenador do Projeto Ciências da Vida do Núcleo Fé e Cultura da PUC/SP

O arrependimento é a medida da fé

"O arrependimento é a medida da fé e graças a ele voltamos à verdade". Ressaltou Bento XVI, fazendo uma reflexão sobre a parábola do filho pródigo durante a recitação do Angelus, de domingo 12 de Setembro, em Castel Gandolfo.

Queridos irmãos e irmãs!

No Evangelho deste domingo - capítulo 15 de São Lucas - Jesus narra as três "parábolas da misericórdia". Quando Ele "fala, nas suas parábolas, do pastor que vai atrás da ovelha perdida, da mulher que procura a dracma, do pai que sai ao encontro do filho pródigo e o abraça, não se trata apenas de palavras, mas constituem a explicação do seu próprio ser e agir" (Enc. Deus caritas est, 12). Com efeito, o pastor que encontra a ovelha perdida é o próprio Senhor que assume em si mesmo, através da Cruz, a humanidade pecadora para a redimir.
Depois, o filho pródigo, na terceira parábola, é um jovem que, tendo obtido a herança do pai, "partiu para uma terra longínqua e por lá esbanjou tudo quanto possuía, numa vida desregrada" (Lc 15, 13). Reduzido à miséria, foi obrigado a trabalhar como um escravo, aceitando até saciar-se com a comida destinada aos animais. Então - diz o Evangelho - "caiu em si" (Lc 15, 17). "As palavras que ele prepara para o regresso permitem-nos conhecer o alcance da peregrinação interior que agora realiza... regressa "à casa", a si mesmo e ao pai" (BENTO XVI, Jesus de Nazaré, Milão 2007, pp. 242-243). "Levantar-me-ei, irei ter com meu pai e vou dizer-lhe: Pai, pequei contra o Céu e contra ti; já não sou digno de ser chamado teu filho" (Lc 15, 18-19). Santo Agostinho escreve: "É o próprio Verbo que te grita para voltar; o lugar da calma imperturbável é onde o amor não conhece abandono" (Conf., IV, 11). "Ainda estava longe quando o pai o viu e, enchendo-se de compaixão, correu a lançar-se-lhe ao pescoço e cobriu-o de beijos" (Lc 15, 20) e, cheio de alegria, mandou preparar uma festa.
Queridos amigos, como não abrir o nosso coração para a certeza de que, mesmo sendo pecadores, somos amados por Deus? Ele nunca se cansa de vir ao nosso encontro, percorre sempre em primeiro lugar a estrada que nos separa d'Ele. O livro do Êxodo mostra-nos como Moisés, com confiança e súplica audaz, conseguiu, por assim dizer, transferir Deus do trono do juízo para o trono da misericórdia (cf. 32, 7-11.13-14). O arrependimento é a medida da fé e graças a ele voltamos à verdade. O apóstolo Paulo escreve: "Alcancei misericórdia, porque agi por ignorância, sem ter fé ainda" (1 Tm 1, 13). Voltando à parábola do filho que regressa "à casa", notamos que quando aparece o filho mais velho indignado pelo acolhimento festivo reservado ao irmão, é sempre o pai que lhe vai ao encontro e sai para o suplicar: "Filho, tu estás sempre comigo, e tudo o que é meu é teu" (Lc 15, 31). Só a fé pode transformar o egoísmo em alegria e reatar justas relações com o próximo e com Deus. "Tínhamos de fazer uma festa e alegrar-nos - disse o pai - porque este teu irmão... estava perdido e foi encontrado" (Lc 15, 32).
Queridos irmãos, quinta-feira próxima irei ao Reino Unido, onde proclamarei beato o Cardeal John Henry Newman. Peço a todos que me acompanhem com a oração nesta viagem apostólica. À Virgem Maria, cujo Nome santíssimo hoje é celebrado na Igreja, confiemos o nosso caminho de conversão a Deus. 

O fundamento cristão de uma sociedade moderna

A capital escocesa Edimburgo foi a primeira etapa da viagem do Papa ao Reino Unido. Na manhã de quinta-feira 16 de Setembro, após a recepção oficial no aeroporto, no Palácio real de Holyroodhouse teve lugar a cerimónia de boas-vindas. Depois, o Pontífice visitou a rainha Isabel II e encontrou-se com as autoridades da Escócia. Publicamos a seguir o discurso pronunciado pelo Santo Padre.

Majestade!

Obrigado pelo seu gentil convite para realizar uma visita oficial ao Reino Unido e pelas suas cordiais palavras de saudação em nome do povo britânico. Ao agradecer Vossa Majestade, permita que eu faça as minhas saudações extensivas a todo o povo do Reino Unido e aperte com amizade a mão de cada um.
É com grande prazer que inicio a minha viagem saudando os Membros da Família Real, agradecendo em particular a Sua Alteza Real o Duque de Edimburgo as gentis palavras de boas-vindas que me dirigiu no aeroporto. Expresso a minha gratidão ao actual e aos precedentes governos de Vossa Majestade e a quantos colaboraram com eles para tornar possível esta ocasião, entre os quais o Lorde Patten e o precedente Secretário de Estado Murphy. Gostaria também de me congratular com profundo apreço pelo trabalho desempenhado pelo "All-Parliamentary Group on the Holy See", que muito contribuiu para o fortalecimento das relações amistosas que existem entre a Santa Sé e o Reino Unido.
Ao dar início à visita ao Reino Unido na histórica Capital da Escócia, saúdo de modo especial o Primeiro-Ministro Salmond e os representantes do Parlamento escocês. Assim como as Assembleias de Gales e da Irlanda do Norte, possa também o Parlamento escocês crescer no seu ser expressão das nobres tradições e da distinta cultura dos escoceses e comprometer-se para servir os seus interesses melhores em espírito de solidariedade e de solicitude em relação ao bem comum.
O nome Holyroodhouse, residência oficial de Vossa Majestade na Escócia, recorda a "Santa Cruz" e faz voltar o olhar para as profundas raízes cristãs que ainda estão presentes em todos os aspectos da vida britânica. Os monarcas da Inglaterra e da Escócia eram cristãos desde os primeiríssimos tempos e incluem extraordinários Santos como Eduardo o Confessor e Margarida da Escócia. Como se sabe, muitos deles exerceram conscienciosamente os seus deveres soberanos à luz do Evangelho, modelando desta forma a nação no bem a nível mais profundo. Isto deu origem a que a mensagem cristã se tornasse parte integral da língua, do pensamento e da cultura dos povos destas ilhas por mais de um milénio. O respeito dos vossos antepassados pela verdade e pela justiça, pela clemência e pela caridade cheguem até vós por uma fé que permanece uma força poderosa para o bem no vosso reino, com grande benefício de igual modo para cristãos e não-cristãos.
Encontramos muitos exemplos desta força para o bem ao longo de toda a história da Grã-Bretanha. Até em tempos relativamente recentes, através de figuras como William Wilberforce e David Livingstone, a Grã-Bretanha interveio directamente para pôr fim ao tráfico internacional dos escravos. Inspirados pela fé, mulheres como Florence Nightingale serviram os pobres e os doentes, estabelecendo novos padrões na assistência no campo da saúde que sucessivamente foram imitados em toda a parte. John Henry Newman, cuja beatificação celebrarei daqui a pouco, foi um dos muitos cristãos britânicos da sua época cuja bondade, eloquência e acção foram uma honra para os próprios concidadãos e concidadãs. Eles e muitos outros como eles foram estimulados por uma fé profunda, nascida e crescida nestas ilhas.
Também na nossa época podemos recordar como a Grã-Bretanha e os seus chefes se opuseram a uma tirania nazista que tinha no ânimo desenraizar Deus da sociedade e negava a muitos a nossa comum humanidade, sobretudo aos judeus, que eram considerados como não dignos de viver. Além disso, desejo recordar a atitude do regime em relação aos pastores cristãos e aos religiosos que proclamaram a verdade no amor; opuseram-se aos nazistas e pagaram com a própria vida a sua oposição. Enquanto reflectimos sobre os motes do extremismo ateu do século XX, jamais podemos esquecer como a exclusão de Deus, da religião e da virtude da vida pública conduz em última análise a uma visão incompleta do homem e da sociedade, e portanto a "uma visão redutiva da pessoa e do seu destino" (Caritas in veritate, 29).
Há sessenta e cinco anos a Grã-Bretanha desempenhou um papel fundamental no forjamento do consenso internacional do pós-guerra, o que favoreceu a fundação das Nações Unidas e deu início a um período de paz e de prosperidade na Europa, desconhecido até àquele momento. Nos anos mais recentes a comunidade internacional seguiu de perto os acontecimentos na Irlanda do Norte, os quais levaram à assinatura do Acordo da Sexta-feira Santa e à devolução de poderes à Assembleia da Irlanda do Norte. O governo de Vossa Majestade e o da Irlanda, juntamente com os representantes políticos, religiosos e civis da Irlanda do Norte, apoiaram o nascimento de uma resolução pacífica do conflito local. Encorajo quantos estão envolvidos a prosseguir corajosamente juntos o caminho pela senda traçada rumo a uma paz justa e duradoura.
Foi o governo e o povo quem forjou as ideias que ainda hoje têm um impacto que supera em grande medida as ilhas britânicas. Isto impõe-lhes um dever particular de agir com sabedoria para o bem comum. Do mesmo modo, dado que as suas opiniões alcançam uma audiência tão ampla, os meios de comunicação britânicos têm uma responsabilidade maior do que outros e uma oportunidade mais ampla para promover a paz das nações, o progresso integral dos povos e a difusão de direitos humanos autênticos. Que todos os britânicos continuem a viver os valores da honestidade, do respeito e do equilíbrio que lhes conquistaram a estima e a admiração de muitos.
Hoje o Reino Unido esforça-se por ser uma sociedade moderna e multicultural. Nesta estimulante tarefa, possa manter sempre o respeito daqueles valores tradicionais e das expressões culturais que as formas mais agressivas de secularismo já não estimam, nem toleram. Não se permita que seja obscurecido o fundamento cristão que está na base das suas liberdades; e possa aquele património, que sempre serviu bem a nação, plasmar constantemente o exemplo do seu governo e do seu povo em relação aos dois biliões de membros do Commonwealth, assim como da grande família de nações anglófonas em todo o mundo. Deus abençoe Vossa Majestade e todas as pessoas do Seu Reino. Obrigado. 

