L'Osservatore Romano
(tradução de Leonardo Meira - equipe CN Notícias)
Arquivo / AP
Monsenhor Ignacio Carrasco de Paula durante coletiva de imprensa no Vaticano, em fevereiro de 2009
O uso indiscriminado de RU486, a pílula que provoca o aborto, além de espalhar um instrumento de morte dos inocentes, pode facilitar o aparecimento de uma grave síndrome pós-aborto, já diagnosticada em mulheres armênias por uma equipe de médicos do Policlínico Gemelli (hospital com sede em Roma), qual seja, o costume à prática do aborto, que acaba por ser entendida como ir tomar um café.
"Facilitar o uso deste pílula significa banalizar o aborto e, então, transformar a gravidez indesejada quase que em um irritante resfriado, a se eliminar com o comprimido", denunciamonsenhor Ignacio Carrasco de Paula, nomeado no dia 30 de junho como sucessor do Arcebispo Rino Fisichella no comando da Pontifícia Academia para a Vida, em uma entrevista ao jornal oficial do Vaticano L'Osservatore Romano.
A Pontifícia Academia já iniciou um estudo detalhado sobre a crise pós-aborto e os resultados serão compilados em um documento cuja publicação está prevista para o próximo ano. No entanto, essa não é a única novidade. Monsenhor Carrasco de Paula falou sobre outros detalhes nesta entrevista.
L'Osservatore Romano: De certa forma, o senhor representa a história da Pontifícia Academia para a Vida, sendo um de seus pioneiros.
Monsenhor Ignacio Carrasco de Paula: Efetivamente, o Cardeal Angelini realmente me chamou a fazer parte da Academia em 11 de fevereiro de 1994, quando ela foi instituída por João Paulo II. Claro que, então, nunca imaginaria que um dia eu mesmo teria de conduzi-la. Vi, então, os primeiros passos da Academia, sob o olhar atento do Pontifício Conselho para a Pastoral da Saúde. No princípio, foi confiada ao professor Jérôme Jean Louis Marie Lejeune, que não pôde assumir o encargo, pois morreu em 3 de abril daquele mesmo ano. Era um homem extraordinário. Não somente um grande cientista: era, sobretudo, um cristão coerente com a sua fé e um grande servidor da Igreja. Sigo com atenção o processo da sua causa de beatificação. Vinte e seis anos se passaram desde aqueles dias e agora, para mim, abre-se um novo ciclo, que também parece, em alguns aspectos, ser a conclusão de uma parábola.
L'Osservatore Romano: Qual foi o caminho destes anos?
Monsenhor Ignacio: Sucederam-se diversos presidentes, eu sou o quinto: após Lejeune, foi a vez do chileno Juan de Dios Vial Correa, monsenhor Elio Sgreccia e, pois, o meu predecessor imediato, o Arcebispo Rino Fisichella. O caminho feito até hoje pode ser comparado ao crescimento de uma pessoa humana. Mais do que tudo, tratou-se de um amadurecimento interno. Com o passar do tempo, a nossa missão, o nosso modo de trabalhar refinou-se.
L'Osservatore Romano: Em que sentido?
Monsenhor Ignacio: No início, era urgente difundir uma imagem precisa de qual fosse, nas intenções do Papa, o papel de uma Academia para a Vida. Era o período da revolução da biotecnologia; a engenharia genética fazia sempre novas conquistas e havia sempre novos desafios a se afrontar. O Papa desejou reunir em torno dele um grupo de especialistas nas diversas disciplinas para estudar os problemas relativos à promoção e à defesa da vida humana e da dignidade da pessoa humana, antes de tudo para promover a cultura da vida em conformidade com o Magistério. O único modo de fazer-nos conhecer era a organização de diversos congressos sobre temas específicos. Nós organizamos muitos. Então, gradualmente, tornamo-nos um instrumento de estudo e aprofundamento a serviço do Papa, de todos os organismos da Santa Sé, da Igreja universal. Por exemplo, quando os mídia lançaram a notícia de que se havia criado vida em um laboratório, abordamos o tema em profundidade, não tanto para julgar os outros, mas mais que tudo para procurar compreender os aspectos científicos e avaliar a sua ética. Uma vez concluído o aprofundamento, colocamos os resultados do estudo à disposição dos dicastérios do Vaticano.
L'Osservatore Romano: E atualmente, em que estão trabalhando?