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

FORMAÇÃO - Bioética

A IDEOLOGIA QUE SE ESCONDE NO PNDH 3 - DIREITOS HUMANOS?

Nas vésperas do Natal de 2009, o Presidente Lula apresentou seu 3º Plano Nacional de Direitos Humanos (PNDH 3), com que o Governo planeja impor uma visão ideológica de Direitos Humanos, inclusive contrária ao consenso da população. Conforme a introdução do Eixo V, o PNDH "Visa formação de nova mentalidade coletiva".

A avaliação por itens isolados pode dar a impressão de que
80 a 90% do conteúdo defende realmente os Direitos Humanos, se o interpretarmos a partir de nossos conceitos de família, vida, dignidade da pessoa, educação, partilha de renda, combate à violência, participação popular etc. Porém, na leitura completa e transversal de todo o documento é possível identificar a visão particular de Direitos que o documento propõe, constatando-se uma confusão de conceitos: os verdadeiros Direitos Humanos são colocados lado a lado com anti-direitos, pretendendo-se uma "interdependência e indivisibilidade" dos mesmos, chegando a afirmar que se um dos "direitos" ali defendidos for desrespeitado, todos serão destruídos, enquanto que outros verdadeiros direitos são suprimidos, sempre com a justificativa de se estar defendendo a democracia.

Sentencia contra o nascituro: "apoiar a aprovação do projeto de lei que descriminaliza o aborto, considerando a autonomia das mulheres para decidir sobre seus corpos" (diretriz 9, objetivo estratégico III, 7ª ação programática). Ainda: estabelece controle sobre a liberdade de imprensa e de expressão; interfere em questões agrárias; retira prerrogativas do Poder Judiciário; abre a possibilidade de realização de plebiscito sem a aprovação do Congresso; propõe a desconstrução da heteronormatividade, do conceito de família; ignora não só a Igreja Católica como outras correntes religiosas. Estabelece a formação de organismos que se contrapõem ao Congresso Nacional.

Questões diversas ameaçam a Constituição Federal e são duramente criticadas por vários segmentos da sociedade, sendo apontadas como expressão de totalitarismo. Exige sua aceitação em nome do direito das minorias, sem discordâncias, pois os questionamentos serão considerados como "violações dos Direitos Humanos".

Há a tentativa de impor uma nova mentalidade no ensino escolar desde a mais tenra idade até o nível superior; na formação de líderes populares para compor os conselhos federais, estaduais e municipais; dos funcionários públicos; dos militares e responsáveis pela segurança pública e outros. Como houve reação evidente da sociedade, o governo federal tenta "abafar" discussões sobre o PNDH 3 para, principalmente, não comprometer as próximas eleições. Assim fez em fevereiro passado, ao impedir uma audiência pública no Senado.
 

Recentemente, o Governo Lula anunciou que fará mudanças no PNDH 3 com relação a pontos polêmicos: aborto, questão agrária/judiciária, símbolos religiosos e liberdade de imprensa. Devemos cobrar esta mudança, e mais: não permitir que seja imposta uma mentalidade contrária aos valores do povo brasileiro, como é esta proposta invasiva do PNDH 3 que, mesmo com as alterações anunciadas mantém o teor autoritário e ideológico, implícito nas demais ações programáticas que impõem o conceito distorcido de Direitos Humanos.


CIEB - Centro Interdisciplinar de Estudos em Bioética

ELEIÇÕES


O espetáculo tem algo de grandioso. Parece uma ópera. Seria bufa? Pode ser, tanto faz. O espetáculo tem algo de comédia, de drama, de tragédia, tudo misturado, liquidificado. Imaginem um teatro em que os assistentes não soubessem bem se estavam diante da dor ou da gaiatice barata, da emoção romântica ou da morte trágica. Rapidamente sairia de cartaz, falido e desconsiderado.
Que tipo de mágica detém esses senhores para manter toda uma população de dimensões continentais assistindo e aplaudindo tanta  enganação? Seriam eles prestidigitadores? Certamente o são. Todos eles o são.
Percorra, caro leitor, os sites e blogs dos que fazem oposição à candidata do governo. O que vemos? Todos, em uníssono, alertam o Brasil para não votar em terroristas, para não votar no comunismo que já tomou conta de todas as instituições governamentais. Cansei de ouvir falar dos males do Partido, quando o brasileiro mais sério, que guarda a moral católica, zeloso em manter os princípios civilizacionais que criaram o Brasil, não tem opção. A que tipo de oposição assistimos? Que coisa ridícula é essa, de um partido de esquerda, que se diz de centro-esquerda, apresentar um candidato que tem como grande trunfo ter sido líder da UNE? E se acha muito inteligente por ter tido um passado comunista! Cheguei à conclusão que o PSDB nada mais é do que um partido tampão. Ele atua na área política para neutralizar a oposição. Geraldo Alckmin foi literalmente abandonado pelo partido no meio das eleições. E Serra faz parte do time que estabelece esse tipo de política falsificada, onde o que menos importa é um programa de governo.
Algumas pessoas me pedem uma indicação. Não dou. Que cada um siga sua consciência, porque eu não consigo nem pensar em eleições. Tenho náuseas. Um homem de bem, se aceita entrar nesse jogo, deve ser estúpido o suficiente para achar que poderá aplicar o seu bem na politica. Não há como. O sistema é corrompido na sua base e a corrupção dentro do governo nada mais é do que a ponta do iceberg que aparece para os simples mortais. Não me venham falar de cidadania, voto responsável e coisas do tipo. Uma coisa eu sei: isso que está aí não é coisa séria, nem é Democracia, é palhaçada. E ainda me obrigam a ir ao circo!
Minha responsabilidade está nas mãos de Nossa Senhora Aparecida, protetora do nosso Brasil. Mas os milagres só acontecem para aqueles que o merecem, que o pedem, e que estejam prontos a suportar as dores da perseguição. Existe ainda um Brasil assim?

O coração e a cruz

GIOVANNI MARIA VIAN

Nas viagens papais a mais eficaz e imediata chave de compreensão é oferecida pelo próprio Bento XVI durante o encontro com os jornalistas pouco depois da partida. E também desta vez, em voo rumo ao Reino Unido, foi assim: através das palavras do Papa, é possível captar facilmente a sua intenção, e quase lançar um olhar ao seu coração. Com uma singular actualização do mote do cardeal Newman (que será excepcionalmente beatificado pelo Pontífice em Birmingham) escolhido para o itinerário britânico: cor ad cor loquitur, "o coração fala ao coração", atitude que desde sempre é congenial a Joseph Ratzinger.
"Vou em frente com grande coragem e alegria", disse, declarando no avião a sua confiança no acolhimento imediatamente impecável à sua chegada e com a cordialidade das grandes multidões nas ruas de Edimburgo e no encontro com a rainha em Holyroodhouse. Entre a festa das bandeiras escocesas que tremulavam com a cruz de Santo André, o party - quase uma festa de família, na qual participaram a soberana e o Pontífice - e o entusiasmo de milhares de crianças e jovens de muitas escolas.
Não obstante a presença de correntes anticlericais e anticatólicas - de resto comuns a uma parte do ocidente europeu - o Papa Bento quis recordar aos jornalistas e no discurso dirigido a Isabel II as tradições de fé e as raízes cristãs do Reino Unido. Juntamente com a atenção, a tolerância e o respeito demonstrados por muitos leigos e agnósticos que estão em busca, como já aconteceu nas visitas, muito positivas, na França e na República Checa.
A Igreja não tem medo da modernidade - e é este um dos significados da beatificação de Newman, "figura excepcional" e Doutor da Igreja na contemporaneidade - sobretudo por um motivo: não trabalha para si mesma, para afirmar o seu suposto poder, mas para outro, isto é, pelo anúncio de Jesus Cristo. Estaria no caminho errado uma Igreja que procurasse tornar-se atraente, disse com clareza Bento XVI. Ao contrário, a Igreja deve ser transparente, para deixar resplandecer o Senhor e fazer-se sua voz. E nisto os católicos e os outros cristãos têm a mesma tarefa, não são concorrentes, mas servos da primazia e da verdade de Cristo.
À primeira vista a atmosfera não parecia fácil, considerando pelo menos a atitude nada benévola presente em diversos mass media na vigília da visita, sobretudo pela dolorosa e vergonhosa questão dos abusos sexuais por parte de membros do clero. Também sobre isto o Papa abriu de novo o seu coração, declarando que sofreu um choque e expressando a sua dificuldade em compreender esta perversão do sacerdócio e tristeza por uma autoridade eclesiástica não suficientemente vigilante e rápida face ao escândalo. Que deve ser reparado com a penitênica e com a humildade, enquanto às vítimas deve ser dada toda a ajuda, acompanhada por justas penas para os culpados e com a prevenção, que no Reino Unido é exemplar.
E a confiança de um diálogo do coração juntamente com um olhar para a cruz - que está no antigo nome da residência real de Holyroodhouse - são os motivos que caracterizam esta visita de Estado, deveras histórica mas certamente não política, como explicou Bento XVI, ressaltando que ela é apenas em função do anúncio de Cristo. Que na Grã-Bretanha modelou um grande país segundo uma herança, realçada de modo consoante por Isabel II e pelo Papa, para quem olham milhares de pessoas, crentes e não-crentes, em todo o mundo.

sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Bento XVI na Abadia de Westminster

Num mundo marcado por uma crescente interdependência e solidariedade, somos desafiados a proclamar com renovada convicção a realidade da nossa reconciliação e libertação em Cristo. Bento XVI na Abadia de Westminster


(17/9/2010) O segundo dia da viagem apostólica do Papa ao Reino Unido conclui-se esta sexta feira com uma celebração ecuménica na abadia de Westminster.
Na saudação pronunciada no final das Vésperas, Bento XVI deu graças ao Senhor por lhe ter concedido, “como sucessor de Pedro na sede de Roma, de realizar esta peregrinação ao túmulo de Santo Eduardo o Confessor”, rei da Inglaterra, “modelo de testemunho cristão e exemplo daquela verdadeira grandeza à qual o Senhor chama os seus discípulos”: “a grandeza de uma humildade e de uma obediência assentes no exemplo do próprio Cristo, a grandeza de uma fidelidade que não hesita em abraçar o mistério da Cruz”.
O Papa recordou o centenário (este ano) do movimento ecuménico moderno, “iniciado com o apelo da Conferência de Edimburgo a favor da unidade dos cristãos, como requisito prévio para um credível e convincente testemunho do Evangelho no nosso tempo”.
“Comemorando este aniversário, temos que dar graças pelos notáveis progressos realizados para este nobre objectivo através dos esforços de cristãos empenhados, de todas as confissões. Ao mesmo tempo, permanecemos contudo consciência de que muito resta ainda por fazer”.
“Num mundo marcado por uma crescente interdependência e solidariedade, somos desafiados a proclamar com renovada convicção a realidade da nossa reconciliação e libertação em Cristo e a propor a verdade do Evangelho como a chave de um desenvolvimento humano autêntico e integral” – acrescentou Bento XVI, que concluiu sublinhando que o empenho pela unidade dos cristãos não tem outro fundamento senão a fé em Cristo”.
“É a realidade da pessoa de Cristo, a sua obra salvífica e sobretudo o facto histórico da sua ressurreição , que é o conteúdo do Kerygma apostólico e daquelas fórmulas de fé que, a partir já do Novo Testamento, têm garantido a integridade da sua transmissão. Numa palavra, a unidade da Igreja mais não pode ser do que a unidade da fé apostólica, na fé entregue no rito do Baptismo a cada novo membro do Corpo de Cristo”

terça-feira, 14 de setembro de 2010

Nossa Senhora das Dores




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A Coroa de Nossa Senhora das Dores teve início na Itália em 1617, por iniciativa da Ordem dos Servos de Maria, assim como a Missa de Nossa Senhora das Dores, que hoje é celebrada em toda a Igreja no dia 15 de setembro.
A Coroa é um dos frutos do carisma mariano da Ordem, cultivado desde 1233, ano de Vossa fundação. A Coroa surgiu inicialmente como alimento da piedade Mariana dos leigos reunidos em grupos chamados Ordem terceira.
A devoção à Nossa Senhora das Dores possue fundamentos bíblicos, pois é na Palavra de Deus que encontramos as sete dores de Maria: o velho Simeão que profetiza a lança que transpassaria (dor) o seu coração Imaculado; a fuga para o Egito; a perda do menino Jesus; a paixão do Senhor; Crucifixão-morte e sepultura de Jesus Cristo. Nós, como Igreja, não recordamos as dores de Nossa Senhora pelas dores, mas sim por que também pelas dores oferecidas participou ativamente da Redenção de Cristo. Desta forma Maria, imagem da Igreja, está nos apontando para uma Nova Vida, que não significa ausência de sofrimentos, mas sim oblação de si para uma Civilização do Amor
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Santa Cruz! O que nos fala o catecismo Católico


C.97 CRUZ
C.97.1 Cruz altar da Nova Aliança
§1182 O altar da nova aliança é a cruz do Senhor, da qual brotam os sacramentos do mistério pascal. Sobre o altar, que é o centro da igreja, se faz presente o Sacrifício da Cruz sob os sinais sacramentais. Ele é também a mesa do Senhor, para a qual o povo de Deus é convidado. Em certas liturgias orientais, o altar é também o símbolo do sepulcro (Cristo morreu de verdade e ressuscitou de verdade).
C.97.2 Cruz caminho para a santidade
§2015 Este sacramento é também chamado "o banho da regeneração e da renovação no Espírito Santo" (Tt 3,5), pois ele significa e realiza este nascimento a partir da água e do Espírito, sem o qual "ninguém pode entrar no Reino de Deus" (Jo 3,5).
C.97.3 Cruz caminho para seguir a Cristo
§555 Por um instante, Jesus mostra sua glória divina, confirmando, assim, a confissão de Pedro. Mostra também que, para "entrar em sua glória" (Lc 24,26), deve passar pela Cruz em Jerusalém. Moisés e Elias haviam visto a glória de Deus sobre a Montanha; a Lei e os profetas tinham anunciado os sofrimentos do Messias. A Paixão de Jesus é sem dúvida a vontade do Pai: o Filho age como servo de Deus. A nuvem indica a presença do Espírito Santo: "Tota Trinitas apparuit: Pater in voce; Filius in homine, Spiritus in nube clara - A Trindade inteira apareceu: o Pai, na voz; o Filho, no homem; o Espírito, na nuvem clara":
§1816 O dom da fé permanece naquele que não pecou contra ela. Mas "é morta a fé sem obras" (Tg 2,26): privada da esperança e do amor, a fé não une plenamente o fiel a Cristo e não faz dele um membro vivo de seu Corpo.
C.97.4 Efeitos do Sacrifício da cruz
§617 "Sua sanctissima passione in ligno crucis nobis iustificationem meruit - Por sua santíssima Paixão no madeiro da cruz mereceu-nos a justificação", ensina o Concílio de Trento, sublinhando o caráter único do sacrifício de Cristo como "princípio de salvação eterna". E a Igreja venera a Cruz, cantando: crux, ave, spes única - Salve, ó Cruz, única esperança".
§813 A Igreja é una por sua fonte: "Deste mistério, o modelo supremo e o princípio é a unidade de um só Deus na Trindade de Pessoas, Pai e Filho no Espírito Santo". A Igreja é una por seu Fundador: "Pois o próprio Filho encarnado, príncipe da paz, por sua cruz reconciliou todos os homens com Deus, restabelecendo a união de todos em um só Povo, em um só Corpo". A Igreja é una por sua "alma": "O Espírito Santo que habita nos crentes, que plenifica e rege toda a Igreja, realiza esta admirável comunhão dos fiéis e os une tão intimamente em Cristo, que ele é o princípio de Unidade da Igreja". Portanto, é da própria essência da Igreja ser una:
Que estupendo mistério! Há um único Pai do universo, um único Logos do universo e também um único Espírito Santo, idêntico em todo lugar; há também uma única virgem que se tornou mãe, e me agrada chamá-la Igreja.
§1505 Comovido com tantos sofrimentos, Cristo não apenas se deixa tocar pelos doentes, mas assume suas misérias: "Ele levou nossas enfermidades e carregou nossas doenças". Não curou todos os enfermos. Suas curas eram sinais da vinda do Reino de Deus. Anunciavam uma cura mais radical: a vitória sobre o pecado e a morte por sua Páscoa. Na cruz, Cristo tomou sobre si todo o peso do mal e tirou o "pecado do mundo" (Jo 1,29). A enfermidade não é mais do que uma conseqüência do pecado. Por sua paixão e morte na cruz, Cristo deu um novo sentido ao sofrimento, que doravante pode configurar-nos com Ele e unir-nos à sua paixão redentora.
§1741 Liberdade e salvação. Por sua gloriosa cruz, Cristo obteve a salvação de todos os homens. Resgatou-os do pecado que os mantinha na escravidão. "É para a liberdade que Cristo nos libertou" (Gl 5,1). Nele comungamos da "verdade que nos torna livres". O Espírito Santo nos foi dado e, como ensina o apóstolo, "onde se acha o Espírito do Senhor, aí está a liberdade" (2 Cor 3,17). Desde agora participamos da "liberdade da glória dos filhos de Deus".
§1992 A justificação nos foi merecida pela paixão de Cristo, que se ofereceu na cruz como hóstia viva, santa e agradável a Deus, e cujo sangue se tornou instrumento de propiciação pelos pecados de toda a humanidade. A justificação é concedida pelo Batismo, sacramento da fé. Toma-nos conformes à justiça de Deus, que nos faz interiormente justos pelo poder de sua misericórdia. Tem como alvo a glória de Deus e de Cristo, e o dom da vida eterna:
Agora, porém, independentemente da lei, se manifestou a justiça de Deus, testemunhada pela lei e pelos profetas, justiça de Deus que opera pela fé em Jesus Cristo, em favor de todos os que crêem pois não há diferença, sendo que todos pecaram e todos estão privados da glória de Deus e são justificados gratuitamente, por sua graça, em virtude da redenção realizada em Cristo Jesus. Deus o expôs como instrumento de propiciação, por seu próprio sangue, mediante a fé. Ele queria assim mani-festar sua justiça, pelo fato de ter deixado sem punição os pe-cados de outrora, no tempo da paciência de Deus; ele queria manifestar sua justiça no tempo presente, para mostrar-se justo e para justificar aquele que tem fé em Jesus (Rm 3,21-26).
§2305 A paz terrestre é imagem e fruto da paz de Cristo, o Príncipe da paz" messiânica (Is 9,5). Pelo sangue de sua cruz, Ele "matou a inimizade na própria carne", reconciliou os homens com Deus e fez de sua Igreja o sacramento da unidade do gênero humano de sua união com Deus. "Ele é a nossa paz" (Ef 2,14). Declara "bem-aventurados os que promovem a paz" (Mt 5,9).
C.97.5 Eucaristia Sacrifício da cruz sempre atual
§1323 "Na última ceia, na noite em que foi entregue, nosso Salvador instituiu o Sacrifício Eucarístico de seu Corpo e Sangue. Por ele, perpetua pelos séculos, até que volte, o sacrifício da cruz, confiando destarte à Igreja, sua dileta esposa, o memorial de sua morte e ressurreição: sacramento da piedade, sinal da unidade, vínculo da caridade, banquete pascal em que Cristo é recebido como alimento, o espírito é cumulado de graça e nos é dado o penhor da glória futura."
§1364 O memorial recebe um sentido novo no Novo Testamento. Quando a Igreja celebra a Eucaristia, rememora a páscoa de Cristo, e esta se toma presente: o sacrifício que Cristo ofereceu uma vez por todas na cruz torna-se sempre atual: "Todas as vezes que se celebra no altar o sacrifício da cruz, pelo qual Cristo nessa páscoa foi imolado, efetua-se a obra de nossa redenção."
§1365 Por ser memorial da páscoa de Cristo, a Eucaristia é também um sacrifício. O caráter sacrifical da Eucaristia é manifestado nas próprias palavras da instituição: "Isto é o meu Corpo que será entregue por vós", e "Este cálice é a nova aliança em meu Sangue, que vai ser derramado por vós" (Lc 22,19-20). Na Eucaristia, Cristo dá este mesmo corpo que, entregou por nós na cruz, o próprio sangue que "derramou por muitos para remissão dos pecados" (Mt 26,28).
§1366 A Eucaristia é, portanto, um sacrifício porque representa (toma presente) o Sacrifício da Cruz, porque dele é memorial e porque aplica seus frutos:
[Cristo] nosso Deus e Senhor ofereceu-se a si mesmo a Deus Pai uma única vez, morrendo como intercessor sobre o altar da cruz, a fim de realizar por eles (os homens) uma redenção eterna. Todavia, como sua morte não devia pôr fim ao seu sacerdócio (Hb 7,24.27), na última ceia, "na noite em que foi entregue (1 Cor 11,13), quis deixar à Igreja, sua esposa muito amada, um sacrifício visível (como o reclama a natureza humana) em que seria representado (feito presente) o sacrifício cruento que ia realizar-se uma vez por todas uma única vez na cruz, sacrifício este cuja memória haveria de perpetuar-se até o fim dos séculos (l Cor 11,23) e cuja virtude salutar haveria de aplicar-se à remissão dos pecados que cometemos cada dia.
§1382 A missa é ao mesmo tempo e inseparavelmente o memorial sacrifical no qual se perpetua o sacrifício da cruz, e o banquete sagrado da comunhão no Corpo e no Sangue do Senhor. Mas a celebração do Sacrifício Eucarístico está toda orientada para a união íntima dos fiéis com Cristo pela comunhão. Comungar é receber o próprio Cristo que se ofereceu por nós.
C.97.6 Realeza de Cristo e cruz
§440 Jesus acolheu a profissão de fé de Pedro, que o reconhecia como o Messias anunciando a Paixão iminente do Filho do Homem. Desvendou o conteúdo autêntico de sua realeza messiânica, seja na identidade transcendente do Filho do Homem "que desceu do Céu" (Jo 3,13) seja em sua missão redentora como Servo sofredor: "O Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir e dar sua vida em resgate pela multidão" (Mt 20,28). Por isso o verdadeiro sentido de sua realeza só se manifestou do alto da Cruz. É somente após sua Ressurreição que sua realeza messiânica poderá ser proclamada por Pedro diante do povo de Deus: "Que toda casa de Israel saiba com certeza: Deus o constituiu Senhor e Cristo, este Jesus que vós crucificastes" (At 2,36).
C.97.7 Reino de Deus estabelecido pela cruz de Cristo
§550 O advento do Reino de Deus é a derrota do reino de Satanás: "Se é pelo Espírito de Deus que eu expulso os demônios, então o Reino de Deus já chegou a vós" (Mt 12,28). Os exorcismos de Jesus libertam homens do domínio dos demônios. Antecipam a grande vitória de Jesus sobre "o príncipe deste mundo". E pela Cruz de Cristo que o Reino de Deus ser definitivamente estabelecido: "Regnavit a ligno Deus - Deus reinou do alto do madeiro".
C.97.8 Reino dilatado pelo caminho da cruz
§853 Mas em sua peregrinação "não ignora a Igreja o quanto se distanciam entre si a mensagem que ela profere e a fraqueza humana daqueles aos quais o Evangelho foi confiado". Somente avançando pelo caminho "da penitência e da renovação" e "pela porta estreita da Cruz" o Povo de Deus pode estender o Reino de Cristo. Com efeito, "assim como Cristo consumou a obra da redenção na pobreza e na perseguição, assim a Igreja é chamada a seguir o mesmo caminho, a fim de comunicar aos homens os frutos da salvação"
C.97.9 Responsabilidade da pena da cruz
§598 No magistério de sua fé e no testemunho de seus santos a Igreja nunca esqueceu que "foram os pecadores como tais os autores e como que os instrumentos de todos os sofrimentos por que passou o Divino Redentor". Levando em conta que nossos pecados atingem o próprio Cristo, a Igreja não hesita em imputar aos cristãos a responsabilidade mais grave no suplício de Jesus, responsabilidade que com excessiva freqüência estes debitaram quase exclusivamente aos judeus.
Devemos considerar como culpados desta falta horrível os que continuam a reincidir em pecados. Já que são os nossos crimes que arrastaram Nosso Senhor Jesus Cristo ao suplício da cruz, com certeza os que mergulham nas desordens e no mal "de sua parte crucificam de novo o Filho de Deus e o expõem as injúrias" (Hb 6,6). E é imperioso reconhecer que nosso próprio crime, neste caso é maior do que o dos judeus. Pois estes, como testemunha o Apóstolo, "se tivessem conhecido o Rei da glória, nunca o teriam crucificado" (1Cor 2,8). Nós, porém, fazemos profissão de conhecê-lo. E, quando o negamos por nossos atos, de certo modo levantamos contra Ele nossas mãos homicidas. Os demônios, então, não foram eles que o crucificaram; és tu que com eles o crucificaste e continuas a crucificá-lo, deleitando-te nos vícios e. nos pecados.
C.97.10 Sacrifício da cruz e sua aceitação
§561 "Toda a vida de Cristo foi um contínuo ensinamento: seus silêncios, seus milagres, seus gestos, sua oração, seu amor ao homem, sua predileção pelos pequenos e pelos pobres, a aceitação do sacrifício total na Cruz pela redenção do mundo, Sua Ressurreição constituem a atuação de sua palavra e o cumprimento da Revelação.
C.97.11 Sacrifício da cruz modelo de solidariedade e de caridade
§1939 O princípio da solidariedade, enunciado ainda sob o nome de ou "caridade social'', é uma exigência direta da fraternidade humana e cristã:
Um erro, "hoje amplamente difundido, é o esquecimento desta lei da solidariedade humana e da caridade, ditada e imposta tanto pela comunidade de origem e pela igualdade da natureza racional em todos os homens, seja qual for o povo a que pertençam, como também pelo sacrifício redentor oferecido por Jesus Cristo no altar da cruz a seu Pai celeste, em prol da humanidade pecadora"