Monsenhor Ignacio: Estamos trabalhando, por exemplo, na questão dos bancos de cordão umbilical. Trata-se de uma questão muito importante e delicada porque diz respeito a problemas ligados ao uso de células-tronco (estaminais). Os cordões umbilicais contêm efetivamente células estaminais ética e eficazmente utilizáveis. Mas não é isso que nos interessa no momento. A reflexão diz respeito à conservação. A quem pertence esta tarefa? Deve ser uma instituição pública a fazê-lo ou podem fazer isso também as entidades privadas? E, nesse caso, que tipo de controle ético deve ser exercido? Quais problemas comportam, do ponto de vista econômico, social e político? Como garantir que se trata de um benefício para toda a humanidade e não somente um privilégio para poucos? Como pode-se perceber, é um assunto muito importante que, portanto, requer um estudo detalhado.
Nós já o começamos há algum tempo, com um pequeno grupo de especialistas. Mas, neste momento, sentimos a necessidade de ampliar o número de estudiosos em torno desta temática muito atual, porque temos a intenção de concluir o estudo até o final do ano. Além disso, já abordamos o tema das células-tronco em uma conferência no ano passado, que teve muito êxito, mas deixou em aberto algumas questões. O tema incidia sobre o uso de células-tronco adultas. Foram destacadas as suas enormes potencialidades, seguramente superiores e comprovadas que as das derivadas de embriões. Todavia, como repito, ainda há questões que devem ser aprofundadas e bem pesquisadas. Isso é o que estamos fazendo.
L'Osservatore Romano: É de se esperar, portanto, um documento da Pontifícia Academia para a Vida sobre células-tronco até o final de 2010?
Monsenhor Ignacio: Não, não até o final de 2010. Nós pensamos em termos de ano acadêmico; portanto, podemos nos referir a um período que vai do próximo Outono [europeu - mês de setembro] até o início de outubro de 2011.
L'Osservatore Romano: Esse é, no momento, o único assunto no qual estão trabalhando?
Monsenhor Ignacio: Há uma longa lista de compromissos. Aquilo que consideramos urgente e importante neste momento diz respeito à assim chamada síndrome pós-aborto. Afeta muitas mulheres após o aborto e é conhecida há tanto tempo, mas é pouco discutida publicamente e não se tenta chegar a quaisquer indicações. Dar indicações é o que estamos tentando fazer com o nosso trabalho. Esperamos disponibilizá-las em pouco tempo. Não me peça para quantificar, pois é uma questão delicada. Somente posso dizer que estamos bem avançados.
L'Osservatore Romano: Em que está concentrada a atenção desse estudo?
Monsenhor Ignacio: Acreditamos que, no estudo desta matéria, deva-se fazer uma distinção. Há, certamente, um aspecto da síndrome pós-aborto muito conhecido e em torno do qual já se desenvolveu uma ampla discussão com a relativa literatura. Refiro-me ao estado de depressão que assola muitas mulheres que praticam o aborto. Às vezes, pode ocorrer também com estados de ansiedade ou sob formas mais graves. Estamos tentando aprofundar esses contornos. É certo que o aborto, além de matar um homem inocente, afeta profundamente a consciência da mulher que o pratica. Assim, é uma questão que não pode ser ignorada, especialmente a partir do ponto de vista pastoral.
Há, pois, outro aspecto a se considerar nessas patologias, que, para nós, é muito mais perigoso. Fala-se pouco sobre ele e, por conseguinte, preocupa menos a opinião pública, mas também aquela científica. É o grave problema do costume à prática do aborto. O problema já nos é proposto em toda a sua gravidade há cerca de vinte anos, quando, após o terremoto que devastou a Armênia (aquele de 1998), uma equipe de médicos do Policlínico Gemelli, da Università Cattolica del Sacro Cuore, ofereceu-se voluntariamente para ajudar as populações afetadas e constatou que muitíssimas mulheres já haviam abortado mais de vinte vezes. E, para elas, abortar havia se tornado um hábito como ir tomar um café. Os médicos falaram acerca de um fenômeno dramático de completo cancelamento da sensibilidade moral quando se tratava de abortar. Um drama ao qual a recente comercialização da pílula RU486 pode expor as populações europeias.
Não há dúvida de que facilitar a prática pode significar a banalização do aborto e, então, transformar a gravidez indesejada quase como que em um irritante resfriado, a se eliminar com o comprimido. Desejo dizer que, tudo o que aconteceu nestes Países, pode facilmente acontecer nos europeus. Por isso, estamos pensando em um documento de aprofundamento. Quando se fala de aborto, infelizmente, provocam-se tantas problemáticas que suscitam sempre um debate acalorado, por vezes também no interior do mundo católico.