domingo, 12 de setembro de 2010

Dom Oscar Arnulfo Romero Mártir Bispo da Igreja

Neste dia, a Igreja na América Latina está celebrando a memória dos 30 anos do martírio de Dom Oscar Arnulfo Romero y Guadamez
nascido em 15 de agosto de 1917, em Ciudad Barrios, El Salvador e assassinado no dia 24 de março de 1980, durante a celebração de uma Missa na capela do Hospital da Divina Providência, na capital de El Salvador. 


Inicialmente, quando eleito Bispo da Igreja, em 1977, não se mostrava preocupado com a calamitosa situação do país, que se encontrava sob o domínio de um sanguinário regime militar. Era um Bispo conservador, preocupado com questões burocráticas e com a fidelidade às orientações romanas. O conservadorismo do padre Oscar Romero o fez chegar ao episcopado, pois naquela época, a Teologia da Libertação estava bem presente na vida da Igreja latino-americana e as nomeações episcopais, como sempre, eram bem criteriosas.

Assim como Dom Hélder Câmara, da Arquidiocese de Olinda e Recife, PE, Dom Oscar Romero só se converteu ao caminho de Jesus depois de sua nomeação episcopal. A morte do missionário jesuíta Pe. Rutillo foi decisiva na conversão de Dom Oscar Romero. O primeiro fazia várias denúncias contra as graves injustiças cometidas pelo regime militar vigente. A partir de então, o Bispo resolveu se colocar ao lado dos pobres e dos injustiçados de El Salvador, passando a ser voz e vez dos sem voz e dos sem vez da sociedade salvadorenha.

Após sua decisão de aderir ao projeto do Reino de Deus, Dom Oscar Romero, que era querido e venerado pelos seus colegas Bispos e pelo Vaticano conservadores, passou a ser incompreendido e perseguido pelos militares e pela própria Igreja. Todos o acusavam de comunista e subversivo, mas manteve-se sereno, humilde e fiel. A serenidade de Dom Oscar Romero diante da certeza da morte impressionava a todos, pois quanto mais o ameaçavam mais ele intensificava as denúncias. Sua humildade no trato com os pobres demonstrava mais ainda seu espírito de santidade.
“Irmãos, como gostaria de gravar no coração de cada um esta grande idéia: o cristianismo não é um conjunto de verdades que se deve crer, de leis que temos que cumprir, de proibições! Isto se torna repugnante! O cristianismo é uma pessoa, que me ama tanto, e que reclama meu amor. O cristianismo é Cristo”, disse ele no dia 06 de novembro de 1977. Estas mesmas palavras foram confirmadas no Documento de Aparecida. São palavras que nos ensinam a verdade do Evangelho de Jesus. Meditemos este texto e vejamos o que ele significa.
“O cristianismo não é um conjunto de verdades que se deve crer, de leis que temos que cumprir”. Muitas vezes, é assim que apresentamos o cristianismo ao mundo, como um conjunto doutrinal que precisa ser aderido pela humanidade, do contrário, ela perecerá. É tão verdade o ensinamento do Bispo que em nossa Igreja chegaram a dizer o absurdo de que“fora da igreja não existe salvação”. Muitos confundem o cristianismo e a salvação com a Igreja e se esquecem de que esta está a serviço do Reino de Deus.

O mundo não precisa de um conjunto de verdades devidamente elaboradas, mas de assimilação da lei fundamental do cristianismo, o amor. Se amarmos de verdade seremos salvos! Independentemente de religião e de cultura, todo ser humano precisa amar, pois o amor faz parte de nossa essência. Ninguém consegue viver neste mundo sem amar ninguém. Nossa pretensão de querer uniformizar e enquadrar as pessoas num sistema de leis e proibições é anti-evangélica e, consequentemente, falha. Trata-se de um projeto enganoso que nunca vai dar certo, e não dará porque não vem de Deus, é coisa dos homens, que gostam de dominar. Como diz o santo Bispo, isto é “repugnante”!
“O cristianismo é uma pessoa, que me ama tanto, e que reclama o meu amor. O cristianismo é Cristo”. Jesus de Nazaré é a proposta do cristianismo para o mundo. Uma proposta não é uma imposição. Durante séculos apresentaram Jesus como “proposta” impositiva, portanto, inaceitável. A liberdade do Evangelho de Jesus liberta verdadeiramente o mundo. E o que Dom Oscar Romero fez foi anunciar ao mundo o Evangelho da liberdade. Todo aquele que anunciar tal Evangelho torna-se operário na construção do Reino de Deus e se liberta do jugo da escravidão imposto pelos sistemas opressores deste mundo. Por isso, podemos dizer com toda confiança: Dom Oscar Romero foi um homem verdadeiramente livre e sua liberdade consistiu no oferecimento de si mesmo na apresentação insistente da proposta do Reino de Deus.

Vejamos o pensamento do santo Bispo sobre a religião e sobre a Igreja: 
“Uma religião de missa dominical, mas de semana injusta, não agrada ao Senhor. Uma religião de muitas rezas e tantas hipocrisias no coração, não é cristã. Uma Igreja que se instala só para estar bem, para ter muito dinheiro, muita comodidade, mas que se esquece do clamor das injustiças, não é verdadeiramente a Igreja de nosso divino Redentor”, disse ele no dia 04 de dezembro de 1977. A palavra do profeta se dirige antes de tudo à própria instituição à qual está ligado na condição de Bispo. Ele não aceitava a submissão da Igreja, por parte de muitos Bispos, diante da ação criminosa da ditadura militar vigente.

O pensamento de Dom Oscar Romero sobre a Igreja nos leva a repensar a nossa maneira de ser Igreja e de viver a fé em Jesus. Para que a Igreja seja ouvida pela sociedade ela precisa se converter, e as recentes notícias publicadas no mundo afora mostram claramente a lentidão do processo de conversão da Igreja. Esta precisa abraçar o clamor dos pequeninos, do contrário, se perderá cada vez mais em seus vícios. Uma Igreja que trabalha noite e dia na construção do Reino de Deus não tem tempo para cometer certas orgias absurdas. Não basta a devida reprovação e/ou condenação dos crimes cometidos, mas é necessário saber onde estão as raízes de tais males e combatê-los com sabedoria e prudência.

Concluo esta reflexão com o belo e profético poema de Dom Pedro Casaldáliga, bispo emérito e profeta da Prelazia de São Félix do Araguaia. Rogo incessantemente a Deus, a fim de que o mesmo Espírito que fertilizou o homem e o Pastor Oscar Romero fertilize em nós a graça da profecia que converte a Igreja e o mundo.
São Romero da América, Pastor e Mártir

O anjo do Senhor anunciou na véspera...
O coração de El Salvador marcava
24 de março e de agonia

Tu ofertavas o Pão, o Corpo Vivo
o triturado Corpo do teu Povo:
Seu derramado Sangue vitorioso
O sangue “campesino” de teu Povo em massacre
que há de tingir em vinhos e alegria a Aurora conjurada!

E soubeste beber o duplo cálice
do Altar e do Povo,
com uma só mão consagrada ao Serviço.

O anjo do Senhor anunciou na véspera
e o verbo se fez morte, outra vez, em tua morte.
Como se faz morte, cada dia, na carne desnuda de teu Povo.

E se fez vida Nova
Em nossa velha Igreja!
Estamos outra vez em pé de Testemunho,
São Romero da América, pastor e mártir nosso!
Romero de uma Paz quase impossível, nesta Terra em guerra.
Romero em roxa flor morada de Esperança incólume de todo Continente
Romero desta Páscoa latino-americana.

Pobre pastor glorioso,
assassinado a soldo, a dólar, a divisa.
Como Jesus, por ordem do Império.
Pobre pastor glorioso, abandonado
Por teus próprios irmãos de Báculo e de Mesa.
(As Cúrias não podiam entender-te:
Nenhuma Sinagoga bem montada pode entender a Cristo). 

A amizade com Cristo uma proposta contra a corrente

No final da missa celebrada em Carpineto Romano no domingo, 5 de Setembro, o Papa regressou a Castel Gandolfo onde recitou o Angelus com os fiéis.

Prezados irmãos e irmãs!

Antes de tudo, peço desculpas pelo atraso! Acabei de voltar de Carpineto Romano onde, há duzentos anos, nasceu o Papa Leão XIII, Vincenzo Gioacchino Pecci. Dou graças ao Senhor por ter podido, nesta data importante, celebrar a Eucaristia no meio dos seus concidadãos. Contudo, agora desejo apresentar brevemente a minha Mensagem - publicada nos últimos dias - dirigida aos jovens do mundo para a XXVI Jornada Mundial da Juventude, que terá lugar em Madrid daqui a menos de um ano.
O tema que escolhi para esta Mensagem retoma uma expressão da Carta aos Colossenses, do Apóstolo Paulo: "enraizados e edificados n'Ele [em Cristo], firmes na fé" (cf. 2, 7). É decididamente uma proposta contra a corrente! Com efeito, quem é que hoje propõe aos jovens que estejam "enraizados", que sejam "firmes"? Pelo contrário, exaltam-se a incerteza, a mobilidade, a volubilidade... todos estes aspectos reflectem uma cultura indecisa em relação aos valores de fundo, aos princípios com base nos quais orientar e regular a própria vida. Na realidade eu mesmo, pela minha experiência e pelos contactos que tenho com os jovens, sei bem que cada geração, aliás, cada pessoa é chamada a fazer novamente o percurso de descoberta do sentido da vida. E é precisamente por isso que eu quis voltar a propor uma mensagem que, segundo o estilo bíblico, evoca as imagens da árvore e da casa. Com efeito, o jovem é como uma árvore em crescimento: para se desenvolver bem, tem necessidade de raízes profundas que, caso haja tempestades de vento, o conservem plantado com firmeza no solo. Assim, também a imagem do edifício em construção evoca a exigência de fundamentos válidos, a fim de que a casa seja sólida e segura.
E eis o âmago da Mensagem: ele está nas expressões "em Cristo" e "na fé". A plena maturidade da pessoa e a sua estabilidade interior têm o seu fundamento na relação com Deus, relação que passa através do encontro com Jesus Cristo. Uma relação de confiança profunda e de amizade autêntica com Jesus é capaz de conferir a um jovem aquilo de que ele tem necessidade para enfrentar bem a vida: tranquilidade e luz interior, atitude a pensar de maneira positiva, abertura de espírito em relação ao próximo, disponibilidade a pagar pessoalmente pelo bem, a justiça e a verdade. Um último aspecto, que é muito importante: para se tornar um crente, o jovem é sustentado pela fé da Igreja; se nenhum homem é uma ilha, tanto menos o é o cristão, que descobre na Igreja a beleza da fé compartilhada e testemunhada juntamente com os outros, na fraternidade e no serviço da caridade. Esta minha Mensagem aos jovens tem a data de 6 de Agosto, Festa da Transfiguração do Senhor. Possa a luz do Rosto de Cristo resplandecer no coração de cada jovem! E a Virgem Maria acompanhe com a sua salvaguarda o caminho das comunidades e dos grupos juvenis rumo ao grande Encontro de Madrid, em 2011. 

GIOVANNI MARIA VIAN

Falando de Leão XIII no bicentenário do nascimento, o seu actual sucessor explicou a tarefa de cada Papa (e "de cada Pastor da Igreja"): transmitir a sabedoria aos fiéis. Isto é, não verdades abstractas, mas uma mensagem que combina "fé e vida, verdade e realidade concreta". De facto, não é suficiente repropor doutrinas que a muitos podem parecer distantes dos problemas da existência, é preciso fazê-lo com uma atenção constante ao contexto histórico: na fidelidade à tradição e "medindo-se com as grandes questões abertas". Como soube fazer precisamente aquele Pontífice, "muito idoso, mas sábio e clarividente", que guiou para o novo século uma Igreja "rejuvenescida" e capaz de enfrentar desafios inéditos.
Do Papa Pecci, "homem de grande fé e de profunda devoção", Bento XVI quis ressaltar em primeiro lugar precisamente a dimensão religiosa, em geral pouco frisada e que ao contrário "permanece sempre a base de tudo, para cada cristão, inclusive para o Papa". Mas toda a releitura beneditina do pontificado de Leão XIII tem aspectos de grande interesse: com menções feitas não só à Rerum novarum mas a todo o magistério social do predecessor, "corpo orgânico" e fundante da doutrina católica nessa matéria. O que se pode resumir na expressão "fraternidade cristã", à qual não ocasionalmente o jovem Ratzinger dedicou, depois de duas teses sobre Santo Agostinho e São Boaventura, a sua primeira publicação monográfica importante (Die christliche Brüderlichkeit). A novidade de Cristo leva à abolição da escravidão - anulada já pelo apóstolo Paulo e ao qual o Papa Pecci dedicou a encíclica Catholicae Ecclesiae - e à superação de "outras barreiras que ainda existem", segundo o método evangélico da semente e do fermento. Que são representados nas diversas sociedades pela "força benéfica e pacífica de profunda mudança" constituída pelos cristãos. Também em contextos difíceis, como o tempo depois da tempestade revolucionaria e depois napoleónica sobre a qual Bento XVI falou significativamente com breves menções mas pertinentes: as numerosas e reiterantes tentativas de desenraizar qualquer expressão da cultura cristã, o aspro anticlericalismo, as manifestações veementes contra o Papa.
E no dia em que recordou com menções muito eloquentes o seu predecessor, o Pontífice escolheu apresentar a mensagem acabada de publicar em vista da Jornada de Madrid. Um texto até agora descuidado ou mal-entendido pela mídia - agências, televisões, rádios, jornais - e que ao contrário apresenta muitos sinais daquela sabedoria que Bento XVI definiu característica sobretudo do ensinamento papal e descreveu como combinação de "fé e vida, verdade e realidade concreta". Assim, numa cultura "que não se decide em relação aos valores fundamentais" o Papa apresentou de novo como resolutivo o encontro com Jesus apoiado pela fé da Igreja.
Não tem sentido "pretender eliminar Deus para fazer viver o homem", repetiu Bento XVI na mensagem, texto apaixonado e denso de testemunhos pessoais: da recordação da jornada de Sidney àquele distante de uma juventude asfixiada pela ditadura nazista e desejosa de superar a "normalidade da vida burguesa" no encontro com Cristo. Quase uma carta escrita com a paixão inexaurível de quem verdadeiramente encontrou Cristo.

Os cristãos força benéfica e pacífica para a mudança social

Missa do Sumo Pontífice em Carpineto Romano para o bicentenário do nascimento de Leão XIII 




Os cristãos são "uma força benéfica e pacífica de mudança profunda": é esta "a forma de presença e de acção do mundo proposta pela doutrina social da Igreja", afirmou o Papa na homilia da missa celebrada na manhã de domingo, 5 de Setembro, em Carpineto Romano, no bicentenário do nascimento do Papa Leão XIII.

Queridos irmãos e irmãs!