L'Osservatore Romano: Como se pretende difundir esse estudo?
Monsenhor Ignacio: Buscaremos informar as pessoas sobre esse risco; daremos, além disso, referências muito precisas. No que diz respeito, pois, às indicações pastorais, há organismos mais competentes que os nossos. Daremos-lhes toda a nossa cooperação. Para informar e fornecer pontos de referência científica. Esse é o papel da Pontifícia Academia. Buscaremos ir sempre além da polêmica para refletir sobre todos os aspectos singulares desse assunto, ainda que incômodo de se afrontar. E o debate, interno ou externo, não nos assusta, mas nos enriquece.
L'Osservatore Romano: Poderia nos dar previsões?
Monsenhor Ignacio: Também neste caso é impossível. Estamos trabalhando nisso há muito tempo. Se deverá esperar, portanto, neste caso, pelo menos até o final do ano letivo.
L'Osservatore Romano: Então, não esperamos nada para logo?
Monsenhor Ignacio: Temos uma longa lista de assuntos a se abordar e é possível que alguns sejam concluídos em breve. Mas ainda é cedo para dizer quais. Acredito que temos cerca de setenta colaboradores mais assíduos, e a possibilidade de constatar tantos outros a qualquer momento. Então, trata-se somente de escolhas a se fazer em função das necessidades que são expressas.
L'Osservatore Romano: Nos últimos tempos, por exemplo, muito se falou também sobre o fim da vida e sobre todas as problemáticas a isso relacionadas. Pode ser uma urgência?
Monsenhor Ignacio: É um argumento muito delicado, sobre o qual é preciso lançar luz rapidamente, assim como foi feito com relação à eutanásia. Entretanto, hoje se fala cada vez menos da eutanásia, ou pelo menos não se fala mais tanto. Mas não porque a ideia de eutanásia tenha perdido força, mas sim que a linguagem foi transformada. Então, falamos sobre a suspensão dos meios de subsistência vital, de colocar fim à alimentação, à hidratação artificial, de ordenar a suspensão do tratamento. E muita confusão persiste sobre a individualização do momento exato do fim da vida: quando o coração para de bater? A morte cerebral? Para dar uma resposta a esses importantes elementos, é necessário refletir, estudar, aprofundar sobre bases científicas, mas também sobre bases éticas, morais e naturais. E tudo isso requer um estudo muito, muito cuidadoso e escrupuloso. O trabalho já está em andamento há algum tempo, trata-se de continuar.
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"Facilitar o uso deste pílula significa banalizar o aborto e, então, transformar a gravidez indesejada quase que em um irritante resfriado, a se eliminar com o comprimido", denunciamonsenhor Ignacio Carrasco de Paula, nomeado no dia 30 de junho como sucessor do Arcebispo Rino Fisichella no comando da Pontifícia Academia para a Vida, em uma entrevista ao jornal oficial do Vaticano L'Osservatore Romano.
A Pontifícia Academia já iniciou um estudo detalhado sobre a crise pós-aborto e os resultados serão compilados em um documento cuja publicação está prevista para o próximo ano. No entanto, essa não é a única novidade. Monsenhor Carrasco de Paula falou sobre outros detalhes nesta entrevista.
L'Osservatore Romano: De certa forma, o senhor representa a história da Pontifícia Academia para a Vida, sendo um de seus pioneiros.
Monsenhor Ignacio Carrasco de Paula: Efetivamente, o Cardeal Angelini realmente me chamou a fazer parte da Academia em 11 de fevereiro de 1994, quando ela foi instituída por João Paulo II. Claro que, então, nunca imaginaria que um dia eu mesmo teria de conduzi-la. Vi, então, os primeiros passos da Academia, sob o olhar atento do Pontifício Conselho para a Pastoral da Saúde. No princípio, foi confiada ao professor Jérôme Jean Louis Marie Lejeune, que não pôde assumir o encargo, pois morreu em 3 de abril daquele mesmo ano. Era um homem extraordinário. Não somente um grande cientista: era, sobretudo, um cristão coerente com a sua fé e um grande servidor da Igreja. Sigo com atenção o processo da sua causa de beatificação. Vinte e seis anos se passaram desde aqueles dias e agora, para mim, abre-se um novo ciclo, que também parece, em alguns aspectos, ser a conclusão de uma parábola.
L'Osservatore Romano: Qual foi o caminho destes anos?