Antes de tudo, permiti que eu expresse a alegria de me encontrar entre vós em Carpineto Romano, seguindo as pegadas dos meus amados predecessores Paulo VI e João Paulo II! E feliz é também a circunstância que me chamou aqui: o bicentenário do nascimento do Papa Leão XIII, Vincenzo Gioacchino Pecci, ocorrido a 2 de Março de 1810 nesta bonita cidadezinha. Agradeço a todos vós o acolhimento! Em particular saúdo com reconhecimento o Bispo de Anagni-Alatri, D. Lorenzo Loppa, e o Presidente da Câmara Municipal de Carpineto, que me deram as boas-vindas no início da celebração, assim como as outras Autoridades presentes. Dirijo um pensamento especial aos jovens, sobretudo a quantos participaram na peregrinação diocesana. A minha visita, infelizmente, é muito breve e totalmente centrada nesta celebração eucarística; mas aqui nós encontramos tudo: a Palavra e o Pão de vida eterna, que alimentam a fé, a esperança e a caridade; e renovamos o vínculo de comunhão que faz de nós a única Igreja do Senhor Jesus Cristo.
Ouvimos a Palavra de Deus, e é espontâneo acolhê-la, nesta circunstância, voltando a pensar na figura do Papa Leão XIII e na herança que nos deixou. O tema principal que sobressai das leituras bíblicas é o da primazia de Deus e de Cristo. No trecho evangélico, tirado de São Lucas, o próprio Jesus declara com franqueza três condições necessárias para ser seus discípulos: amá-Lo mais do que a qualquer outra pessoa e mais do que a própria vida; carregar a própria cruz e segui-Lo; renunciar a tudo o que se possui. Jesus vê que uma grande multidão o segue juntamente com os discípulos, e com todos quer ser claro: segui-Lo é empenhativo, não pode depender de entusiasmos nem de oportunismos; deve ser uma decisão ponderada, tomada depois de se ter interrogado em consciência: quem é Jesus para mim? É deveras "o Senhor", ocupa o primeiro lugar, como o Sol em volta do qual giram todos os planetas? E a primeira leitura, tirada do Livro da Sabedoria, sugere-nos indirectamente o motivo desta primazia absoluta de Jesus Cristo: n'Ele encontramos respostas para as perguntas do homem de todos os tempos que procura a verdade acerca de Deus e de si mesmo. Deus está além do nosso alcance, e os seus desígnios são imperscrutáveis. Mas Ele mesmo quis revelar-se, na criação e sobretudo na história da salvação, até que se manifestou plenamente em Cristo a si mesmo e a sua vontade. Mesmo sendo sempre verdade que "ninguém jamais viu a Deus" (Jo 1, 18), agora nós conhecemos o seu "nome", o seu "rosto", e também a sua vontade, porque no-lo revelou Jesus, que é a Sabedoria de Deus feita homem. "Assim - escreve o Autor sagrado - os homens aprenderam as coisas que vos agradam e pela sabedoria foram salvos" (Sb 9, 18).
Esta chamada fundamental da Palavra de Deus faz pensar em dois aspectos da vida e do ministério do vosso venerado Concidadão que hoje comemoramos, o Sumo Pontífice Leão XIII. Antes de tudo, deve ser ressaltado que ele foi homem de grande fé e de profunda devoção. Isto permanece sempre a base de tudo, para todos os cristãos, também para o Papa. Sem a oração, isto é, sem a união interior com Deus, nada podemos fazer, como disse claramente Jesus aos seus discípulos durante a Última Ceia (cf. Jo 15, 5). As palavras e as acções do Papa Pecci deixavam transparecer a sua íntima religiosidade; e isto encontra correspondência também no seu Magistério: entre as suas numerosíssimas Encíclicas e Cartas Apostólicas, como o fio de um colar, encontram-se as de carácter propriamente espiritual, dedicadas sobretudo ao incremento da devoção mariana, especialmente mediante o santo Rosário. Trata-se de uma verdadeira "catequese", que marca do início ao final os 25 anos do seu Pontificado. Mas encontramos também os Documentos acerca de Cristo Redentor, do Espírito Santo, da consagração ao Sagrado Coração, da devoção a São José, e a São Francisco de Assis. Leão XIII sentia-se particularmente ligado à Família franciscana, e ele mesmo pertenceu à Terceira Ordem. Apraz-me considerar todos estes diversos elementos como características de uma única realidade: o amor a Deus e a Cristo, ao qual nada deve ser absolutamente anteposto. E esta sua primeira e principal qualidade Vincenzo Gioacchino Pecci assimilou-a aqui, na sua terra natal, dos seus pais, da sua paróquia.
Mas existe também um segundo aspecto, que deriva sempre da primazia de Deus e de Cristo e se encontra também na acção pública de cada Pastor da Igreja, em particular de cada Sumo Pontífice, com as características próprias da personalidade de cada um. Diria que precisamente o conceito de "sabedoria cristã", que já sobressaiu a partir da primeira leitura do Evangelho, oferece-nos a síntese desta orientação segundo Leão XIII - que por sinal é também o incipit de uma sua Encíclica. Cada Pastor é chamado a transmitir ao povo de Deus não verdades abstractas, mas uma "sabedoria", isto é, uma mensagem que conjuga fé e vida, verdade e realidade concreta. O Papa Leão XIII, com a assistência do Espírito Santo, foi capaz de fazer isto num período histórico dos mais difíceis para a Igreja, permanecendo fiel à tradição e, ao mesmo tempo, confrontando-se com as grandes questões abertas. E conseguiu precisamente com base na "sabedoria cristã", fundada nas Sagradas Escrituras, no imenso património teológico e espiritual da Igreja Católica e também com base na sólida e límpida filosofia de São Tomás de Aquino, que ele apreciou em grande medida e promoveu em toda a Igreja.
A este ponto, depois de ter considerado o fundamento, ou seja, a fé e a vida espiritual, e por conseguinte o quadro geral da mensagem de Leão XIII, podemos mencionar o seu magistério social, que se tornou celebérrimo e imperecível com a Encíclica Rerum novarum, mas rico de muitas outras intervenções que constituem um corpo orgânico, o primeiro núcleo da doutrina social da Igreja. Inspiremo-nos na Carta de São Paulo a Filémon, que a liturgia felizmente nos faz ler precisamente hoje. É o texto mais breve de todo o epistolário paulino. Durante um período de cativeiro, o Apóstolo transmitiu a fé a Onésimo, um escravo originário de Colossos que fugiu do seu dono, Filémon, rico habitante daquela cidade, o qual se tornou cristão juntamente com os seus familiares graças à pregação de Paulo. Mas o Apóstolo escreve a Filémon convidando-o a acolher Onésimo já não como escravo, mas como irmão em Cristo. A nova fraternidade cristã supera a separação entre escravos e livres, e insere na história um princípio de promoção da pessoa que levará à abolição da escravidão, mas também a ultrapassar outras barreiras que ainda existem. O Papa Leão XIII dedicou precisamente ao tema da escravidão a Encíclica Catholicae Ecclesiae, de 1890.
Desta experiência particular de São Paulo com Onésimo, pode partir uma ampla reflexão sobre o impulso de promoção humana dado pelo Cristianismo ao caminho da civilização, e também ao método e ao estilo desta contribuição, em sintonia com as imagens evangélicas da semente e do fermento: no âmbito da realidade histórica os cristãos, agindo como cidadãos individuais, ou de forma associada, constituem uma força benéfica e pacífica de mudança profunda, favorecendo o desenvolvimento das potencialidades internas em relação à própria realidade. Esta é a forma de presença e de acção no mundo proposta pela doutrina social da Igreja, que tem sempre em vista a maturação das consciências como condição de transformações válidas e duradouras.
Agora devemos perguntar-nos: qual era o contexto no qual nasceu, há dois séculos, aquele que se teria tornado, 68 anos mais tarde, o Papa Leão XIII? A Europa ressentia naquela época da grande tempestade Napoleónica, que se seguiu à Revolução Francesa. A Igreja e numerosas expressões da cultura cristã eram postas radicalmente em discussão (pensemos, por exemplo, no facto de contar já não a partir da data do nascimento de Cristo, mas desde o início da nova era revolucionária, ou de tirar os nomes dos Santos do calendário, das ruas, das aldeias...). As populações do campo certamente não eram favoráveis a estas alterações, e permaneciam ligadas às tradições religiosas. A vida quotidiana era dura e difícil: as condições de saúde e alimentares eram muito carentes. Entretanto, ia-se desenvolvendo a indústria e com ela o movimento operário, cada vez mais organizado politicamente. O magistério da Igreja, no seu nível mais alto, foi impulsionado e ajudado pelas reflexões e experiências locais a elaborar uma leitura global e perspectiva da nova sociedade e do seu bem comum. Assim, quando, em 1878, foi eleito ao sólio do pontificado, Leão XIII sentiu-se chamado a levá-la a cumprimento, à luz dos seus amplos conhecimentos de alcance internacional, mas também de tantas iniciativas realizadas "concretamente" por parte de comunidades cristãs e homens e mulheres de Igreja.
De facto, dezenas e dezenas de Santos e Beatos, desde o final do século XVIII até ao início do século XX, procuraram e experimentaram, com a fantasia da caridade, múltiplas estradas para pôr em prática a mensagem evangélica no interior das novas realidades sociais. Foram sem dúvida estas iniciativas, com os sacrifícios e as reflexões destes homens e mulheres que prepararam o terreno da Rerum novarum e dos outros Documentos sociais do Papa Pecci. Já desde a época em que era Núncio Apostólico na Bélgica, ele tinha compreendido que a questão social podia ser enfrentada positiva e eficazmente com o diálogo e com a meditação. Numa época de áspero anticlericalismo e de manifestações inflamadas contra o Papa, Leão XIII soube guiar e apoiar os católicos pelo caminho de uma participação construtiva, rica de conteúdos, firme sobre os princípios e capaz de abertura. Logo após a Rerum novarum verificou-se na Itália e noutros países uma autêntica explosão de iniciativas: associações, caixas rurais e artesanais, jornais... um vasto "movimento" que teve no servo de Deus Giuseppe Toniolo o iluminado animador. Um Papa muito idoso, mas sábio e clarividente, pôde assim introduzir no século XX uma Igreja rejuvenescida, com a atitude justa para enfrentar os novos desafios. Era um Papa ainda política e fisicamente "aprisionado" no Vaticano, mas na realidade, com o seu Magistério, representava uma Igreja capaz de enfrentar sem complexos as grandes questões da contemporaneidade.
Queridos amigos de Carpineto Romano, não temos tempo para aprofundar estes temas. A Eucaristia que estamos a celebrar, o Sacramento do Amor, recorda-nos o essencial: a caridade, o amor de Cristo que renova os homens e o mundo; isto é o essencial, e vemo-lo bem, quase o sentimos nas expressões de São Paulo na Carta a Filémon. Naquela pequena carta sente-se de facto toda a mansidão e ao mesmo tempo o poder irresistível da caridade, que, como escrevi na minha Encíclica social, Caritas in veritate, é "a principal força propulsora para o verdadeiro desenvolvimento de cada pessoa e de toda a humanidade" (n. 1). Portanto, é com alegria e afecto que vos deixo o mandamento antigo e sempre novo: amai-vos como Cristo nos amou, e com este amor sede sal e luz do mundo. Assim sereis fiéis à herança do vosso grande e venerado Concidadão, o Papa Leão XIII. E assim seja em toda a Igreja! Amém. 