Monsenhor Ignacio: Sucederam-se diversos presidentes, eu sou o quinto: após Lejeune, foi a vez do chileno Juan de Dios Vial Correa, monsenhor Elio Sgreccia e, pois, o meu predecessor imediato, o Arcebispo Rino Fisichella. O caminho feito até hoje pode ser comparado ao crescimento de uma pessoa humana. Mais do que tudo, tratou-se de um amadurecimento interno. Com o passar do tempo, a nossa missão, o nosso modo de trabalhar refinou-se.
L'Osservatore Romano: Em que sentido?
Monsenhor Ignacio: No início, era urgente difundir uma imagem precisa de qual fosse, nas intenções do Papa, o papel de uma Academia para a Vida. Era o período da revolução da biotecnologia; a engenharia genética fazia sempre novas conquistas e havia sempre novos desafios a se afrontar. O Papa desejou reunir em torno dele um grupo de especialistas nas diversas disciplinas para estudar os problemas relativos à promoção e à defesa da vida humana e da dignidade da pessoa humana, antes de tudo para promover a cultura da vida em conformidade com o Magistério. O único modo de fazer-nos conhecer era a organização de diversos congressos sobre temas específicos. Nós organizamos muitos. Então, gradualmente, tornamo-nos um instrumento de estudo e aprofundamento a serviço do Papa, de todos os organismos da Santa Sé, da Igreja universal. Por exemplo, quando os mídia lançaram a notícia de que se havia criado vida em um laboratório, abordamos o tema em profundidade, não tanto para julgar os outros, mas mais que tudo para procurar compreender os aspectos científicos e avaliar a sua ética. Uma vez concluído o aprofundamento, colocamos os resultados do estudo à disposição dos dicastérios do Vaticano.
L'Osservatore Romano: E atualmente, em que estão trabalhando?
Monsenhor Ignacio: Estamos trabalhando, por exemplo, na questão dos bancos de cordão umbilical. Trata-se de uma questão muito importante e delicada porque diz respeito a problemas ligados ao uso de células-tronco (estaminais). Os cordões umbilicais contêm efetivamente células estaminais ética e eficazmente utilizáveis. Mas não é isso que nos interessa no momento. A reflexão diz respeito à conservação. A quem pertence esta tarefa? Deve ser uma instituição pública a fazê-lo ou podem fazer isso também as entidades privadas? E, nesse caso, que tipo de controle ético deve ser exercido? Quais problemas comportam, do ponto de vista econômico, social e político? Como garantir que se trata de um benefício para toda a humanidade e não somente um privilégio para poucos? Como pode-se perceber, é um assunto muito importante que, portanto, requer um estudo detalhado.
Nós já o começamos há algum tempo, com um pequeno grupo de especialistas. Mas, neste momento, sentimos a necessidade de ampliar o número de estudiosos em torno desta temática muito atual, porque temos a intenção de concluir o estudo até o final do ano. Além disso, já abordamos o tema das células-tronco em uma conferência no ano passado, que teve muito êxito, mas deixou em aberto algumas questões. O tema incidia sobre o uso de células-tronco adultas. Foram destacadas as suas enormes potencialidades, seguramente superiores e comprovadas que as das derivadas de embriões. Todavia, como repito, ainda há questões que devem ser aprofundadas e bem pesquisadas. Isso é o que estamos fazendo.
L'Osservatore Romano: É de se esperar, portanto, um documento da Pontifícia Academia para a Vida sobre células-tronco até o final de 2010?
Monsenhor Ignacio: Não, não até o final de 2010. Nós pensamos em termos de ano acadêmico; portanto, podemos nos referir a um período que vai do próximo Outono [europeu - mês de setembro] até o início de outubro de 2011.
L'Osservatore Romano: Esse é, no momento, o único assunto no qual estão trabalhando?
Monsenhor Ignacio: Há uma longa lista de compromissos. Aquilo que consideramos urgente e importante neste momento diz respeito à assim chamada síndrome pós-aborto. Afeta muitas mulheres após o aborto e é conhecida há tanto tempo, mas é pouco discutida publicamente e não se tenta chegar a quaisquer indicações. Dar indicações é o que estamos tentando fazer com o nosso trabalho. Esperamos disponibilizá-las em pouco tempo. Não me peça para quantificar, pois é uma questão delicada. Somente posso dizer que estamos bem avançados.
L'Osservatore Romano: Em que está concentrada a atenção desse estudo?