segunda-feira, 6 de setembro de 2010

Aprendamos de Cristo a humildade e a gratuidade

Angelus de domingo 29 de Agosto com os fiéis em Castel Gandolfo 



"Olhemos para Cristo como modelode humildade e de gratuidade: d'Ele aprendamos a paciência nas tentações, a mansidão nas ofensas, a obediência a Deus no sofrimento". Ressaltou o Papa durante o Angelus de domingo, 29 de Agosto, recitado com os fiéis em Castel Gandolfo.
No Evangelho deste domingo (cf. Lc 14, 1.7-14), encontramos Jesus hóspede na casa de um chefe dos fariseus. Observando que os convidados escolhiam os primeiros lugares à mesa, Ele contou uma parábola, ambientada num banquete nupcial. "Quando fores convidado para um banquete nupcial, não ocupes o primeiro lugar, não tenha sido convidado alguém mais digno do que tu, e venha o que vos convidou, a ti e ao outro, e te diga: "Cede a este o teu lugar"... Quando fores convidado, vai-te sentar no último lugar" (Lc 14, 8-10). O Senhor não pretende dar uma lição sobre boas maneiras, nem sobre a hierarquia entre as diversas autoridades. Mas ele insiste sobre um ponto decisivo, que é o da humanidade: "Todo aquele que se exalta será humilhado, e o que se humilha será exaltado" (Lc 14, 11). Esta parábola, num significado mais profundo, faz pensar também na posição do homem em relação a Deus. O "último lugar" pode representar de facto a condição da humanidade degradada pelo pecado, condição da qual só a encarnação do Filho Unigénito a pode elevar. Por isto o próprio Cristo "ocupou o último lugar no mundo - a cruz - e, precisamente com esta humildade radical, nos redimiu e ajuda sem cessar" (Enc. Deus caritas est, 35).
No final da parábola Jesus sugere ao chefe dos fariseus que convide à sua mesa não os amigos, os parentes ou os vizinhos ricos, mas as pessoas mais pobres e marginalizadas, que não têm modo de retribuir (cf. Lc 14, 13-14), para que o dom seja gratuito. De facto, a verdadeira recompensa, no final, dá-la-á Deus "quem governa o mundo... Nós prestamos-lhe apenas o nosso serviço por quanto podemos e até onde nos dá a força" (Enc. Deus caritas est, 35). Por conseguinte, mais uma vez olhamos para Cristo como modelo de humildade e de gratuidade: d'Ele aprendemos a paciência nas tentações, a mansidão nas ofensas, a obediência a Deus nos padecimentos, na expectativa que Aquele que nos enviou nos diga: "sobe mais para cima" (Lc 14, 10); de facto, o verdadeiro bem é estar próximo d'Ele. São Luís IX, rei da França, cuja memória foi celebrada na quarta-feira passada - pôs em prática quanto está escrito no Livro de Ben Sira: "Quanto maior fores, mais te deverás humilhar, acharás misericórdia diante do Senhor" (3, 18). Assim escrevia ele no seu "Testamento espiritual ao filho": "Se o Senhor te der alguma prosperidade, não só lhe deverás agradecer com humildade, mas presta bem atenção a não te tornares pior por vanglória ou por outra forma qualquer, isto é, preocupa-te por não entrar em contraste com Deus ou ofendê-lo com os seus próprios dons" (Acta Sanctorum Augusti, 5 [1868], 546).
Queridos amigos, recordamos hoje também o martírio de São João Baptista, o maior dos profetas de Cristo, que soube renegar-se a si mesmo para dar espaço ao Salvador, e sofreu e morreu pela verdade. Peçamos a ele e à Virgem que nos guiem pelo caminho da humildade, para nos tornarmos dignos da recompensa divina. 

domingo, 5 de setembro de 2010

WebTVCN

WebTVCN

ASPECTOS SOCIAIS DO ABORTO

Elizabeth Kipman Cerqueira

Alcance do Problema do aborto ultrapassa
enormemente os casos particulares apresentados na
mídia.
É preciso que pesquisemos a que se refere, na realidade,
a liberação do aborto o que acaba nos conduzindo ao
questionamento quanto à existência de um processo
que, sem dúvida, conduz ao aborto livre. Processo de
alcance mundial.
Não há dúvida de que são extremamente dolorosos os
casos de gestação decorrente do estupro, a gestação de
uma criança com malformações ou, mesmo, uma
gestação não desejada por qualquer que seja o motivo.
A mulher se sente desprotegida, “obrigada” a levar
adiante uma gestação que a “invadiu” sem que ela
quisesse ou da forma como ela não desejava.
Entretanto, deve ficar muito claro, que o direito à vida
uma vez agredido, abre uma brecha na estrutura de toda
a sociedade que passa de concessão em concessão a
entregar os valores que a estruturam e a mobilizam ao
desenvolvimento.
A mulher deve ser profundamente acolhida, amparada,
apoiada, compreendida. O homem deve ser responsável
com ela quanto à gestação indesejada. O aborto
simplesmente o exime da responsabilidade e a sociedade
deve educá-los e se organizar para uma cultura
masculina que assuma que o filho gerado é gerado pelo
homem e pela mulher. A grande maioria das mulheres
que realizam o aborto clandestino em um país em que
ele não é legalizado, o faz por experimentar o desespero
em uma situação aparentemente sem saída. O aborto
parece ser a única solução. Mas, muitas mães
reconhecem que se houvesse o aborto livre, teriam
apelado para ele e que, não o fazendo, houve tempo
para encontrar o encaminhamento pessoal de outra
forma. As famílias, as comunidades, os vizinhos, o
poder público, as diversas igrejas e ONGs devem
assumir a responsabilidade de apoiar cada mãe com a
gestação indesejada. Há necessidade de políticas que
valorizem realmente a mulher.
O aborto constitui mais uma agressão sobre a mulher
acrescentando riscos para a sua saúde e,
absolutamente, não resolve nada nem nas situações de
real sofrimento, conforme já sobejamente comprovado o
que é, infelizmente, pouco divulgado pela mídia. Além
disso, não há como se relativizar a inviolabilidade da
vida de um ser humano comprovadamente inocente e
em desenvolvimento. É fato que repugna e por isso, os
promotores do aborto até consideram “criminoso”
apresentar a realidade crua dos abortos à população.
Entretanto, diversas forças se unem defendendo a
liberação do aborto. Há os que insistem na necessidade
do controle da população para que se alcance, pelo
menos, o crescimento zero. Há os ecologistas que não
acreditam na “educação da humanidade” para respeitar
o meio ambiente. Há as feministas que consideram o
aborto indispensável para a autonomia e valorização da
mulher. Há diferentes correntes eugênicas que desejam
“melhorar” a espécie humana eliminando os deficientes
e os menos capazes. Há, sobretudo, aqueles que
buscam manipular os rumos da história para crescer na
manutenção do controle mundial através da poder
econômico e técnico. A não ser para pessoas de boa fé
que desconhecem todos os aspectos do problema, os
casos individuais pouco importam a estes interesses
maiores, a não ser para comover a opinião pública.
Sobretudo após a II Guerra Mundial, organizações
internacionais crescem na promoção ao aborto livre e
procuram envolver as Nações Unidas no processo. Com
a fundação do Population Council por Jonh Rockfeller
em 1952, cresceram os esforços para envolver as
Nações Unidas neste processo. A estratégia adotada a
partir de 1996 foi a de reinterpretar os direitos humanos
fundamentais de modo a incluir o aborto entre eles. Isto
levaria à substituição gradativa dos direitos humanos
universalmente aceitos a partir do primeiro direito à vida
e o país que não legalizasse o aborto como um direito
poderia ser denunciado como violadores dos direitos
humanos de seus povos e excluídos da ONU. (Ver
htpp://www.realwomenca.com/newsletter 1998 Set Oct/
article 2.html http://www.unfpa.org/intercenter/
reprights/glen.htm)
As conseqüências sociais do aborto são amplas e
profundas. Apresentemos algumas delas:

Manifestação à embaixada da Espanha em defesa da vida


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A criança não nascida está em grande risco na Espanha. Apesar das expressivasmanifestações populares, que chegaram a levar milhões de pessoas às ruas de Madri , foi aprovada uma lei do aborto praticamente “a pedido”, incluída a autorização a que meninas de 16 anos abortem sem o conhecimento dos pais. Também se obriga as escolas de Medicina a que ensinem a se fazer o aborto, o que já levou diversas Universidades a se posicionarem, indicando que não cumprirão essa exigência.
Diante disso, os movimentos pró-vida espanhóis entraram com um recurso de inconstitucionalidade que deve ser julgado em 3 dias, antes da entrada em vigor da lei, marcada para a próxima semana. E estão pedindo apoio internacional. Diversos países marcaram vigílias.
A nossa opção está sendo a de fazermos uma manifestação virtual. Vamos todos escrever à Embaixada da Espanha, e espalhar pelas redes o nosso protesto, pedindo o respeito ao nascituro na Espanha.

Aborto e células-tronco: Vaticano estuda temas e lançará documentos


L'Osservatore Romano
(tradução de Leonardo Meira - equipe CN Notícias)


Arquivo / AP
Monsenhor Ignacio Carrasco de Paula durante coletiva de imprensa no Vaticano, em fevereiro de 2009
O uso indiscriminado de RU486, a pílula que provoca o aborto, além de espalhar um instrumento de morte dos inocentes, pode facilitar o aparecimento de uma grave síndrome pós-aborto, já diagnosticada em mulheres armênias por uma equipe de médicos do Policlínico Gemelli (hospital com sede em Roma), qual seja, o costume à prática do aborto, que acaba por ser entendida como ir tomar um café.

"Facilitar o uso deste pílula significa banalizar o aborto e, então, transformar a gravidez indesejada quase que em um irritante resfriado, a se eliminar com o comprimido", denuncia
monsenhor Ignacio Carrasco de Paula, nomeado no dia 30 de junho como sucessor do Arcebispo Rino Fisichella no comando da Pontifícia Academia para a Vida, em uma entrevista ao jornal oficial do Vaticano L'Osservatore Romano.
A Pontifícia Academia já iniciou um estudo detalhado sobre a crise pós-aborto e os resultados serão compilados em um documento cuja publicação está prevista para o próximo ano. No entanto, essa não é a única novidade. Monsenhor Carrasco de Paula falou sobre outros detalhes nesta entrevista.

L'Osservatore Romano: De certa forma, o senhor representa a história da Pontifícia Academia para a Vida, sendo um de seus pioneiros.
Monsenhor Ignacio Carrasco de Paula: Efetivamente, o Cardeal Angelini realmente me chamou a fazer parte da Academia em 11 de fevereiro de 1994, quando ela foi instituída por João Paulo II. Claro que, então, nunca imaginaria que um dia eu mesmo teria de conduzi-la. Vi, então, os primeiros passos da Academia, sob o olhar atento do Pontifício Conselho para a Pastoral da Saúde. No princípio, foi confiada ao professor Jérôme Jean Louis Marie Lejeune, que não pôde assumir o encargo, pois morreu em 3 de abril daquele mesmo ano. Era um homem extraordinário. Não somente um grande cientista: era, sobretudo, um cristão coerente com a sua fé e um grande servidor da Igreja. Sigo com atenção o processo da sua causa de beatificação. Vinte e seis anos se passaram desde aqueles dias e agora, para mim, abre-se um novo ciclo, que também parece, em alguns aspectos, ser a conclusão de uma parábola.

L'Osservatore Romano: Qual foi o caminho destes anos?

Monsenhor Ignacio: 
Sucederam-se diversos presidentes, eu sou o quinto: após Lejeune, foi a vez do chileno Juan de Dios Vial Correa, monsenhor Elio Sgreccia e, pois, o meu predecessor imediato, o Arcebispo Rino Fisichella. O caminho feito até hoje pode ser comparado ao crescimento de uma pessoa humana. Mais do que tudo, tratou-se de um amadurecimento interno. Com o passar do tempo, a nossa missão, o nosso modo de trabalhar refinou-se.

L'Osservatore Romano: Em que sentido?

Monsenhor Ignacio: 
No início, era urgente difundir uma imagem precisa de qual fosse, nas intenções do Papa, o papel de uma Academia para a Vida. Era o período da revolução da biotecnologia; a engenharia genética fazia sempre novas conquistas e havia sempre novos desafios a se afrontar. O Papa desejou reunir em torno dele um grupo de especialistas nas diversas disciplinas para estudar os problemas relativos à promoção e à defesa da vida humana e da dignidade da pessoa humana, antes de tudo para promover a cultura da vida em conformidade com o Magistério. O único modo de fazer-nos conhecer era a organização de diversos congressos sobre temas específicos. Nós organizamos muitos. Então, gradualmente, tornamo-nos um instrumento de estudo e aprofundamento a serviço do Papa, de todos os organismos da Santa Sé, da Igreja universal. Por exemplo, quando os mídia lançaram a notícia de que se havia criado vida em um laboratório, abordamos o tema em profundidade, não tanto para julgar os outros, mas mais que tudo para procurar compreender os aspectos científicos e avaliar a sua ética. Uma vez concluído o aprofundamento, colocamos os resultados do estudo à disposição dos dicastérios do Vaticano.

L'Osservatore Romano: E atualmente, em que estão trabalhando?

Monsenhor Ignacio: 
Estamos trabalhando, por exemplo, na questão dos bancos de cordão umbilical. Trata-se de uma questão muito importante e delicada porque diz respeito a problemas ligados ao uso de células-tronco (estaminais). Os cordões umbilicais contêm efetivamente células estaminais ética e eficazmente utilizáveis. Mas não é isso que nos interessa no momento. A reflexão diz respeito à conservação. A quem pertence esta tarefa? Deve ser uma instituição pública a fazê-lo ou podem fazer isso também as entidades privadas? E, nesse caso, que tipo de controle ético deve ser exercido? Quais problemas comportam, do ponto de vista econômico, social e político? Como garantir que se trata de um benefício para toda a humanidade e não somente um privilégio para poucos? Como pode-se perceber, é um assunto muito importante que, portanto, requer um estudo detalhado.

Nós já o começamos há algum tempo, com um pequeno grupo de especialistas. Mas, neste momento, sentimos a necessidade de ampliar o número de estudiosos em torno desta temática muito atual, porque temos a intenção de concluir o estudo até o final do ano. Além disso, já abordamos o tema das células-tronco em uma conferência no ano passado, que teve muito êxito, mas deixou em aberto algumas questões. O tema incidia sobre o uso de células-tronco adultas. Foram destacadas as suas enormes potencialidades, seguramente superiores e comprovadas que as das derivadas de embriões. Todavia, como repito, ainda há questões que devem ser aprofundadas e bem pesquisadas. Isso é o que estamos fazendo.

L'Osservatore Romano: É de se esperar, portanto, um documento da Pontifícia Academia para a Vida sobre células-tronco até o final de 2010?

Monsenhor Ignacio:
 Não, não até o final de 2010. Nós pensamos em termos de ano acadêmico; portanto, podemos nos referir a um período que vai do próximo Outono [europeu - mês de setembro] até o início de outubro de 2011.

L'Osservatore Romano: Esse é, no momento, o único assunto no qual estão trabalhando?

Monsenhor Ignacio: 
Há uma longa lista de compromissos. Aquilo que consideramos urgente e importante neste momento diz respeito à assim chamada síndrome pós-aborto. Afeta muitas mulheres após o aborto e é conhecida há tanto tempo, mas é pouco discutida publicamente e não se tenta chegar a quaisquer indicações. Dar indicações é o que estamos tentando fazer com o nosso trabalho. Esperamos disponibilizá-las em pouco tempo. Não me peça para quantificar, pois é uma questão delicada. Somente posso dizer que estamos bem avançados.

L'Osservatore Romano: Em que está concentrada a atenção desse estudo?

Monsenhor Ignacio:
 Acreditamos que, no estudo desta matéria, deva-se fazer uma distinção. Há, certamente, um aspecto da síndrome pós-aborto muito conhecido e em torno do qual já se desenvolveu uma ampla discussão com a relativa literatura. Refiro-me ao estado de depressão que assola muitas mulheres que praticam o aborto. Às vezes, pode ocorrer também com estados de ansiedade ou sob formas mais graves. Estamos tentando aprofundar esses contornos. É certo que o aborto, além de matar um homem inocente, afeta profundamente a consciência da mulher que o pratica. Assim, é uma questão que não pode ser ignorada, especialmente a partir do ponto de vista pastoral.

Há, pois, outro aspecto a se considerar nessas patologias, que, para nós, é muito mais perigoso. Fala-se pouco sobre ele e, por conseguinte, preocupa menos a opinião pública, mas também aquela científica. É o grave problema do costume à prática do aborto. O problema já nos é proposto em toda a sua gravidade há cerca de vinte anos, quando, após o terremoto que devastou a Armênia (aquele de 1998), uma equipe de médicos do Policlínico Gemelli, da Università Cattolica del Sacro Cuore, ofereceu-se voluntariamente para ajudar as populações afetadas e constatou que muitíssimas mulheres já haviam abortado mais de vinte vezes. E, para elas, abortar havia se tornado um hábito como ir tomar um café. Os médicos falaram acerca de um fenômeno dramático de completo cancelamento da sensibilidade moral quando se tratava de abortar. Um drama ao qual a recente comercialização da pílula RU486 pode expor as populações europeias.

Não há dúvida de que facilitar a prática pode significar a banalização do aborto e, então, transformar a gravidez indesejada quase como que em um irritante resfriado, a se eliminar com o comprimido. Desejo dizer que, tudo o que aconteceu nestes Países, pode facilmente acontecer nos europeus. Por isso, estamos pensando em um documento de aprofundamento. Quando se fala de aborto, infelizmente, provocam-se tantas problemáticas que suscitam sempre um debate acalorado, por vezes também no interior do mundo católico.

L'Osservatore Romano: Como se pretende difundir esse estudo?

Monsenhor Ignacio:
 Buscaremos informar as pessoas sobre esse risco; daremos, além disso, referências muito precisas. No que diz respeito, pois, às indicações pastorais, há organismos mais competentes que os nossos. Daremos-lhes toda a nossa cooperação. Para informar e fornecer pontos de referência científica. Esse é o papel da Pontifícia Academia. Buscaremos ir sempre além da polêmica para refletir sobre todos os aspectos singulares desse assunto, ainda que incômodo de se afrontar. E o debate, interno ou externo, não nos assusta, mas nos enriquece.

L'Osservatore Romano: Poderia nos dar previsões?

Monsenhor Ignacio: 
Também neste caso é impossível. Estamos trabalhando nisso há muito tempo. Se deverá esperar, portanto, neste caso, pelo menos até o final do ano letivo.

L'Osservatore Romano: Então, não esperamos nada para logo?

Monsenhor Ignacio:
 Temos uma longa lista de assuntos a se abordar e é possível que alguns sejam concluídos em breve. Mas ainda é cedo para dizer quais. Acredito que temos cerca de setenta colaboradores mais assíduos, e a possibilidade de constatar tantos outros a qualquer momento. Então, trata-se somente de escolhas a se fazer em função das necessidades que são expressas.

L'Osservatore Romano: Nos últimos tempos, por exemplo, muito se falou também sobre o fim da vida e sobre todas as problemáticas a isso relacionadas. Pode ser uma urgência?

Monsenhor Ignacio: 
É um argumento muito delicado, sobre o qual é preciso lançar luz rapidamente, assim como foi feito com relação à eutanásia. Entretanto, hoje se fala cada vez menos da eutanásia, ou pelo menos não se fala mais tanto. Mas não porque a ideia de eutanásia tenha perdido força, mas sim que a linguagem foi transformada. Então, falamos sobre a suspensão dos meios de subsistência vital, de colocar fim à alimentação, à hidratação artificial, de ordenar a suspensão do tratamento. E muita confusão persiste sobre a individualização do momento exato do fim da vida: quando o coração para de bater? A morte cerebral? Para dar uma resposta a esses importantes elementos, é necessário refletir, estudar, aprofundar sobre bases científicas, mas também sobre bases éticas, morais e naturais. E tudo isso requer um estudo muito, muito cuidadoso e escrupuloso. O trabalho já está em andamento há algum tempo, trata-se de continuar.
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