Monsenhor Ignacio: Acreditamos que, no estudo desta matéria, deva-se fazer uma distinção. Há, certamente, um aspecto da síndrome pós-aborto muito conhecido e em torno do qual já se desenvolveu uma ampla discussão com a relativa literatura. Refiro-me ao estado de depressão que assola muitas mulheres que praticam o aborto. Às vezes, pode ocorrer também com estados de ansiedade ou sob formas mais graves. Estamos tentando aprofundar esses contornos. É certo que o aborto, além de matar um homem inocente, afeta profundamente a consciência da mulher que o pratica. Assim, é uma questão que não pode ser ignorada, especialmente a partir do ponto de vista pastoral.
Há, pois, outro aspecto a se considerar nessas patologias, que, para nós, é muito mais perigoso. Fala-se pouco sobre ele e, por conseguinte, preocupa menos a opinião pública, mas também aquela científica. É o grave problema do costume à prática do aborto. O problema já nos é proposto em toda a sua gravidade há cerca de vinte anos, quando, após o terremoto que devastou a Armênia (aquele de 1998), uma equipe de médicos do Policlínico Gemelli, da Università Cattolica del Sacro Cuore, ofereceu-se voluntariamente para ajudar as populações afetadas e constatou que muitíssimas mulheres já haviam abortado mais de vinte vezes. E, para elas, abortar havia se tornado um hábito como ir tomar um café. Os médicos falaram acerca de um fenômeno dramático de completo cancelamento da sensibilidade moral quando se tratava de abortar. Um drama ao qual a recente comercialização da pílula RU486 pode expor as populações europeias.
Não há dúvida de que facilitar a prática pode significar a banalização do aborto e, então, transformar a gravidez indesejada quase como que em um irritante resfriado, a se eliminar com o comprimido. Desejo dizer que, tudo o que aconteceu nestes Países, pode facilmente acontecer nos europeus. Por isso, estamos pensando em um documento de aprofundamento. Quando se fala de aborto, infelizmente, provocam-se tantas problemáticas que suscitam sempre um debate acalorado, por vezes também no interior do mundo católico.
L'Osservatore Romano: Como se pretende difundir esse estudo?
Monsenhor Ignacio: Buscaremos informar as pessoas sobre esse risco; daremos, além disso, referências muito precisas. No que diz respeito, pois, às indicações pastorais, há organismos mais competentes que os nossos. Daremos-lhes toda a nossa cooperação. Para informar e fornecer pontos de referência científica. Esse é o papel da Pontifícia Academia. Buscaremos ir sempre além da polêmica para refletir sobre todos os aspectos singulares desse assunto, ainda que incômodo de se afrontar. E o debate, interno ou externo, não nos assusta, mas nos enriquece.
L'Osservatore Romano: Poderia nos dar previsões?
Monsenhor Ignacio: Também neste caso é impossível. Estamos trabalhando nisso há muito tempo. Se deverá esperar, portanto, neste caso, pelo menos até o final do ano letivo.
L'Osservatore Romano: Então, não esperamos nada para logo?
Monsenhor Ignacio: Temos uma longa lista de assuntos a se abordar e é possível que alguns sejam concluídos em breve. Mas ainda é cedo para dizer quais. Acredito que temos cerca de setenta colaboradores mais assíduos, e a possibilidade de constatar tantos outros a qualquer momento. Então, trata-se somente de escolhas a se fazer em função das necessidades que são expressas.
L'Osservatore Romano: Nos últimos tempos, por exemplo, muito se falou também sobre o fim da vida e sobre todas as problemáticas a isso relacionadas. Pode ser uma urgência?
Monsenhor Ignacio: É um argumento muito delicado, sobre o qual é preciso lançar luz rapidamente, assim como foi feito com relação à eutanásia. Entretanto, hoje se fala cada vez menos da eutanásia, ou pelo menos não se fala mais tanto. Mas não porque a ideia de eutanásia tenha perdido força, mas sim que a linguagem foi transformada. Então, falamos sobre a suspensão dos meios de subsistência vital, de colocar fim à alimentação, à hidratação artificial, de ordenar a suspensão do tratamento. E muita confusão persiste sobre a individualização do momento exato do fim da vida: quando o coração para de bater? A morte cerebral? Para dar uma resposta a esses importantes elementos, é necessário refletir, estudar, aprofundar sobre bases científicas, mas também sobre bases éticas, morais e naturais. E tudo isso requer um estudo muito, muito cuidadoso e escrupuloso. O trabalho já está em andamento há algum tempo, trata-se de continuar.
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Michel Maria